sexta-feira, 30 de julho de 2010

Lar Doce Lar



Acho que desde que criei esse blog nunca passei tanto tempo em abstinência de postagem.

Vou escrever hoje sobre o papel da decoração de interiores na vida das pessoas. Como arquiteta que atua no ramo, vejo cada vez mais a distorção de valores no que tange este assunto. As pessoas freqüentemente pensam que PRECISAM disso ou aquilo para serem felizes e como profissional da área está clara a responsabilidade minha e de meus colegas sobre o tema. Afinal de contas, o arquiteto é um formador de opiniões que é contratado para sugerir estilo e bom gosto.

Neste aspecto, desde cedo sempre busquei ter o máximo de cuidado respeitando sempre o gosto do cliente. Sinto que há muitos profissionais que gostam de impor seus gostos nos lares de seus clientes e esquecem de que quem vai habitar aquele local não são eles. Sendo assim, vejo o papel do arquiteto como um harmonizador de estilos, aquele que vai fazer do limão a limonada e conseguir sim encontrar um lugar para aquela peça que para ele pode parecer horrível, mas que é o sonho do seu cliente.

O arquiteto é um realizador de sonhos. É alguém que capta idéias abstratas e difusas, organizando-as em forma de desenho e realizando-as tridimensionalmente através de materiais, móveis, objetos e cores. Além disso, precisa ocupar um pouco o papel de advogado do diabo, mostrando os contras de algumas idéias, para que o cliente desavisado não venha a sofrer as conseqüências de uma escolha ruim no futuro.

O arquiteto é em parte psicólogo também, precisa captar o que aquele cliente deseja e espera, assim como quais as referências de família que o levam a pensar de determinada maneira... É necessário conhecer os hábitos cotidianos mais peculiares para organizar os espaços de forma a tê-los o mais confortável possível.

Como em muitos outros aspectos da vida a mentalidade excessivamente consumista instaurada nas pessoas vem distorcendo todos os parâmetros de felicidade doméstica. Cada vez mais elas acreditam que necessitam ter aquela casa de capa de revistas, reproduzindo-a em ambientes nada funcionais e aconchegantes.

Vejo essas mostras de decoração como um desfile de moda, onde o estilista expõe o máximo de sua criatividade na passarela, para demonstrar seu potencial. Porém dificilmente aquelas roupas podem sair da passarela para as ruas (as pessoas pareceriam no mínimo loucas e, além disso, são peças com caimento ideal para mulheres esqueléticas). O mesmo ocorre em mostras de decoração e as pessoas precisam tomar consciência disso, de que nem sempre o que está exposto é funcional no dia-a-dia.

Existe uma diferença gritante entre estética e conforto e é preciso encontrar o ponto de interseção destes aspectos na criação de um ambiente aconchegante. Afinal, quem não quer poder colocar os pés no sofá ou na mesinha de centro? Outro erro freqüente é moldar a casa em função da visita. Bem, salvo em raros casos ela ocorre tão esporadicamente que não vejo nenhum sentido em abrir mão de qualquer coisa dos moradores em prol de alguém que aparece esporadicamente. Infelizmente, entretanto, muita gente se preocupa mais em mostrar do que ser e para mim é papel do arquiteto fomentar o bem estar não o consumismo desenfreado em prol de uma pseudo-felicidade proveniente de uma estética padronizada.

P.S.: O que aconteceu com o editor de textos do blog?