quinta-feira, 25 de abril de 2013

O mito da gelatina

Esse texto foi publicado no blog da Carol Daemon em 2009 e achei tão bom que resolvi relembrar o tema, reproduzindo-o aqui. Parabéns Carol! =)

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"Gelatina não é recomendada para crianças

Saborosa, colorida, de baixo custo, a gelatina em pó é achada com facilidade em diversos supermercados. Essa sobremesa é uma mistura de corantes artificiais, açúcar e/ou edulcorantes aromatizantes e conservantes. Por contar, porém, com corantes como o amarelo crepúsculo, ela não deveria fazer parte do cardápio infantil. Os adultos podem consumi-la, mas com moderação.

Os esclarecimentos são da Associação Brasileira de Defesa do consumidor (PROTESTE), que avaliou onze pós para gelatina de sabor morango (4 na versão tradicional, 4 na diet e 3 na zero). As marcas pesquisadas foram Bretzke, Doce Menor, Dr. Oetker, Royal e Sol. O excesso de açúcar, de acordo com a Associação, pode favorecer a obesidade infantil. Sugere-se, portanto, às crianças com idade entre 1 e 3 anos, em um lanche, ingerir até 3,9gr. de açúcar. De 4 a 6 anos, no mesmo tipo de refeição, no máximo, 5,4 gr. E para adultos, até 7,5gr.

Na versão tradicional das marcas Bretzke e Sol, a pesquisa demonstrou que há quantidade excessiva de açúcar para crianças e adultos, além da ausência de edulcorantes. A Bretzke, com a mais alta taxa entre as marcas examinadas, apresenta 10,9gr. de açúcar por porção (equivalente a 120gr. ou um copo de gelatina pronta). A Sol contém 8,8gr.. A média das versões tradicionais, além de açúcar, possuem edulcorantes. Não são recomendadas portanto nem para crianças, nem para gestantes.

Em todas as marcas, os corantes Bordeaux S e amarelo crepúsculo estão presentes, com doses bem acima do limite máximo estabelecido. Somente a Dr. Oetker Diet está dentro do limite correto para o Bordeaux S. O amarelo crepúsculo está atrelado à hiperatividade infantil e a outros distúrbios de comportamento em crianças suscetíveis. No Reino Unido, o emprego desse aditivo é proibido.

Colágeno
Em uma porção de 120gr. de gelatina pronta, na Bretzke tradicional, foi encontrado 0,76gr. de colágeno (proteína gelatinosa). Na Doce Menor Diet e na Dr. Oetker Diet, 2gr. Alguns estudos afirmam que consumir 10gr. diárias de colágeno traz benefícios à saúde, embora não haja consenso, entre os especialistas. Para alcançar essa quantidade, entretanto, a ingestão diária deveria ser de 5 copos de gelatina das marcas com maior quantidade de colágeno. Uma dieta equilibrada, com o consumo adequado de proteínas, é suficiente para uma pessoa saudável alcançar o nível ideal dessa substância. (Camila: Escrevi uma matéria para a Revista das Vegetarianos em 2011 abordando o tema do colágeno e publiquei aqui no blog).


Alimentos mais saudáveis e reivindicações da PROTESTE
A professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), nutricionista Edira Gonçalves, advertiu que as crianças são as mais vulneráveis aos corantes em geral, cuja ingestão excessiva pode debilitar o sistema imunológico.

Em uma pesquisa divulgada na “Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos” em 2008, segundo a nutricionista, estudou-se o consumo, por 150 crianças, de gelatina, de refresco em pó e de refrigerante. Entre elas, foi considerado o uso habitual desses alimentos. Em relação à gelatina, em 95% dos casos, a ingestão começa a ocorrer com crianças até um 01 de idade.

Pesquisadora de alimentos vinculada à PROTESTE, a nutricionista Manuela Dias disse que os pais devem orientar os filhos a consumir alimentos mais saudáveis, como frutas e iogurtes. “Como a gelatina é docinha e colorida, as crianças gostam. Mas é um alimento totalmente artificial, não tem nada de morango, por exemplo, só o aditivo.”, completou.

Entre outros problemas achados nos rótulos das gelatinas, na pesquisa, observou-se que em todas as versões da Bretzke, está registrada a data de fabricação, mas não de modo muito claro ao consumidor. Na versão tradicional da Sol, a situação é a mesma. As outras marcas de gelatina não informaram a data de fabricação no rótulo.

A associação criticou ainda a falta de legislação específica no Brasil, para gelatinas em pó, defendendo a criação de normas reguladoras para esse alimento. O objetivo é proporcionar a definição de alguns parâmetros, como limite de açúcar e quantidade de colágeno e proteína.

Fonte:
Revista Izunome, junho de 2009.


Uma receita muito tradicional como manjar de coco pode ser feita usando agar agar, veja melhor sobre o manjar nos comentários da postagem linkada.

Mais receitas alternativas de "gelatina" sem gelatina industrializada:  

Gelatina caseira feita com algas marinhas (riquíssimas em cálcio):
1 col de sopa cheia (ou 1 pacote de 30gr.) de agar agar
1 lt de qualquer líquido.
Ferver o líquido, adicionar a alga em pó, misturar bem e levar à geladeira
Sugestões: suco da casca do abacaxi com hortelã e pedaços de abacaxi, suco de manga (ou melancia ou melão) com gengibre, suco de caqui com raspas de limão, suco de morango com pedaços de geléia de morango, leite de coco caseiro com coco ralado e geléia de ameixa...
Privilegiar sucos que não precisem ser adoçados e usar o mínimo de água no processo.

Refresco de gelatina
As crianças adoram e os adultos também vão gostar, especialmente os que estiverem de dieta, já que esse refresco gelatinoso fornece sensação de saciedade. Faça a gelatina normalmente como ensinado acima, mas use o dobro da quantidade de líquido sugerida e guarde em jarras de vidro na geladeira. Dilua sempre em água, sucos grossos são ricos em frutose e entram direto no sangue.
Veja receitas de mousses de frutas cruas e adapte ao refresco, fica delicioso

Mousse de frutas cozidas com gelatina de algas marinhas
1 pacote de Agar Agar dissolvido em 1 xícara de água fervente
1 col chá de raspa de limão
1 col chá canela em pó
2 xícaras frescas ou cozidas
Dissolvida a gelatina, junte todos os ingredientes no liquidificador, bata tudo e ponha para gelar.

Mousse de azeitona (ou pimentão vermelho ou tomate seco ou salsa)1 xícara de creme de arroz 
1 xíc. de azeitonas descaroçadas
4 col. de sopa de azeite
Sumo de meio limão
1 dente de alho
1 pacote de agar agar
Bater tudo no liquificador, exceto o agar agar e metade das azeitonas.
Dissolver o agar agar em 1/2 copo pequeno (100ml) de água fervendo, levar ao liquidificador novamente, bater bem e após desligar o liquidificador, juntar o restante das azeitonas picadas. Colocar para gelar em forma untada com azeite, caso queira desenformar. Pode ser feita igualmente com pimentão vermelho cozido e orégano ou tomate seco com manjericão ou mesmo salsa pura – nos 2 últimos casos, reduza a quantidade para 1/2 xíc., para o sabor não ficar muito forte.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Viver e morrer: como entender o destino?!?

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Hoje tive um dia estranho. 

Fiquei sabendo que uma amiga de infância faleceu, dois anos após ter feito uma cirurgia bariátrica, decorrente de complicações tardias do procedimento. Nem preciso dizer que fiquei arrasada e chocada, né?

Dizem que quando Deus fecha uma porta, em outro lugar ele abre uma janela. 

Poucas horas depois de receber esta notícia, fiquei sabendo que o filho de uma amiga de minha mãe estava em um restaurante em Boston, foi ao banheiro e quando voltou encontrou inúmeras pessoas feridas no estabelecimento - teve gente que perdeu até as pernas no local! A bomba explodiu na porta do restaurante e ele foi salvo por uma fração de segundos, graças a uma ida ao banheiro.

Que vida louca, hein? Como compreendê-la?!?

Difícil responder esta pergunta. Uma coisa é certa: nada se pode fazer perante a morte, mas muito se pode fazer enquanto ainda há vida, desde uma palavra até um gesto físico ou uma oração...

Esses acontecimentos me fizeram lembrar de uma ocasião, há uns dois meses atrás, quando faleceu a mãe de uma grande amiga minha. No mesmo dia, fiquei sabendo que a tia de outra grande amiga estava precisando muito de uma doação de sangue, coincidentemente, do meu tipo sanguíneo. Apesar de estar super atribulada e do hospital ser do outro lado da cidade, dei um jeito de ir lá fazer a doação antes de ir ao enterro. No dia seguinte "a tia..." recebeu alta e a notícia acalentou um pouco o meu coração tristonho...

É a certeza de que a vida é feita de altos e baixos que nos faz superar as perdas e os problemas mais difíceis. Pois, apesar de tudo, a vida continua para quem fica. Ela funciona como uma maré: vezes enchente, vezes vazante - jamais parada!


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Diabete Melito: uma revisão


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A diabete melito se constitui no comprometimento do metabolismo dos macronutrientes de uma dieta, devido à ausência da secreção de insulina pelo pâncreas ou à redução da sensibilidade dos receptores deste hormônio. Está subdividida em dois principais tipos, denominados de diabetes tipo I e diabetes tipo II. O primeiro é também conhecido como diabete melito insulinodependente, neste caso não há secreção de insulina. No segundo tipo, denominado de diabete melito não insulinodependente, existe uma resistência à insulina em seus tecidos-alvos. O principal efeito de ambos os tipos de diabete é o prejuízo da captação da glicose pelas células do corpo, excetuando as hemácias e as células do sistema nervoso, que independem da ação da insulina. A consequência é um quadro de hiperglicemia, com menor uso da glicose pelas celulas e consequentemente maior uso de gorduras e proteínas (GUYTON, 2002).

A hipoglicemia clínica é definida por um estado onde o paciente diabético tem um baixo nível plasmático de glicemia, resultando em sintomas como tremores, palpitações, sudorese e ansiedade, bem como dificuldade de concentração, confusão mental, fraqueza, tontura e fadiga. Trata-se de um quadro frequente em pessoas que tratam a diabete com insulina, quando administrada em doses acima do necessário para atingir homeostase metabólica. Estima-se que 5 a 20% de pacientes que fazem tratamento antihiperglicemiantes sofrem de hipoglicemia. O alívio destes sintomas pode ser obtido através da ingestão de carboidratos, entretanto existem doses e especificações ótimas para casos particulares (TOTH e PACAUD, 2002).

O diabete contribui consideravelmente para o aumento nas taxas de morbidade e mortalidade, podendo ser reduzidas através de diagnóstico precoce e tratamento. A sua maior prevalência ocorre em casos de diabete tipo II (cerca de 90 a 95% dos casos), tratando-se atualmente de uma epidemia mundial com sérios impactos econômicos e sociais. Existem inúmeros fatores de risco para a diabete tipo II, genéticos e ambientais, como histórico familiar, idade avançada, obesidade, sedentarismo, história prévia de diabete gestacional, hiperglicemia e etnia (KRAUSE, 2011).

Historicamente a diabete tipo II atingia um grupo de faixa etária elevada. Entretanto, estatísticas revelam que entre os anos de 1990 e 1998 a sua prevalência aumentou 76% entre indivíduos por volta dos 30 anos. Os casos entre crianças também aumentaram significativamente, saindo de índices de 4% antes da década de 1990 para números que chegam a alcançar 45% em determinados grupos étnicos e raciais. Nestes casos, o controle mais efetivo se dá quando no surgimento do pré-diabetes, que é o estágio de alteração na homeostase glicêmica (KRAUSE, 2011).

A diabete tipo I é uma doença autoimune que frequentemente surge na infância. Excetuando-se os casos onde são observados determinados genes que aumentam a sua predisposição genética, em geral a sua causa é desconhecida. Desta forma, alguns estudos buscam a relação entre a patologia e a ingestão de vitamina D, já que esta, além de atuar na captação do cálcio, está presente em praticamente todos os tecidos corpóreos, inclusive no sistema imunológico. Como o sistema imune inicia o seu desenvolvimento no período embrionário, pesquisas apontam uma possível ação preventiva da vitamina D no caso das doenças autoimunes, a exemplo de um estudo com 29.072 mulheres na Noruega. Neste, foram medidos os níveis séricos da calcitonina em um grupo de controle de 219 mulheres, cujos filhos não manifestaram diabetes tipo I até os quinze anos de idade, contra 109 mulheres, cujos filhos tiveram a doença no mesmo período etário. Verificou-se uma prevalência mais que duplicada de casos de diabetes tipo I nos filhos de mães que apresentaram menores taxas de vitamina D durante a gestação. Outro fato relevante neste estudo são os maiores índices da doença em locais que tem o tempo de radiação solar reduzido durante muitos meses do ano, a exemplo dos países nórdicos (SORENSEN et al., 2012). 

A gravidez em mulheres com diabete tipo I está associada às más formações congênitas, complicações obstétricas e mortalidade neonatal. Muitos destes casos estão em parte relacionados a cuidados pré-natais, especialmente o controle das taxas glicêmicas. Assim, estudos realizados na Holanda, mostram que é possível reduzir a ocorrência de problemas gestacionais a partir de um acompanhamento pré-natal criterioso. Outra medida que se mostra efetiva é a motivação de que mulheres diabéticas planejem as suas gestações, possibilitando assim um melhor controle glicêmico, tendo a realização de suplementação prévia de ácido fólico nestes casos resultados bastante positivos (EVERS et al., 2004).

A partir dos estudos descritos, pode-se inferir que apesar das manifestações semelhantes, os tipos de diabete constituem doenças completamente diferentes. A alta prevalência do diabete tipo II aliado ao fato de suas causas serem melhores definidas, bem como seus possíveis tratamentos, independentes da utilização de insulina, fazem com que esta manifestação torne-se alvo de grande interesse e estudo na área da nutrição, pois dentre os fatores ambientais relacionados à sua ocorrência, a alimentação desempenha importante papel.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
EVERS, Inge M. et al. Risk of complications of pregnancy in woman with type I diabetes: nationwide perspective study in the Netherlands. BMJ 2004; 328: 915. Disponível em: http://dx. Org/10.1136.bmj.38043.583160-EE. Acesso em 21 mar. 2013.

GUYTON, Arthur; HALL, John. Tratado de fisiologia médica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. pg. 764-809.

MAHAN, L. Kathleen; ESCOTT-STUMP, Sylvia. KRAUSE: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Vol 1. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. Cap. 10, p. 286-305.

TOTH, Ellen L; PACAUD, Danièle. Hipoglecymia: understanding the enemy. Canadian Diabetes Association, 2002. Vol. 15, n. 3.

SORENSEN, Ingvild M. et al. Maternal Serum Levels of 25-Hydroxy-Vitamin D During Pregnancy and Risk of Type 1 Diabetes in the Offspring. Diabetes, vol. 61, jan. 2012. Disponível em: diabetes.diabetesjournals.org. Acesso em 21 mar. 2013. 

sábado, 6 de abril de 2013

Pirâmide Alimentar X Prato de Harvard

Na faculdade de nutrição no Brasil, trabalha-se em cima da pirâmide alimentar (descrita abaixo). Recentemente, entretanto, a Universidade de Harvard inovou o modelo alimentar instituindo o prato, como modelo ilustrativo (para maiores informações, clique aqui). Além de ser muito mais fácil de compreender (em minha opinião), este modelo sugere mudanças significativas no padrão alimentar para uma população saudável.

A universidade americana frisa alguns pontos que considero fundamentais, sendo eles:

  • A preferência por óleos vegetais, minimizando o consumo de manteiga.
  • Uma diminuição considerável no consumo de leite e derivados (para 1 ou 2 porções ao dia), sob a alegação de que estes produtos estão associados com o risco de certos tipos de câncer. A imagem e nome destas categorias de alimentos, sequer aparecem no prato, o que demonstra uma enorme mudança de paradigma na dieta. Harvard ressalta que as fontes vegetais de cálcio devem ser priorizadas, em detrimento do tão famoso leite.
  • A preferência por carnes brancas e fontes vegetais de proteína (leguminosas principalmente) em detrimento das carnes vermelhas. A alegação é de que as carnes vermelhas, mesmo em pequenas quantidades, quando consumidas regularmente, aumentam os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e câncer de intestino. 
  • Harvard frisa a importância de que os grãos e cereais sejam integrais, na pirâmide alimentar isso não é enfatizado.
  • Harvard frisa a importância de reduzir o consumo de doces ao mínimo enquanto a pirâmide alimentar sugere uma porção desse grupo alimentar igual ou superior à ingestão de leguminosas e óleos e gorduras. Que inversão!!! Lipídios de boa qualidade são essenciais a uma dieta saudável, seu consumo jamais poderia ser igualado ao consumo de açúcares, que como todo mundo sabe, não passam de calorias vazias! 
Ver uma publicação desse gênero para mim é uma grande vitória pessoal. Nunca comi carne vermelha e o leite e seus derivados sempre só existiram em minha vida em ocasiões festivas, jamais dentro de casa ou fazendo parte da rotina alimentar. Além disso, meu prato sempre foi parecido com esse prescrito por Harvard, rico em grãos integrais, vegetais e proteínas vegetais ou "do mar". Quando era pequena, meus hábitos causavam estranhamento à maioria das pessoas... As pessoas viviam rogando praga em cima dos meus pais, dizendo que eu e a minha irmã íamos ser crianças fracas e anêmicas. Só preciso dizer que nunca tive anemia e a única vez que machuquei um osso, foi uma leve fratura no dedão do pé (que foi atropelado por uma bicicleta), já em idade adulta. 

Passei pelo processo de preconceito à admiração e isso é uma vitória. Vocês não sabem como é gratificante ver as pessoas tornando-se mais conscientes de suas dietas, buscando opções mais saudáveis e principalmente dispostas a mudar padrões antigos. Servir de exemplo para estas pessoas é mais que um trabalho para mim, é uma honra! Claro que ajuda muito quando temos uma instituição de peso, como a Harvard, assinando embaixo daquilo que dissemos. O que antes era visto como uma filosofia alimentar excêntrica ou até um "tipo de religião", hoje é respaldado de inúmeros argumentos científicos. Viva!!!


X 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Oficina de Culinária Zen em Salvador - 4 de maio

Queridos leitores,

Após muitas solicitações, finalmente consegui compatibilizar minha agenda e farei uma oficina em Salvador. Vai ser uma ótima oportunidade para colocarmos tantas das teorias que abordo frequentemente aqui em prática. Além disso, poderei conhecer pessoalmente alguns dos meus seguidores virtuais, com os quais já tive a chance de trocar diversos e-mails. Aguardo vocês! =)

Beijos,
Camila




quarta-feira, 3 de abril de 2013

O tal do ENADE


Acabei de ficar sabendo que um professor recomendou que a turma fizesse as provas do ENADE dos anos de 2004, 2007 e 2010 para complementar o estudo para a prova de sua matéria. Só de escutar esse nome tenho calafrios. Você deve estar se perguntando por que e por isso resolvi compartilhar uma historinha pessoal.

Quando fiz a minha primeira faculdade, arquitetura, no semestre em que ia me formar, percebi que ia me formar em tempo recorde e que não havia necessidade para tanta pressa, até porque sempre tive dúvidas em relação a escolha desta carreira. Então, decidi adiar um pouco a formatura para fazer intercâmbio (através do convênio da UFBA - por isso não podia me formar) para a Espanha: realizar um sonho, viver em outra cultura, abrir a cabeça, me abrir para novas ideias, aprender outro idioma. Sempre soube que a vida requer muito mais do que aquilo que os livros ensinam e tinha certeza que a experiência seria fundamental na minha formação pessoal e profissional. Nem preciso dizer que foi uma das melhores coisas que fiz na vida, né?

Quando voltei, tive que me matricular novamente na faculdade para apresentar o meu Trabalho Final de Graduação, que deixei 95% pronto antes da viagem, já tinha feito pré-banca e tudo. As apresentações só seriam no final do semestre e enquanto isso aproveitei para fazer um último estágio em uma área que não tinha tido oportunidade de explorar a fundo durante o curso. Não contava que essa matricula me traria uma surpresa: fui sorteada para fazer a prova do ENADE. Até aí tudo bem... 

A prova seria num domingo e eu, toda compenetrada decidi não sair no sábado à noite, para dormir cedo e ir bem descansada fazer a prova. Quem mora aqui ou já esteve em Salvador vai entender o que vou dizer agora: moro no bairro da Graça e me colocaram para fazer a bendita prova em Itapuã! Tinha que literalmente cruzar a cidade. Mas o pior estava por vir, Salvador não tem horário de verão, então a prova que seria às 13:00 em todo o Brasil, aqui seria às 12:00. Resumo, teria que cruzar a cidade (praticamente 25km), numa manhã de verão, em pleno domingo para fazer uma prova que não ia mudar em nada a minha vida. Um favor que prestaria à nação. Bem, naquele dia estava com a maior boa vontade do mundo, acordei cedo e saí de casa com DUAS HORAS de antecedência, levando um livrinho para ler enquanto esperava a prova, pois tinha certeza que ia ter que esperar um bocado, mas meu sangue suíço adora uma pontualidade e não queria correr o risco de atrasar.

O acesso ao colégio onde a prova seria realizada era única e exclusivamente pela orla e adivinhem? Prova + Praia + Verão + Domingo de Sol = maior engarrafamento de minha vida. Não tinha como desviar, retornar, fazer um caminho alternativo ou sequer estacionar... Fiquei ali, parada no carro, o sol queimando lá fora, vendo o tempo passar, sem poder fazer nada. Com muito sacrifício consegui chegar até a Av. Dorival Caymi (que liga a orla à Av. Paralela), estacionei meu carro no primeiro lugar que vi e saí literalmente CORRENDO pela rua para conseguir chegar à tempo no local da prova. Cheguei CINCO minutos atrasada, encontrei os portões fechados e uma MULTIDÃO lá fora. Assim como eu, a maioria das pessoas também não conseguiu chegar à tempo. Todo mundo revoltado!! Com razão!! Estávamos fazendo um favor ao Ministério da Educação indo fazer aquela prova em pleno domingo de sol e o que recebemos em troca? Nem CINCO minutos de boa vontade, tolerância...

Fomos instruídos a escrever uma justificativa para o INEP e assim o fiz. Peguei um relatório do trânsito com o Detran, anexei meu comprovante de residência, o local da prova, um mapa do Google mostrando o tamanho da rota e expliquei na íntegra o ocorrido. Maldita hora que meus pais me ensinaram a ser honesta!! Todas as pessoas que enviaram falsos atestados médicos foram liberadas de fazer a prova. Resultado: eu tive meu diploma detido por mais um ano e meio (já tinha atrasado minha formatura um ano e meio à essa altura, por causa do intercâmbio e do semestre que tive que me matricular na volta), pois, mesmo que todas as suas obrigações com a instituição de ensino estejam findadas, sem o comprovante do ENADE não é permitido colar grau. Você deve estar se perguntando porque um ano e meio a mais. Bem, fiz a prova um ano depois desse ocorrido e tive que esperar a liberação chegar na faculdade para poder colar grau... Um processo! Resumindo, essa brincadeirinha de ENADE me custou dois anos trabalhando sem diploma. Minha sorte foi que tinha uma parceira que assinava os projetos por mim e não tentei nenhum concurso público, vaga de mestrado, nem nada parecido e a falta do diploma não me acarretou maiores prejuízos. Mas convenhamos que poderia ter sido um problemão, poderia ter pedido a vaga de uma grande oportunidade na vida por não portar o diploma de uma faculdade que estava concluída com louvor!

Detalhe, a prova que fiz no ano seguinte nem era específica da área de arquitetura e sim uma prova geral só para pessoas, como eu, poderem cumprir uma penalidade cruel, uma vez que a prova específica de arquitetura só ocorre à cada quatro anos.

Preciso dizer que tenho pavor desta prova?? Na Federal ninguém leva isso à sério, entregam a prova em branco... Coisa que apesar de toda a minha indignação não tive coragem de fazer.

Quando voltei para a faculdade (agora no curso de nutrição) descobri que ENADE nas faculdades particulares parece vestibular nos meus tempos de colégio. Os professores e coordenadores adoram falar nisso, fazem provas no modelo do ENADE, simulados... Ano passado tive que fazer um simulado chatíssimo da bendita prova. Pensem em algo cansativo!! Levei quatro horas, saí com a cabeça explodindo e não consegui terminar a prova. O interesse das faculdades particulares é obter uma boa nota e melhorar seus nomes no mercado. Acharia a proposta interessante se não tivesse tido essa experiência negativa, se a prova não estivesse atrelada com a possibilidade de colar grau e se não soubesse que na Federal ninguém está nem aí para o ENADE (a Federal tem nome e ninguém deixa de estudar lá porque teve um desempenho ruim no ENADE).

Fico lembrando dos tempos de escola. Nunca consegui compreender aquela obsessão por vestibular. As pessoas passavam a vida estudando para um bendita prova, ninguém estava interessado em aprender coisas para a vida. Como se o aprendizado de cerca de quinze anos escolares só servisse para uma coisa: passar no vestibular. Quantas pessoas conheço tinham desempenho acadêmico ótimo na escola, passaram no vestibular, mas não cultivam o hábito da leitura, não frequentam museus, não apreciam arte, música...

Sobre o ENADE, minha preocupação é que o ensino das faculdades particulares se direcione à preparação dos alunos para um bom desempenho na tal prova e o foco do ensino fique em segundo plano. Por outro lado, sou super a favor de provas como a da OAB que restringem a atuação profissional àqueles que comprovem que realmente fizeram um bom curso. Só que a OAB não impede ninguém de se formar... Acho que com tanta faculdade abrindo por aí, uma prova desse gênero para todas as áreas seria muito interessante para garantir à qualidade dos profissionais que são lançados no mercado de trabalho. Só que a proposta do ENADE está longe de ser essa e a meu ver, está colocando em risco a qualidade do ensino e dos alunos. Será que no futuro teremos profissionais "experts" na realização de provas e deixando a desejar em suas áreas de atuação? Espero que não!!!