Hoje assisti ao filme Comer, Rezar e Amar. Há muito tempo me falam para ler o livro e que é minha cara... Como estou sempre cheia de livros técnicos na fila, acabo deixando os romances para depois, uma vez que nunca acho que posso me dar ao luxo de ler livros meramente por lazer.
Ao ver este filme na locadora e apesar de saber que não é nunca a mesma coisa, tinha escutado uma crítica bem positiva e Julia Roberts na capa me animou. Valeu a pena, adorei!!
Ele me trouxe lembranças de minhas viagens solitárias. Como é bom viajar!! Na verdade, esta estória de estar sozinha que as pessoas tanto se espantam quando digo que vou a algum lugar acompanhada de mim mesma é uma ilusão.
Ninguém nunca está sozinho, nem Amyr Klink no meio do gelo. Ele estava cercado pela natureza, pelos seus pensamentos, por diversos animais que não costumava ver no Brasil e pelo seu diário, grande amigo!
No filme de hoje lembrei-me de tanta gente que já conheci pelas minhas andanças. Desde o simpático homem e sua esposa que me alugaram um quartinho certa feita em Morro de São Paulo, alguns amigos conhecem essa história: Roni da Refrigeração, quase uma lenda, até cada pessoa que conheci pela Europa, recentemente nos EUA e pelo Brasil.
Na Espanha o pessoal lá de casa brincava dizendo que fazia um amigo por dia. Conversava com quem aparecesse ao meu lado, no mínimo praticava o espanhol. Andei com um monte de intercambistas (gringos e brasileiros), espanhóis, tive um professor de xadrez psicopata me perseguindo, uma maluquinha Polaca carente que me ligava o tempo todo, uma Romena que confessou viva de esmolas quando ainda vivia na Romênia, uma Cubana que conseguiu fugir de seu país graças a um espanhol caridoso que casou-se com ela só para tirá-la de seu país, depois lhe deu abrigo e emprego. Teve uma velha Sul Africana PORCA que morava em um quarto de albergue compartilhado de seis pessoas em Londres porque era mais barato do que alugar um apartamento... Ela me roubou um brinco e depois devolveu quando disse que era de estimação, também me roubou uma garrafa de água mineral.
Todos os Brasileiros que viviam na Espanha em outras condições que as minhas (tinham saído do Brasil ilegais para ganhar a vida, muitos de favelas e realidades muito pobres). Uma alemã querida que conseguia a façanha de trabalhar no mesmo bar há 3 anos pelas madrugadas adentro e ainda estudando com muito esforço. Um argentino apaixonado pelo Brasil e que teimava em só falar português comigo. Um espanhol que me adotou somente por ser amiga de um amigo brasileiro dele. Uma chilena fofa que abriu a sua casa e me recebia carinhosamente em seu lar. Uma sérvia que me contava como era lutar pelo seu país durante a guerra e é uma das pessoas mais irradiantes que já conheci.
Teve ainda o italiano (já falei dele aqui) chato que adotei no natal de 2008. Um professor de macrobiótica que virou meu guia e amigo por Massachussets. Uma brasileira querida que conviveu um mês comigo mas que mora em meu coração como se tivesse sido muito mais tempo. Outra brasileira que caiu de pára-quedas em minha vida e que hoje tenho como irmã! Aliás, esses Brasileiros que conhecemos fora do Brasil são algo fora do comum... Teve o basco que me cortejava, me levava para restaurantes chiques, queria me apresentar à família toda e era tão tímido que me tratava como namorada mas nunca conseguiu pegar em minha mão, até que eu tomei abuso dele e ele não entendeu nada (como diria minha mãe: todo bonzinho é coitado). O chileno maluco que roubou uma garrafa de rum comigo em uma festa depois de uma longa estratégia e quando provei descobri que o gosto era horrível.
Os americanos queridos que viajaram comigo pela Suiça juntamente com os meus tios que não tenho nem palavras para descrever. A garota que trabalhava comigo na porta do supermercado contando quantas pessoas entravam para ganhar 40 euros. Meu amigo português do avião que toda vez que ia a Valencia me procurava e ainda me dava acessórios lindos de prata (ele tem uma joalheria) os quais uso com muito carinho até hoje. No avião ainda teve uma linda que conheci no Brasil em um vôo que atrasou horas e que até hoje mantemos contato... Pessoas que sentam ao seu lado no avião, nossa, tantas queridas!!
Muitos e muitos americanos extremamente sensíveis, amigos e carinhosos (ainda há quem diga que é um povo frio, tenho que discordar 100%). Uns conviveram comigo apenas cinco dias, mas rimos e choramos juntos e nos comunicamos até hoje que é quase inacreditável pensar que compartilhamos tão pouco tempo. Poderia escrever uma lista infinita aqui se continuasse puxando pela memória...
Claro que não precisamos viajar para conhecer pessoas interessantes, mas quando estamos fora de nosso reduto estamos mais abertos e normalmente com mais tempo para simplesmente bater um papo com alguém que chega perto. Por outro lado, em viagens solitárias temos a liberdade de simplesmente ignorar todo mundo sem ter que explicar a vontade de ficar sozinha, simplesmente não marcar nada com ninguém e curtir a própria companhia além da delícia que é estar em um lugar lotado e não conhecer absolutamente ninguém, a sensação de anonimato é priceless.
Hoje viajei com a personagem do filme e gostaria de propor que fizesse o mesmo, percorresse seus caminhos passados e lembrasse as pessoas que nele cruzaram com todo carinho que sentiu nesses encontros. Boa Viagem!!