domingo, 28 de março de 2010

Feliz Alienação

Foto "roubada" de um flickr com super espírito de beijo no padeiro: http://www.flickr.com/photos/melinwonderland/


Nunca mais falei em beijar o padeiro. Acabo de lembrar uma música que remete a este conceito. Um trecho diz:



"I have this theory that if we're told we're bad / Then that's the only idea we'll ever have / But maybe if we are surrounded in beauty / Someday we will become what we see / 'Cause anyone can start a conflict / it's harder yet to disregard it / I'd rather see the world from another angle / We are everyday angels / Be careful with me 'cause I'd like to stay that way"



Traduzindo:



Eu tenho essa teoria que se nos falam que somos ruins, aí essa será a única idéia que teremos. Mas talvez se a gente se cercar de beleza, algum dia a gente se tornará o que a gente vê, pois qualquer um pode iniciar um conflito e o mais difícil é não dar bola para ele... Eu prefiro ver o mundo por outro ângulo, nós somos anjos diários. Cuidado comigo porque eu gostaria de continuar desta forma.



Outro dia fui questionada por ser alienada de notícias e atualidades mais uma vez e expliquei que era uma opção de vida, busco me cercar do belo... Meu tempo livre é pouco e se preencho ele escutando notícias (sempre horríveis) no rádio ou na televisão vou me alimentar de um mundo ruim. Prefiro escutar uma musica leve, alegre, suave... Prefiro ver um filme que me faça rir ou chorar de emoção... Prefiro um papo curioso e cheio de novidades a essa gente que só sabe comentar a última manchete do Jornal Nacional. Considero isso no mínimo uma falta de imaginação e criatividade de alguém que não consegue escolher a informação que irá preencher sua mente e aceita a primeira mazela que lhe salta na tela da tevê.



Tem gente que fala que assiste ao jornal porque quem não sabe notícias não tem o que conversar. Discordo totalmente! Quem conversa sobre notícias é porque não tem mais sobre o que conversar, pois se uma pessoa lê, viaja, convive com pessoas interessantes, terá sempre trocas e papos, com o privilégio de manter um melhor astral e ser alguém mais agradável e leve.



Alienada? Bem, é impossível ser “sabida” de tudo, seremos sempre ignorantes na vida – eu prefiro ignorar o mundo ruim, da política suja, da violência, da corrupção e beijar o padeiro.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Terceirização de Sonhos


Terceirizar um sonho, como o próprio nome diz, é atribuir a outra pessoa a realização de um desejo pessoal. Na linguagem arquitetônica lido diariamente com isso, uma vez que o arquiteto nada mais é do que um profissional que apreende idéias abstratas, colocando-as no papel, atribuindo a elas forma e cor.



Trabalhar com a realização de sonhos é uma árdua tarefa, pois, quando não se consegue realizar plenamente o sonho de alguém, está se tirando aquilo de mais puro e forte que uma pessoa pode ter: quem não tem um sonho, não tem nada!



O que venho agora questionar é a terceirização de sonhos e a forte pressão causada pelos sonhos coletivos nos inconscientes pessoais. Falando de minha própria experiência em termos de arquitetura, vejo quantas pessoas sonham com aquilo que a sociedade impõe como realização pessoal: a casa própria.



O sonho da casa própria mesclado com os impulsos capitalistas faz com que muita gente sonhe com a casa linda de um personagem de novela ou um ambiente maravilhoso visto em uma revista... A primeira porrada chega quando o cliente descobre o valor deste sonho. Mesmo assim, alguns trabalham incessantemente para realizá-lo, como se através de um sofá milionário fossem conseguir obter felicidade e ao sentarem no sofá, percebem que não é o sofá e sim a mesa de centro e assim por diante...



Vejo o sonho da casa própria como algo sem limites, pois as pessoas sempre almejam por mais, cada um em sua realidade. Até que ponto este é um sonho pessoal ou uma simples imposição da sociedade que se mistura indistinguivelmente na cabeça das pessoas?



O fenômeno se repete com inúmeras interferências, tanto na esfera capitalista, com sonhos materiais, como em esferas mais psíquicas através das projeções. Estamos cercados de pessoas que sonham com o melhor para a gente, sendo que a definição do melhor para elas não necessariamente é o melhor para nós, porém a distinção desses valores pode levar muito tempo, até mesmo uma vida e enquanto isso se corre o risco de viver sonhos terceirizados...

Sonhar

... e para ilustrar o inconsciente, nada melhor que o surrealismo de Dali...

Hoje, após longo e tenebroso “verão” (Salvador anda insuportavelmente quente), retorno à minha atividade escrita para falar sobre sonhos.

Ao pensar em sonho, primeiro me vem à minha cabeça aquele que se têm quando se dorme: segundo a psicologia uma manifestação do inconsciente. Existe também aquele sonho acordado, que reflete as projeções de coisas aparentemente inalcançáveis que nos dá a impressão que só poderá ocorrer no fantástico mundo inconsciente e que ao mesmo tempo nos impulsiona para a vida, para a busca por metas.

Existem pessoas com um perfil mais sonhador do que outras... Tem gente que parece viver num mundo de fantasia, vivendo em sonhos profundos, em estado de dormência ou despertos. Já outras pessoas preferem a segurança da consciência, do concreto e do real, negando os sonhos e o acesso ao obscuro mundo da inconsciência.

Eu pessoalmente já permeei os dois mundos e hoje relaciono os períodos em que não conseguia lembrar os meus sonhos noturnos com aqueles quando não queria me dar a oportunidade de permitir que meu inconsciente se comunicasse comigo, como uma forma ilusória de controle (inconsciente) da minha vida.

Lembrar dos meus sonhos foi uma decisão que se deu a partir da necessidade de acessar o meu lado mais sombrio e desconhecido. Fazendo-se uma alusão ao Mito da Caverna de Platão, percorrer o inconsciente é sair da caverna do ego e permitir a exploração do todo, do claro, do self, segundo a psicologia analítica.

E os sonhos reais, aqueles que temos conscientemente em forma de desejos? De onde vêm? São eles reflexos do inconsciente pessoal ou frutos do inconsciente coletivo? Pessoalmente considero-os um perigo, pois em alguns casos repetimos os sonhos alheios sem sequer ter consciência de que não são nossos e sim projeções de terceiros. Neste caso posso exemplificar alguns como: o pai que se forma através do filho ou a mãe que se casa através da filha, dentre inúmeros outros casos onde gerações buscam e ideais constituídos pela sociedade ou por suas famílias.

Nesses casos, alcançar os sonhos ao invés de gerar satisfação pessoal, gera satisfação alheia e um tremendo vazio interior para o realizado. Eis que surge a necessidade de sonhar verdadeiramente em sono profundo, acessar o inconsciente e permitir que ele, no caso o seu mais intimo “eu” chegue até você e lhe fale qual o seu verdadeiro sonho. O que quero frisar aqui é que seja através de um mergulho no inconsciente, intuição ou desejo, que seja sempre buscado o sonho pessoal e não aquele que foi sonhado por alguém para você!