sábado, 18 de junho de 2011

Sincronicidade até a morte

Era uma vez um homem chamado Charles que morava no interior da Bahia na cidade de Vitória da Conquista. Este simpático senhor, dono de um mercadinho era bastante conhecido na cidade e para completar, possuía um carro que virou a sua marca registrada. De longe sabiam onde ele estava – prato cheio para uma cidade de interior. Como era um homem muito correto, nada tinha a esconder de sua mulher Josefina, portanto, ser reconhecido em qualquer parte nunca lhe criou qualquer problema.

Quando o seu carro completou 10 anos, resolveu ir até a Chapada Diamantina com ele onde dirigiu por trilhas no Vale do Capão (quem já foi conhece a buraqueira que é). Até ele mesmo achava que quando retornasse teria que vender o carro. Ledo engano, ao retornar, verificou que o alinhamento e balanceamento que tinham sido ajustados nos dias anteriores à viagem permaneciam impecáveis. Com isso, seus filhos criaram a brincadeira de dizer que o pai tinha um Corolla 10 – 10 anos atrás. Daí surgiu o apelido de Highlander – o carro imortal. Este espetacular automóvel, tratava-se de um Corolla Fielder, do ano de 1993, da primeira frota de Toyotas importados que chegaram ao Brasil.

Em 2009, Charles que sempre adorou comer muitos doces (de uma família com tradição em fabricar sequilhos em Vitória da Conquista), se tornou diabético e começou a ter a visão comprometida o que lhe impossibilitou de dirigir. Aos poucos o seu quadro foi piorando, já não podia mais trabalhar, depois tinha que ficar em casa, em cima da cama e foi morrendo aos poucos.

Uma tristeza enorme ver aquela pessoa, sempre tão alegre e ativa perder o seu brilho. O mais interessante é que nunca perdeu o bom humor. Seus filhos não deixaram que soubesse que o seu carro havia sido vendido, fato ocorrido quando ele chegou ao estado que não mais levantava da cama de forma que não teria como sentir falta de ver o automóvel na garagem.

A luta pela sobrevivência foi enorme, mas a diabetes é realmente uma doença traiçoeira. Por fim, após quase dois anos de muito sofrimento, Charles faleceu. Já nos últimos meses, tinha sido transferido para Salvador, onde residiam os seus filhos, sendo um deles médico, para obter maior assistência hospitalar, após contrair sérias infecções.

No dia de seu sepultamento, aquela agonia de ligar para os parentes e amigos, avisar para aqueles que vinham do interior poderem estar presentes e ainda ter que providenciar roupa, caixão, cemitério... Para completar, seu filho teve a sensação de que estavam querendo se aproveitar da fragilidade do momento para cobrar preços escandalosos e teve a lucidez de ainda sair atrás de outra funerária (havia uma próxima à outra).

Chegando nesta outra funerária, constatou que realmente os preços na funerária vizinha estavam abusivos e ainda encontrou um caixão que lhe agradou mais. No meio disso, sentiu um pouco de falta de ar com o excessivo cheiro de rosas do local e pediu licença da loja para tomar um ar fresco na porta enquanto passavam o cartão de crédito. Chegando lá fora tomou um enorme susto ao ver estacionado na porta da funerária ninguém menos que Highlander. Retornou à loja assustado até descobrir que pertencia à funerária e que o último passeio de carro de seu pai seria nele.

Baseado em fatos reais.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Labirinto


Imagem: http://www.layoutsparks.com/1/204635/the-labyrinth-wall-great.html

Certa feita recomendaram-me um passeio em um labirinto. Disseram-me que seu percurso seria cheio de surpresas maravilhosas, com algumas dificuldades, mas que a experiência seria tão extraordinária que ao fim o caminho valeria a pena.

Logo que entrei no labirinto, percebi que apesar de todas as recomendações e incentivos não me sentia confortável naquele lugar. Olhava para os lados e via todos a meu redor deslumbrados com as imagens inscritas em suas paredes, mas elas nada me diziam.

Continuei o meu percurso, na expectativa de que em algum momento me sentiria tocada por alguma daquelas coisas que maravilhavam praticamente a totalidade das pessoas dentro do labirinto. O tempo todo, minha vontade era uma só, dar meia volta e ir embora.

Sentia-me uma estranha, incompreendida para os outros e principalmente para mim mesma. Não conseguia entender como aquela experiência poderia ser tão formidável para tanta gente e a mim só me trazia angústia, vontade de gritar e sair correndo (no sentido contrário).

Em diversos momentos tive esse impulso, mas sempre era interpelada e motivada a continuar, seguir o rebanho, ignorar a minha vontade própria e me guiar pelo senso comum. Fazia isso em partes porque quando me perguntavam para onde pretendia ir quando saísse do labirinto não tinha uma resposta clara. Como poderia ter se me encontrava presa em um labirinto que sequer sabia como fazer para sair dele?

Minha realidade era uma apenas: estava presa a um labirinto e minha alma gritava para sair, se sentia aprisionada, dentro de um lugar que parecia um paraíso para uns, mas que para mim não passava de um emaranhado, sem sentido, sem destino. O mero querer sair não era uma resposta convincente aos outros e consequentemente para mim tão pouco, sempre acostumada a agradar e seguir padrões estabelecidos pela sociedade. Precisava de uma razão, uma justificativa maior, algo significativo me esperando lá fora que fizesse valer a pena abrir mão de estar no dito "labirinto dos sonhos".

Dos sonhos para uns... Para mim, esse labirinto era na verdade um pesadelo que me cercava enquanto acordada do qual conseguia me libertar em algumas noites de sono. Durante muito tempo percorri o labirinto em grande velocidade, na idéia de que assim alcançaria mais rápido ou descobriria a graça daquele lugar. A minha grande agilidade e facilidade em percorrer pelos seus becos, entradas e saídas encantava a todos. Ninguém conseguia entender como uma pessoa que dominava tão bem o labirinto queria sair dele.

Mais uma vez, era motivada a ficar. Tinha me tornado um exemplo de sucesso dentro do labirinto e a minha velocidade que era uma forma de busca pela liberdade me aprisionava cada vez mais.

A cada passo que dava me estranhava mais e mais em relação aos outros, me sentia mais longe da saída e mais perdida de mim mesma. Às vezes minha mente divagava sobre a idéia de sair do labirinto e somente esse pensamento era suficiente para algo fazer sentido em meu percurso: como sair dele. A idéia começou a ganhar força e de repente comecei a encontrar pessoas que não me achavam louca por querer abandonar o percurso. Com isso fui ganhando coragem para hoje estar percorrendo o caminho contrário.

Vejo todos aqueles que certa feita caminharam no mesmo sentido que eu, seguindo seus caminhos e a distância deles e do centro emaranhado do labirinto é uma das sensações mais deliciosas desde o dia que entrei no bendito labirinto. Nada contra eles, alguns grandes amigos, o que não significa que precisamos ter gostos e caminhos iguais.

A todo tempo me chamam para retornar e muitas vezes caí na tentação, talvez pelo medo do desconhecido e facilidade de permanecer no território seguro - que apesar de não gostar, domino. Mas a cada convite, a cada retrocesso para dentro do labirinto, o mero olhar em direção a ele me faz ter certeza de que seguir convites alheios e ignorar o convite do meu coração é o caminho mais errado que posso escolher.

Não me arrependo de nada, até mesmo dos últimos deslizes, eles só fortaleceram a certeza da vontade de sair do labirinto. Também entendo que não há como sair tão facilmente de um lugar que me prendi por tantos anos.

Entretanto, a cada passo que dou no sentido contrário, a certeza de que estou mais perto da saída me acompanha. Momento algum sinto como se fosse ficar presa no labirinto, sem conseguir sair dele. Pelo contrário, essa sensação só me acompanhava quando o adentrava. O mais interessante é que sei que o problema não é estar dentro de um labirinto, pois sei que quando sair deste, haverá outro e esse sim apreciarei a cada passo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Reduto da Cerveja



Tem gente que adora tomar vinho... Aliás, nunca esteve tão na moda!! Eu aprecio a bebida, mas confesso que tenho uma simpatia muito maior pela tal cervejinha. Por onde ando, gosto de provar as variedades locais e degusto uma boa cerveja como algumas pessoas degustam vinho.

Para mim o ponto forte está no baixo teor alcoólico. Mesmo aquelas mais encorpadas possuem menos álcool que bebidas destiladas ou vinho. Desta forma, pode-se “tomar umas” sem se embreagar e ao mesmo tempo dar aquela relaxada. Cerveja para mim está sempre associada a momentos mais descontraídos e leves ao passo que o vinho já sugere certa formalidade.




Cerveja tem cara de um papo solto, um happy hour, um dia quente de verão. Se for num lugar frio, a depender da qualidade, ela nem precisa estar gelada. Vinho tem cara de jantar formal, comida chique, ambiente requintado, frio. Cada um com seu momento, mas acho que a leveza que acompanha a cerveja é mais minha cara.

Aqui no Brasil as cervejas mais populares são em sua maioria são aguadas e ruins. Essas aí eu passo!! Mesmo assim encontramos algumas exceções como variações da Bohemia (Weiss, Confraria e Oaken) e muitas artesanais. Em Minas Gerais, por exemplo, temos a Backer, Medieval (variação da Backer), Krug Bier, Wals, Áustria, Lisboa e outras, nas fabricações Pilsen, Pale Ale, Trigo, Cevada, Escura, pasteurizadas e não pasteurizadas com sabores que não deixam a desejar em relação a muitos rótulos internacionais.

Esse final de semana estive em um boteco de cervejas especiais em Belo Horizonte, bem típico mineiro. O lugar super simples, com cerca de 6 mesinhas na porta, começou como uma distribuidora e foi ganhando a calçada há cerca de um mês. Lá encontram-se cervejas de todas as partes do mundo, a preço de distribuidora e com um atendimento diferenciado pelos próprios donos. Estes sugerem sabores de acordo com os gostos de cada cliente e disponibilidade financeira. Ainda incipientes e com pouca variedade de petiscos, permitem que peçam comida no boteco vizinho e oferecem queijos e castanhas de tira-gosto.


Em Salvador existe um bar com cervejas especiais também, entretanto, não tem nem metade da variedade. Nas vezes que estive lá sempre acabei ficando com a terceira opção (as duas primeiras normalmente estavam no cardápio mas não na casa) e ainda por cima tudo com preço bastante salgado.

Por isso, para os apreciadores de cervejas artesanais, recomendo a quem for à capital mineira, uma visitinha ao Reduto da Cerveja. Abaixo o endereço:
End: Av. Álvares Cabral, 1030, Lj06. Esquina com Rua Curitiba no bairro de Lourdes

Imagens concedidas pelos proprietários do estabelecimento.