Essa obra me impressionou no MoMa (Museu de Arte Moderna de NY). Nela, foram reunidas embalagens de alimentos consumidos pelo artista durante o período de um ano. É tão grande que não coube na foto... Saudável dieta, hein?
Semana
passada postei um texto do blog Liga da Virtude abordando preocupações
ambientais e medidas pessoais. Nele, o autor aponta diversas soluções paliativas
como minimizadores de problemas ambientais, entretanto, fala que não haverá
solução enquanto a população continuar crescendo na escala que vem crescendo.
Concordo, entretanto não sou completamente descrente de ações pontuais. Aquela
velha história do beija flor que tenta apagar um incêndio com gotas d´água, ou
seja, fazendo aquilo que está ao seu alcance.
Para mim a
saúde do planeta está intimamente ligada à saúde da população. Este é um tema
longo, portanto, pretendo desenvolvê-lo em capítulos. Vou começar com uma breve
história da criação dos padrões alimentares da sociedade.
Foram descobertos
espécies de cogumelos na Inglaterra, que antes só tinham um ciclo reprodutivo
ao ano e que agora reproduzem duas vezes ao ano. Você deve estar se perguntando
aonde quero chegar com essa informação. Muito bem, cogumelos fazem parte das
formas mais primitivas de vida no planeta, assim como fungos, bactérias e vírus.
Se eles estão com ciclos de vida duplicados, seus “parentes” provavelmente também
devem estar. Isso explica um acelerado crescimento de doenças infecciosas,
provenientes de micro-organismos. Este é apenas um exemplo decorrente das
inúmeras alterações ambientas quem vem ocorrendo no planeta.
Há doze ou
treze mil anos atrás os últimos gelos derreteram na Europa. Houve um pequeno
período de colheitas e caças, mas não havia muitos alimentos disponíveis. Assim,
a agricultura moderna começou a se desenvolver. Há cerca de nove ou dez mil anos atrás, os
primeiros grãos começaram a ser cultivados, juntamente com a produção de
embarcações, dando início às civilizações modernas. Agora as populações podiam
deixar de ser nômades, graças à agricultura e ao mesmo tempo tinham a possibilidade
de viajar, interagir com outras populações, realizar trocas e conquistas...
Assim, a sociedade
começou a se construir. Cerca de quatro a seis mil anos atrás a população
começou a viajar em maior escala e produziram dois efeitos importantes. Primeiro
espalharam o cultivo de grãos e fizeram grandes monumentos como o Stonhenge, na
Inglaterra, dando início às civilizações modernas. As culturas tradicionais
estão todas associadas a determinados grãos: nas Américas predominava o consumo
do milho, na Ásia do arroz, na Europa o trigo... Nessa época tudo era orgânico
e integral. Aí há cerca de três mil anos atrás, primeiro os gregos, mas
principalmente os romanos, através de trocas e conquistas territoriais,
começaram a “confundir” os padrões alimentares. Os alimentos ainda eram
orgânicos, entretanto, esses povos começaram a trazer comidas tropicais como
especiarias, pimentas e plantas para lugares de clima temperado.
Quem
conhece um pouco da filosofia macrobiótica, sabe que ela tem como premissa que se
deve sempre buscar alimentar-se com produtos locais, provenientes das estações
e climas de onde vivemos. Isso é o que ajuda o ser humano a ficar alinhado com
meio ambiente em que vive, evitando diversos tipos de doenças.
A partir
dos últimos dois mil e quinhentos anos então, a dieta humana já não estava mais
tão natural, entretanto, o problema só começou a piorar nos séculos XV e XVI,
por conta das grandes navegações. Foi nessa época que países como Holanda,
Espanha, Inglaterra e Portugal tentaram conquistar grandes partes do planeta. Neste
processo, eles confundiram bastante a dieta do planeta, trazendo especiarias,
plantas e alimentos tropicais para regiões de clima temperado e vice-versa em
suas colônias. Além disso, para construírem embarcações eles começaram a
depredar florestas inteiras, como na Inglaterra e em Portugal. A partir daí já
começa a haver uma mudança global, com o extermínio de completos ecossistemas. Percebe-se
então, que os problemas ambientais, tão discutidos atualmente, de novos não tem
nada.
Depois
disso, uma grande mudança ocorre com a Revolução Industrial, nos séculos XVIII
e XIX. Com o advento da tecnologia e das locomotivas, os meios urbanos começaram
a se formar. Foi neste período que começou a haver o refinamento de alimentos.
Pode-se dizer então, que o começo de uma nutrição desbalanceada foi a revolução
industrial. Neste ponto, os padrões alimentares das famílias começaram a se
alterar também. Mesmo assim, a dieta ainda não era das piores e as pessoas
ainda tinham fortes constituições físicas.
Na primeira
guerra mundial, começaram as dietas baseadas no consumo proteico. Isso teve
início na Europa, principalmente na Alemanha, para o reforço das tropas e se estendeu
para as Américas. Neste período dois fatores principais ocorreram. O primeiro
foi o desenvolvimento das técnicas de preservação dos alimentos, com a tentativa
de se criar produtos que durassem por muito tempo para poder suprir as tropas
em territórios distantes. Findada a guerra, esses alimentos passaram a fazer
parte da dieta da população. O segundo fator foi que a indústria química, desenvolvida
durante a guerra, que passou a ser utilizada no processamento de alimentos.
Fertilizantes modernos e a agricultura rica em produtos químicos são um
resultado da segunda guerra mundial. Este foi um grande marco para mudanças
alimentares radicais ocorrerem no planeta.
Depois
disso, a escola de nutrição de Harvard estabeleceu os princípios básicos da
alimentação. Foram criados quatro grupos alimentares: produtos animais,
produtos lácteos, frutas e verduras e farináceos. Foi estabelecido então, que o
ser humano precisava comer animais e produtos lácteos para garantir a ingestão
dos aminoácidos essenciais, e consequentemente uma boa saúde. Frutas e verduras
aos poucos começaram a desaparecer, sendo substituídos por geleias açucaradas e
ketchups.
Recapitulando
então, a civilização moderna começou com o cultivo de grãos, sendo este o
alimento mais importante do planeta. Aí, a renomada escola de saúde de Harvard conceitua
os grãos da dieta como farináceos. O que se pensa quando se escuta farináceos?
Em produtos refinados, açúcar, pão, massas, calorias vazias... Com isso, o
alimento de maior importância nutricional é reduzido a farináceos, cedendo
espaço às proteínas animais e laticínios, invertendo então todos os padrões
alimentares da nutrição tradicional.
Além disso,
começam a se falar dos germes. Agora, estes seres passam a ser a causa das doenças,
reforçando a mentalidade de que a responsabilidade das doenças é externa ao ser
humano, sendo este uma mera vítima indefesa. Por conta disso, gerações inteiras
não foram amamentadas. Passou-se a acreditar que uma fórmula industrializada ou
leite da vaca eram mais limpos e adequados do que o leite materno (considerado
impuro). Hoje a imunologia já comprovou que a amamentação é essencial para a
formação do sistema imune dos indivíduos, mas nesse período, uma geração inteira
(baby boomers) foi formada por lactentes humanos de leite de vaca.
A partir de
1955, começaram a surgir os fast foods e no início da década de 70 eles já
estavam alastrados pelos EUA. Agora refeições em família foram substituídas por
lanches baratos e rápidos fora de casa. As refeições são a essência dos padrões
familiares. Estudos recentes comprovam que pais que querem que seus filhos
estudem e se tornem trabalhadores irão influenciá-los fortemente se tiverem o
hábito de fazerem refeições em casa. O mesmo ocorre em relação à educação
contra o uso de drogas, que está relacionado a hábitos domésticos, união e
diálogos familiares, sendo as refeições momentos cruciais que proporcionam a
interação entre os membros de uma família.
A esse ponto as comidas naturais já não fazem
parte das dietas. Frutas e verduras são esquecidas, grãos viram farináceos e as
proteínas tornam-se a base das dietas, acrescido do fim das refeições em
família. Isso leva a um caminho totalmente distorcido das populações e do meio
ambiente, visto claramente nos dias de hoje.
Depois de
toda essa reflexão, a pergunta que faço é a seguinte: A saúde do planeta vem de
fora ou vem de dentro? Uma coisa é certa, temos problemas evidentes: pessoais,
sociais e ambientas. Para mudar isso, temos que saber onde vamos focar. Podemos
legislar um meio ambiente doente? Eu pessoalmente acredito que pessoas
saudáveis criam um meio ambiente saudável...
Como já
escrevi bastante por hoje, deixo aqui minhas ideias e prossigo o tema em outro
post, desejando a todos uma ótima semana!