Foi agachada no pé desta cama e olhando para este espelho que meu filho nasceu... Esta foto foi logo no início do trabalho de parto, antes da médica e da enfermeira chegarem lá em casa...
Me apoiando no sofá da sala para me agachar...
Esta posição aliviava o peso que sentia nas costas...
Agachada em plena contração...
Anestesia natural! Água morna, nada mais relaxante!
Tirando um cochilo entre uma contração e outra...
Eita sono....
Acho que até sonhei durante esses cochilos...
Dançando ao som de Simon and Garfunkel...
Quando a contração vinha, me agachava, sempre me apoiando em alguma poltrona ou sofá.
Mais soneca na água...
Minha queridíssima médica (a enfermeira também foi sensacional) avaliando os batimentos cardíacos do bebê...
Queria ter escrito este post há mais tempo mas não tinha conseguido achar tempo para baixar e selecionar as fotos. Na verdade, ainda tem as fotos da câmera do meu pai, mas preferi adiantar o post e depois (quem sabe?) acrescentar essas fotos.
Mais de três meses já se passaram desde o meu parto e achar tempo para escrever é outro desafio (selecionei as fotos há mais de um mês)! Saudades da época em que podia ficar horas em frente a um computador escrevendo, lendo, relendo, editando... Hoje mal consigo escrever pelo celular e dificilmente sem ser interrompida, mas sobre a maternagem escreverei depois...
Como já falei por aqui, nasci em parto domiciliar em uma época onde isso estava longe de ser um modismo e cresci achando tudo isso mais que natural. Nunca consegui nem imaginar um parto sendo de outra maneira: para mim nenhum ambiente parecia mais seguro e aconchegante que o próprio lar.
Sempre soube também que parir não era simplesmente colocar um bebê para fora e que o trabalho de parto começava pela cabeça e requeria um preparo físico prévio, sobre o qual já escrevi aqui.
Meu parto foi bem diferente daquilo que imaginava que seria e ao mesmo tempo bem parecido. Bem diferente, pois eu, sendo uma pessoa rápida, prática e objetiva, sempre achei que seria um parto rápido (não foi). Bem parecido, pois, foi exatamente no cenário que imaginei logo que soube que estava grávida.
Moro em BH há 4 anos, mas sempre soube que voltaria para Salvador para ter meu filho lá. Meus pais compraram um apartamento há 7 anos e só se mudaram ano passado. Eu, muito antes de pensar em engravidar, já tinha planejado mentalmente o local do parto no tal apartamento e foi neste exato cenário e contexto que ocorreu!
Falei aqui sobre a escolha do nome... Foi quando tudo começou! Assim que escolhemos o nome de Guilherme, entrei trabalho de parto. Era umas 20:30 da quarta-feira de cinzas... Tinha passado o carnaval tensa com a possibilidade de entrar em trabalho de parto em pleno carnaval. O apartamento dos meus pais fica, literalmente, no meio dos dois circuitos e a porta da casa deles é passagem obrigatória para todos os trios que descem para a Barra. Cada vez que desce um trio pode gerar intermináveis engarrafamentos onde fica-se ilhado!
Para se ter um parto em casa com segurança o item principal é mobilidade. É fundamental ter um plano B articulado para a necessidade de remoção para um hospital e quando isso acontece é interessante que não existam contratempos. Por esse motivo, já tinha aceitado a ideia de que se entrasse trabalho de parto durante o Carnaval, teria meu filho em um hospital. Não arriscaria estar em trabalho de parto em um apartamento onde não teria a possibilidade de sair em caso de alguma emergência.
Ele decidiu como queria e só entrei em trabalho de parto na noite da quarta-feira de cinzas. Fui monitorando as contrações com a enfermeira e a medica que assistiram o parto e às 3 da madrugada elas chegaram lá em casa.
Assim começou a novela de muitos capítulos, ou melhor, de muitas contrações.... Enquanto elas, meu marido e minha mãe arrumavam a casa, enchiam a banheira e iam organizando tudo, eu agachava a cada três minutos para aliviar o incômodo das contrações.
A banheira foi essencial, a água quentinha relaxa o corpo, diminui a intensidade das contrações e permite deixar o quadril flutuando, já que sentar ou deitar é extremamente desconfortável, pois gera peso justamente onde o corpo está "trabalhando" a abertura, dilatando, etc...
Eu DORMI entre uma contração e outra praticamente todo o tempo que estive na banheira. Pelas fotos vão perceber que apareço com 3 biquínis diferentes: é que foram 3 momentos distintos que fiquei dentro d'água, cada vez por aproximadamente uma hora.
Durante o trabalho de parto fiz um pouco de tudo, circulei pela casa, dancei, fiquei na piscina inflável... Parecia interminável!
Após umas 14 horas, minha médica olhou para mim e falou: "Você está louca que eu faça um exame de toque em você, não é?". Nem precisava responder! Precisava saber o que se passava!
Uma pequena explicação à quem não está familiarizado com as condutas do parto humanizado. Evita-se o exame de toque, pois ele não quer dizer nada! As vezes uma parturiente pode estar com 2cm de dilatação e parir uma hora depois e outra pessoa pode estar com 8cm de dilatação e levar mais 10 horas para parir.
Enfim, mesmo sabendo disso, precisava ter alguma noção de como as coisas andavam e fiquei aliviada em saber que já estava com 7cm de dilatação.
O tampão mucoso, que muita gente perde até semanas antes do parto, ainda não tinha saído e a bolsa também não tinha rompido...
Lá pras 4 da tarde (já com umas 20 horas de trabalho de parto) pedi para fazer mais um toque, estava dentro da piscina. Nessa hora descobri que já estava com 9cm de dilatação e a bolsa rompeu no momento do toque... Foi depois disso que o tampão começou a sair.
Cerca de uma hora depois, comecei a sentir outra tipo de contração, que era a expulsiva. Mas, fazia força, força e mais força e a única coisa que saía era o tampão (foi saindo em etapas).
À cada contração me agachava para fazer força e a enfermeira se abaixava para olhar com lanterna e espelhinho e nem sinal de Guilherme.
Foi então, que após umas 22 horas de trabalho de parto dei um xilique. Estava EXAUSTA e só lembrava de um caso de uma mulher que passou oito horas na expulsiva. A exaustão tomou conta de mim e só de pensar em muitas horas à mais não conseguia discernir o que era pior: esperar em casa ou ter que vestir uma roupa, encarar um carro, no auge das contrações e ir até um hospital para receber uma anestesia, oxitocina e tudo que fosse possível para acabar de vez com o parto que parecia interminável!
Bem, na hora que dei esse xilique, a medica pediu para me examinar de novo. Nessa hora ela tirou uma pele que estava entre o colo do útero e a cabeça do bebê e que não estava permitindo que ele descesse pro canal do parto. Ela já tinha tentado fazer isso quando estava na água e a bolsa rompeu, mas não tinha conseguido. SANTA INTERVENÇÃO! Parecia que estava chegando no paraíso quando ela disse: "Pronto! Agora vai."
Nem acreditava em meus olhos quando a vi se levantar, colocar luva nova, pegar uma maletinha, se paramentar toda e a enfermeira também e as duas ficarem a postos para o tão esperado nascimento!
Nesta hora estava agachada numa banquetinha em meu quarto, no pé da cama, meu marido sentado atrás de mim, minha mãe numa poltrona ao lado e meu pai num corredorzinho na porta do quarto. Ela perguntou: "Onde vai querer que seja?" Eu respondi: "Como assim, aonde? Aqui e agora!" Ela estava querendo saber se queria voltar para a água ou ir para outro ponto da casa... Eu, com a minha praticidade MOR, estava querendo que aquilo acabasse LOGO!!!
Só que não foi tão rápido assim! A partir desse momento até o nascimento ainda levou cerca de uma hora. Mas foi a melhor parte! Estava defronte a um espelhão e vi tudo! À cada contração ia vendo abrir mais um pouco, depois a cabecinha aparecendo aos poucos... Tudo isso me deu uma injeção extra de força, pois estava vendo que o esforço não estava sendo em vão... Até a hora que ela disse: "Pode caprichar na força que na próxima contração vai!" E foi!!!! Tão rápido que quando vi já estava com meu meninão nos braços! Eu estava tão exausta que nem sequer chorei, a minha maior sensação foi de alívio! Há uma hora estava com uma sensação de: isso parece não ter fim!
Ele já saiu de dentro de mim BERRANDO! Tadinho, se para mim foi EXAUSTIVO, para ele deve ter sido muitooooo difícil!! Também, quem mandou nascer tão grande?!? 4.210kg e 53cm!!!
O processo expulsivo lento foi essencial para não lascerar muito lá embaixo, pois foi abrindo aos pouquinhos e no fim só precisei tomar dois pontinhos. A cicatrização foi super rápida, coisa que não teria acontecido se tivesse passado por uma episiotomia.
O parto? Foi exatamente como aquela expressão que usamos para falar de algo demorado é complicado: UM PAAAAARTO! Mas depois que Guilherme nasceu: acabou tudo! Tomei meus pontos, depois ele mamou, tomei um banho, dormi e no dia seguinte estava de short e camiseta, andando pela casa e recebendo visitas.
Sim, faria tudo novamente. Dor? Sim, dói, mas acho que o cansaço é MUITO maior que a dor e isso vai variar com o tempo do trabalho de parto. No meu caso foram 23 horas e meia, praticamente sem sentar, deitar ou dormir (com exceção dos cochilos que dei na água) me agachando à cada 3 minutos, sentindo contrações... Acho que um parto que leve de 6 a 12 horas deve ser muito tranquilo, pois o item exaustão reduz bruscamente!
Não tem preço estar inteira no dia seguinte, podendo se cuidar e cuidar do seu bebê. No meu caso, não teve preço acordar no dia seguinte em meu quarto, em minha cama, usar o meu banheiro, comer minha comida, tudo o mais aconchegante possível!
Hoje penso na experiência do parto como um aprendizado de vida. Cada um tem aquele que precisa ter. É algo que foge completamente do nosso controle e pessoas com temperamento controlador como eu aprendem muito com a experiência que tive. Além disso, agora, após três meses de maternagem, posso dizer: se tudo fosse o parto... Cansativo mesmo é ser mãe!!!