Nos últimos dias tenho estado numa condição invejavelmente
boa: de férias e com bastante tempo para ler! Além disso, tenho passado a maior
parte do meu tempo sozinha o que me dá uma oportunidade ímpar: estar comigo
mesma.
Nestas horas, ler pode ser difícil. A dificuldade vem do fato de ser uma prática solitária - com exceção dos tempos de escola,
quando liamos em sala de aula, em voz alta e tínhamos a rica oportunidade de
discutir com a turma e o professor as entrelinhas. O comentário posterior à leitura é interessante, entretanto, nunca
tem a força da experiência que ocorre no ato da leitura.
Não sei se isso acontece com outras pessoas, mas
determinadas leituras dão-me uma vontade DESESPERADA de conversar com alguém (ou será comigo mesma?) e
na falta desta pessoa, converso com o livro, rabiscando os contornos das
páginas... Aí fico em um embate: continuo lendo (pois a leitura está
maravilhosa) ou pauso para refletir mais longamente sobre os conteúdos
recém-absorvidos?
Em minha experiência pessoal, estas pausas reflexivas não me
levam a lugar algum. Preciso fazer o que estou fazendo neste exato momento:
refletir e escrever ao mesmo tempo! Você pensa que eu já sabia o que ia
escrever quando abri mais uma tela em branco no Word®? Claro que não. A única coisa que sabia, era que estava no
meu limite da leitura e precisava colocar algo para fora... Daí, tive vontade
de começar escrevendo sobre o dilema do leitor solitário.
É como um copo que enche. Se você não para e bebe o conteúdo
e continua derramando líquido nele, ele transborda. Quando leio, acontece a
mesma coisa. Preciso digerir, para assimilar e algumas vezes até vomitar, antes
de prosseguir com a leitura. Aí, a leitura se torna ainda mais lenta e aquele
livro de 600 páginas passa a ter pelo menos 1200.
Por este motivo, acredito que os romances costumam ser a
leitura predileta da maioria das pessoas. Funcionam como novelas, onde o leitor
acompanha o enredo sem precisar parar para refletir sobre ele. O que eles fazem
é dar mais vontade de ler, para saciar a curiosidade e descobrir logo o que vem
depois. São livros que estimulam uma velocidade acelerada da leitura, enquanto existem outros (bem menos populares) que praticamente imploram por pausas para assimilação.
É muito comum ouvir pessoas dizendo: “Não gosto de livros de
autoajuda” e nunca consegui compreender esta afirmação. Parece-me um
preconceito não fundamentado de pessoas que provavelmente desconhecem um bom
livro de autoajuda. E o que esta pessoa deve ler? Notícias? Romances? Entendo
que possa haver algum tipo de identificação entre o leitor e estes conteúdos e
por isso mesmo são tão populares, mas para mim é como escolher assistir à vida
ao invés de vivenciá-la.
Eu penso justamente o contrário: eu AMO livros de autoajuda.
Claro, que para tudo existem critérios e obviamente existem diversos tipos de autoajuda,
assim como diversos tipos de romances. Ano passado, senti-me bastante esquisita
por ter lido três livros, que absolutamente fogem ao meu tipo de leitura. Acho
que a última vez que tinha lido algo meramente por lazer foram os três
primeiros Harry Potters, em
2001/2002. Eis que em 2013 rendi-me aos romances de Marian Keyes: Melancia,
Sushi e Férias, que confesso serem bem escritos, cativantes, leves e
divertidos, excelentes para descontrair. Aconteceu assim: fui passar uma semana
“de férias”, no sertão nordestino, em pleno mês de janeiro - a única coisa que
você quer é ficar o maior tempo possível em um quarto com ar-condicionado devido ao calor sufocante lá fora, que no meu caso, tinha péssima conexão à internet. O mais próximo de uma livraria que encontrei foi
uma Lojas Americanas, onde comprei os
três livros, que foram a salvação do meu tédio no quarto solitário, durante
aquela semana. Televisão NUNCA é uma opção para mim em termos de passatempo,
não por rebeldia e sim por simplesmente não conseguir ficar mais de cinco
minutos olhando para uma tela sem sentir uma ansiedade incrível, então, sendo
bem sincera ela é como Mc Donalds: não lembro que existe TV quando estou ociosa
e nem que existe Mc Donalds (mesmo que seja ao lado de minha casa) quando estou
com fome. Acontece que a semana terminou e continuei lendo os livros, pois me
cativaram e dar prosseguimento a estas leituras trouxe-me uma sensação de estar
“perdendo” tempo precioso de leitura, que podia estar sendo dedicado a algum tema
mais útil... Enfim, a verdade que pude comprovar, após este resgate a um tipo
de literatura pueril no ano passado, é que os romances realmente têm um forte
apelo, pois permitem a fuga e a diversão: nada mais são do que novelas por
escrito.
Da mesma forma que não assisto a novelas, ler romances está
longe de se tornar um hábito. Gosto de leituras que me cutucam, que despertam a
minha curiosidade, que me tornam mais indagadora... Gosto de histórias
verídicas para entender a mente humana e, portanto as biografias também são escolhas
frequentes. Infelizmente, no entanto, sobram pessoas aptas a discutir novelas e
faltam as que estejam dispostas a discutir temas profundos, existenciais e filosóficos
– principalmente longe do uso de qualquer substância entorpecente. Não consigo
compreender, aliás, como alguém pode achar mais interessante vivenciar experiências
profundas que refletem a própria essência, longe da sobriedade.
Sempre vi muitas pessoas associarem arte e música ao uso da
maconha, por exemplo, e simplesmente não consigo entender. Porque iria querer
escutar Pink Floyd “doidona” ou visitar o Inhotim “fumada”? Dizem que é para
aumentar a sensibilidade, para mim, qualquer coisa que tire a minha sobriedade
diminui minha capacidade de transgressão pautada no mundo real X eu mesma. Ou talvez
seja extra sensível por natureza... Não sei, afinal, observamos o mundo através
de nossas experiências individuais e o máximo que podemos fazer para
compreender o próximo (mesmo quando pareça incompreensível) é ter compaixão. Acho
que a maior diferença entre um bom papo filosófico à base de um entorpecente e
sóbrio é que no primeiro a filosofia é baseada em devaneios e no segundo os
devaneios são baseados em fatos objetivos.
Enfim, não gosto de rotular grupos e apenas citei “os
maconheiros”, pois de fato, dentre os “grupos” que já convivi são os que mais frequentemente estão abertos a conversar sobre temas que vão além das manchetes de jornal e novelas da Globo. E claro, escrevi tudo isso com um único objetivo: explicar porque considero a prática da leitura deliciosa
e difícil ao mesmo tempo e a solução que encontrei na falta de ter com quem
conversar: escrever! Agora que estou mais leve vou retornar à minha leitura!! =)