segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Eu sei mas não devia

Conheci esse texto há mais de 10 anos e me marcou. Hoje ao relê-lo vejo o quão atemporal e verdadeiro é. Abaixo transcrito.


Eu sei mas não devia, Marina Colasanti, 1996

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Onde vamos parar?


Hoje vou transcrever e traduzir a letra de uma música, trilha sonora de um filme baseado em uma história real. Li o livro e assisti ao filme e a história cutuca a gente, nossos valores, ambições, necessidades, relações...


Recomendo: Into the Wild ou Na Natueza Selvagem. Trata-se da história de um jovem de 23 de anos, vindo de família rica americana que após terminar a faculdade resolve abandonar tudo e viver pelo mundo, sobrevivendo com o mínimo necessário, embarcando em uma aventura onde retorna à condição humana mais básica.


Society – Eddie Veder


Oh it's a mystery to me.
We have a greed, with which we have agreed...
and you think you have to want more than you need...
until you have it all, you won't be free.


Society, you're a crazy breed.
I hope you're not lonely, without me.

When you want more than you have, you think you need...
and when you think more then you want, your thoughts begin to bleed.
I think I need to find a bigger place...
cause when you have more than you think, you need more space.


Society, you're a crazy breed.
I hope you're not lonely, without me.
Society, crazy indeed...
I hope you're not lonely, without me.


There's those thinkin' more or less, less is more,
but if less is more, how you keepin' score?
It means for every point you make, your level drops.
Kinda like you're startin' from the top...
and you can't do that.


Society, you're a crazy breed.
I hope you're not lonely, without me.
Society, crazy indeed...
I hope you're not lonely, without me
Society, have mercy on me.
I hope you're not angry, if I disagree.
Society, crazy indeed.
I hope you're not lonely...
without me.



Sociedade - Eddie Veder


Oh é um mistério para mim
Nós temos uma ganância na qual temos concordado
E você pensa que você tem que querer mais do que o que precisa...
Até ter tudo, não estará livre.

Sociedade, você é uma cria louca
Eu espero que não se sinta só sem mim.

Quando você quer mais do que o que pode ter, você acha que precisa...
E quando você pensa mais do que deseja, seus pensamentos começam a sangrar
Eu acho que tenho que arrumar um lugar maior...
Porque quando você tem mais do que o que pensa, você precisa de mais espaço.

Sociedade, você é uma cria louca
Eu espero que não esteja solitário sem mim
Sociedade, de fato louca
Eu espero que não esteja solitária sem mim


Há aqueles que pensam mais ou menos, menos é mais
Mas se menos for mais, como pode saber os resultados?
Significa que para cara ponto que você marca, seu nível é rebaixado
Como se iniciasse pelo topo...
E você não pode fazer isso.

Sociedade, você é uma cria louca
Eu espero que não esteja solitária sem mim
Sociedade de fato louca..
Eu espero que não esteja solitária sem mim
Sociedade tenha piedade de mim
Eu espero que não fique zangado se eu descordar
Sociedade de fato louca.
Eu espero que não esteja solitária sem mim.





Comfortably Numb



Às vezes me questiono quantos de nós vivemos uma realidade de letargia confortável. Eu pessoalmente me sinto assim muitas vezes, esta sensação me incomoda.



O cotidiano nos obriga a passar batido por certas realidades e seguimos nosso caminho sem tempo de olhar para trás ou para os lados. Vivemos no automático quando estamos insatisfeitos com algo em nosso cotidiano e nada fazemos para mudar, apenas buscamos modos compensatórios para não pensar no que nos desagrada.


É fato que é impossível viver em estado de satisfação plena, mas o que questiono é qual a porcentagem do tempo que estamos vivendo e qual a parcela que estamos deixando a vida passar por nós.


A vida entrou em um processo automático que me questiono onde foram parar os princípios. A alimentação já deixou de ser algo sagrado há muito tempo. Come-se para matar a fome. Os efeitos de maus hábitos alimentares são gritantes através de sintomas e doenças que são rapidamente abafados por medicamentos. Não há tempo para comer, nem para adoecer.


Quando praticamos uma atividade física muitas vezes é por necessidade, mas não necessariamente pelo prazer que ela pode nos dar. Muitos não gostam de malhar em academias, mas é a opção mais prática para se encaixar no dia-a-dia. Os que conseguem encaixar esta atividade no cotidiano ainda contemplam uma minoria “de sorte”, mesmo que seja uma etapa enfadonha do seu dia. Quem aprecia um determinado esporte na maioria das vezes não têm tempo para dedicar-se a ele e o mesmo ocorre com idiomas e variados hobbies.


O hábito da leitura é delicioso, mas a rotina chega a ser tão cansativa que só sobra sono nas horas livres. Ainda existe aquela exigência exterior de estar antenado com a realidade o que nos obriga a nas horas vagas assistir ao jornal na TV, ler uma revista de atualidades e nos encher de informações que como costumo dizer: enchem ainda mais o nosso HD que já anda exausto com tanta informação e cotidiano.


Vivemos dopados quando passamos pela cidade e já estamos tão acostumados com a presença das favelas que a pobreza muitas vezes passa despercebida. O sentimento de estarmos de mãos atadas ante a realidade do nosso país é desesperador, principalmente quando aliado a tanto descontentamento e decepção na política.


Vivemos confortavelmente dopados, pois já nos acostumamos a tanta miséria, corrupção e injustiças e mesmo assim conseguimos nos fechar em nossos mundos ignorando tudo isso na busca pela felicidade.


Por outro lado, se mergulharmos de cabeça na miséria alheia acabaremos deprimidos e ainda assim de mãos atadas. Será a felicidade um reflexo de ignorância e egoísmo? Será o estado de letargia a melhor solução para sobreviver ao cotidiano caótico e acelerado?

Comfortably Numb - Pink Floyd: http://www.youtube.com/watch?v=tkJNyQfAprY

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Delícias Solitárias

Imagem tirada do Google Imagens

Aos carentes de plantão, vim falar hoje sobre a auto-suficiência. Muitos de meus amigos brincam comigo, me chamam de doidinha e autista pela minha capacidade de estar só.

Sempre defendo e recomendo às pessoas que experimentem a delícia de estar sozinho. É completamente diferente da solidão, pois é uma opção e não imposição.

Com a vida social atribulada que tenho, muitas vezes sou obrigada a estar cercada de tanta gente que mal consigo escolher para onde vou ou com quem estou. Talvez por conta disso valorize tanto as horas que posso estar sozinha e sinto um enorme prazer em pequenas coisas, como passar uma hora nadando em uma meditação profunda entre água, sol e azulejos.

Durante a adolescência, ocorria sempre de ganhar ingressos para festas de última hora e às vezes uma única unidade. Super festeira, isso nunca foi um empecilho e lá ia eu... Acho que foi minha iniciação à auto-suficiência. Quando descobri as maravilhas de se ir sozinho a um lugar, ser dona de meus horários e de atos, ficou difícil querer voltar a sair acompanhada para alguns lugares.

Em festas e shows não há nada melhor. Em Salvador existe uma certeza absoluta de que sempre encontraremos alguém conhecido nos lugares. Logo, impossível se sentir solitário. A atitude de ir sozinho a um lugar lhe dá a liberdade de ir no horário que melhor convier e chegando no local perambular sozinho, escolher o melhor lugar para sentar, no caso de encontrar muitas pessoas conhecidas ficar transitando de grupo em grupo, ficando o tempo que considerar pertinente cercada de determinadas pessoas. No caso de não conhecer ninguém pode se juntar a um grupo ou alguém interessante para um papo ou simplesmente ficar observando o comportamento das pessoas socialmente.

De todas as formas é uma experiência muito interessante, agradável e prática. Na hora de ir embora, não precisa esperar ninguém, nem entrar em acordos de horários, nada: quem dita as regras é você mesma.

Se você é uma dessas pessoas que precisa de companhia para ir à esquina, se liberte. Experimente a vida independente, vai ver o quanto ganha no tempo e na realização de suas vontades fazendo as coisas sozinha. Aí vale tudo, desde comprar uma roupa ou um presente no shopping, ir ao cinema, à praia, ao museu, sentar para tomar um café, sair para correr e até mesmo viajar.

No momento que descobrir a delícia de se curtir, dará mais valor aos momentos em que estiver acompanhada, pois serão frutos de opção e não de dependência e sempre que quiser fazer algo que seja de interesse pessoal e intransferível saberá que contará com a melhor das companhias: você!



domingo, 11 de outubro de 2009

A Jornada da Vida

O que é a perseverança? Para uns é lutar até o fim e alcançar algo desejado. É isto mesmo! Mas como? Lutar por algo com um caminho simples é fácil. E aquela luta difícil? Aquela que te faz querer desistir a cada passo? Como não desistir? Como perseverar em uma jornada tão difícil e sofrida?


Um bom começo é pensar na recompensa. Na vida, as melhores coisas são frutos de grandes esforços. Saber que o que se possui é resultado de um trabalho árduo é em si uma grande gratificação.

Outro caminho é pensar naqueles que nos rodeiam. As pessoas que depositam confiança na gente e que de alguma forma possuem expectativas de algum retorno. Um pai que paga a escola para o filho, um patrão que cede uma vaga de emprego...

No momento de um aprendizado, existe sempre alguém se doando para ensinar, gratidão a quem tira o melhor de si e passa adiante. Gratidão por um corpo saudável, pela capacidade física de poder andar, se movimentar e assim ajudar quem não pode. A soma das capacidades individuais anula as limitações alheias.

Gratidão à inteligência. Em poder e saber ler e escrever. Em ter a possibilidade de desfrutar de tudo que o mundo oferece: os livros, ter acesso a pessoas sábias e amigas, e ainda, o poder benéfico da palavra. A possibilidade de transmitir o bem, de poder ajudar, alegrar com um simples gesto ou palavras.

Temos todas as ferramentas e o livre arbítrio de agir para o bem ou para o mal. Temos todos os motivos para FAZER o bem. Basta querer! Querer ser feliz, ir até o final, saber que a vitória existe e que deve ser alcançada. Lutar contra o negativo, contra o que te puxa para baixo e por algum motivo te faz acreditar que algo não é possível.

Nada é impossível quando se quer. O céu é o limite, temos que alcançá-lo. Temos que saber, porém, que nada na vida vem de graça e que sempre encontraremos barreiras, cada vez mais altas. A cada uma que escalamos, a sensação de vitória nos dará forças para lutar mais, pelo simples fato de sabermos que somos capazes e fazemos nossos momentos, nossas vidas, nossas escolhas.

To all my friends



Special People are people who we:

Just worry about
Wish to be happy
Want to be next to
Don´t mind givin´ a hand
Remember good moments
Forgive bad ones and try hard to forget them
Like to celebrate with
Feel happy just by receiving:
A phone call,
A letter,
A postcard,
A kiss,
A hug,
A smile,
A text message,
A simple note,
Or anything else that makes you know
That you´re special to someone
As much as this person is to you

That´s why I wrote this
Because sometimes I feel as if
I´d like to be with thousands of people
But routine turns it hard
And time even harder.

That doesn´t mean though
That I forgot how special you are to me
How much I like you
That I´m always thinking of you
That you can always rely on me
Even when we seem to be far apart
Because we haven´t seen or talked to each other lately

That all happens because
Good friends are always good friends
No matter what happens.
Memories of good moments,
Important acts and sweet words,
Can´t ever be taken away by time from our minds.

To all my friends!

Love always,
Camila

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Melhor Forma

Esse retorno do país das maravilhas andou me tirando até a criatividade para escrever...

Saudades de meus momentos de inspiração. É tão ruim olhar pro blog, querer escrever e não vir nada na cabeça... Por isso resolvi simplesmente começar e lá veio uma idéia: é sempre assim, como tudo na vida, os processos só ocorrem quando iniciados.

Pois bem, vou escrever sobre o processo criativo hoje.

Acredito que todos somos criativos de uma forma ou de outra, porém a criatividade é algo que precisa ser exercitada. Nossos músculos não crescem sem exercícios e com nosso cérebro não podia ser diferente.

Todo trabalho exige criatividade. Quando na escola, para elaborar uma capa legal, ou inovar numa apresentação. Levamos isso para a vida, seja trabalhando em empresas e trazendo soluções rápidas em horas de aperto ou simplesmente tendo um “click” no dia-a-dia.

Existem trabalhos que exercitam ainda mais a criatividade, é como se fosse uma musculação de hipertrofia e não de condicionamento físico para o cérebro. Colocaria todos os trabalhos artísticos nesse meio, incluindo publicidade e arquitetura. Não podemos esquecer os professores, pessoas que passam as mesmas informações ano após ano, sempre com idéias para inovar e manter as turmas entusiasmadas. Os métodos são inúmeros e inusitados.

Acho que a melhor forma de criatividade é aquela que ocorre espontaneamente. Quando vira obrigação perde grande parte da sensação de serendipia. Falando nessa palavra, que sensação boa que ela transmite quando ocorre, hein? Mesmo em processos criativos obrigatórios (quando criamos algo para um cliente, correndo por causa de prazo, preço e outras limitações), quando o “click” bate é inexplicavelmente gostoso.

Como diriam os Titãs (mais uma vez falando deles): “As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução.” É isso aí, o meu viva ao processo criativo, que todos nós consigamos sempre inovar com boas idéias, seja em casa, no trabalho, nos relacionamentos, chegando ao clímax da criatividade que chamo de SERENDIPITY. (Aprendi a palavra em inglês primeiro, por isso acho que soa muito melhor do que em nosso idioma...)

http://www.youtube.com/watch?v=tfV3z4yu8hc