Escolhi a foto de uma comida que amo para ilustrar esse texto (Foto: Kundan Palma, prato: Camila Lisboa). Pouco conhecido no Brasil, esse prato contem tempeh na chapa com óleo de gergelim, shoyu e nirá! Delícia!! =)
Nunca comi carne vermelha; frango, só se for caipira (umas 2x ao ano); peixe e frutos do mar esporadicamente... Não posso dizer que sou vegetariana, mas sou quase!! Os vegetais e cereais são a base de minha dieta.
Uma das razões que não me torno vegetariana é que prefiro ter uma boa proteína animal de vez em quando a suplementar Vitamina B12, manipulada. Acredito muito na energia dos alimentos como nutriente principal, e por isso evito ao máximo produtos industrializados... Assim, abasteço meu corpo com nutrientes provenientes de dieta e não através de cápsulas e comprimidos...
Por ter estudado em escola americana a maior parte de minha vida, muita gente duvidou da capacidade de passar no vestibular (passei em todos, inclusive na UFBA e na UNEB, super concorridos) e principalmente de saber português (não sou nenhuma 'expert', mas o blog é uma pequena prova de que desenvolvi bem o idioma, não é mesmo?). Da mesma forma, sempre me perguntaram se eu não tinha anemia por não comer carne e recentemente começou a moda da deficiência de B12. Sempre fui muito cuidadosa com exames de rotina e nunca tive nenhum tipo de carência: nem de cálcio, nem de ferro, nem de vitamina B12... NADA!!! Por outro lado, conheço muita gente que estudou em escola brasileira, teve problemas em passar no vestibular e comete pedradas no idioma português... Isso sem falar nos inúmeros carnívoros anêmicos que encontro por aí... Exemplifiquei tudo isso para mostrar que nossa sociedade é cheia de mitos. Eu não sou exemplo de nenhum tipo de milagre e sim de um estilo de vida saudável e equilibrado.
Hoje recebi um texto de uma amiga que achei a cara de muitas das minhas crenças. Apesar do meio acadêmico ser guiado apenas por aquilo que é cientificamente comprovado, meus estudos e prática pessoal me fazem questionar um pouco a ciência, até porque, ainda existem muitas perguntas sem respostas e contradições eternas... Na ciência: um dia o ovo é bom, no outro é vilão... Por aí vai... Fica difícil confiar tão cegamente nos artigos publicados. O tema é bem polêmico, mesmo assim resolvi compartilhar. Espero que gostem!
O mito da vitamina B12 e o vegetarianismo
Texto de Paula Savino (baseado nos ensinamentos do prof. Michio Kushi)
Muito se tem dito sobre a inexistência da vitamina B12 em alimentos de
fonte unicamente vegetal, no entanto existe uma má compreensão sobre o assunto. Muitas pessoas entre médicos e nutricionistas acreditam que ela só é
encontrada em alimentos de origem animal como carne de fígado, ovos e
laticínios.
Primeiramente antes de entrarmos em controvérsias, vamos dar uma olhada
no que é exatamente a vitamina B12 e como ela trabalha para manter nossos
corpos saudáveis. A vitamina B12 ou cobalamina é um complexo solúvel em água, essencial para o
crescimento e para a função neurológica. Imprescindível para a síntese do DNA e
por esta razão para o desenvolvimento celular.
A insuficiência da vitamina B12 tem efeito imediato nas células
vermelhas do sangue que estão entre as células de multiplicação mais rápida do
organismo. Sem vitamina B12 suficiente as células não se desenvolvem
adequadamente, elas se tornam aumentadas e gradualmente menos e menos células
são produzidas deixando o corpo sem oxigênio, fraco e pálido.
Uma deficiência de vitamina B12 também pode causar danos neurológicos.
Os efeitos começam com indiferença e sensação de formigamento nas mãos e pés,
evoluindo para uma eventual perda de sensibilidade nos membros inferiores, que
sobe pela coluna espinhal reduzindo a coordenação motora e finalmente afetando
o cérebro. Inicialmente as pessoas podem apresentar mudanças no temperamento, cansaço
e irritabilidade e isto pode deteriorar-se para perda de memória, psicose e finalmente
morte.
A anemia perniciosa é o resultado da inabilidade de absorver a vitamina
B12 e é aptamente denominada por causa da sua tendência de progredir calmamente
até subitamente explodir em uma aguda falha neurológica, na qual o dano possa
ser irreversível. Crianças que se apresentam com carência de B12 têm a tendência de se
desenvolverem mais lentamente.
Uma das razões de que as insuficiências de B12 são raras é que as suas
necessidades são as mais baixas de todas as vitaminas. O organismo a reserva
tão bem que a maioria das pessoas carrega reservas de B12 por muitos anos. As
dosagens de B12 recomendadas pela Food And Nutrition Board da National Academy
of Science vai de 0.3 microgramas para crianças, de 3 microgramas para o adulto
e 4 microgramas para as mulheres grávidas e em fase de lactação. Muitos
pesquisadores acreditam que nós podemos utilizar menos quantidades de B12 e
alguns nutricionistas dizem algo em torno de meio micrograma por dia. As
deficiências são maiores em países do Ocidente e se apresentam comumente
devido a uma inabilidade de absorver o nutriente mais do que uma falha na
dieta.
Segundo Rudolph Ballentine (médico e diretor do Himalayan Internacional
Institute, EUA), a vitamina B12 é frequentemente encontrada como uma bactéria
ou bolor na casca de frutas e vegetais plantados organicamente. Nas culturas
onde os alimentos são ainda organicamente plantados e não processados
quimicamente e onde não existe o consumo de ovos, carne ou leite, a deficiência
de vitamina B12 é rara. Alimentos plantados organicamente geralmente também
contêm traços de bactérias do solo ou mesmo pequenos insetos que são difíceis
de serem vistos ou removidos completamente. Estes fatores por si só podem ser
suficientes para prover as pequenas doses de vitamina B12 que são necessárias.
Quando os alimentos são plantados com o uso de pesticidas, os insetos e
bactérias são eliminados totalmente e o processamento químico para torná-lo
mais longo para o consumo poderá remover qualquer traço da vitamina B12.
Segundo Herman Aihara, fundador do GOMF (George Oshawa Macrobiotic
Foudantion) de acordo com a ciência moderna a B12 é uma vitamina que contém
cobalto, que permite que o corpo converta ferro em células vermelhas do sangue.
De acordo com o ensinamento da macrobiótica, a B12 é uma enzima ou substância
intermediária que promove reações químicas e a transmutação dos elementos.
Dr. K. Morishita alega que nós somos capazes de manufaturar a vitamina
B12 da celulose pela bactéria existente no intestino grosso, como nós fazemos
no caso da vitamina B1 e B6. De acordo com a compreensão macrobiótica o plasma
sangüíneo é formado pelos intestinos e é depois transmutado em células brancas
e vermelhas do sangue. O consumo excessivo de alimentos quimicalizados e o uso
desmedido de medicamentos químicos como os antibióticos enfraquecem e destroem
a flora intestinal (que contém micro-organismos benéficos) e interferem na
formação da B12 pelo próprio organismo. Portanto intestinos saudáveis e
mastigação completa são os agentes mais importantes para curar a anemia por
falta de B12.
Ainda de acordo com o Dr. Morishita, as pessoas que estão mudando seus
hábitos convencionais alimentares em direção a uma dieta de base mais
vegetariana devem consumir regularmente durante a fase de transição, sopa de
missô ou pasta de missô com tahine, missô refogado com cebolinhas verdes, mochi
(bolinhos feitos a partir de arroz moti integral), peixe de carne branca e
ocasionalmente ovos orgânicos se necessário. Em casos severos de anemia perniciosa devem ser incluídas quantidades
moderadas de carne de fígado animal.
De fato algumas pessoas acreditam que é quase impossível se ter uma
deficiência de B12 a menos que existam problemas de absorção haja vista que o
organismo produz a B12 nos intestinos. Existem vários outros fatores que confundem o assunto da B12 e
vegetarianismo, incluindo a existência da falsa B12 que os laboratórios
confundem com a B12 real e diferentes testes para a medição de B12 nos
alimentos. Na verdade os novos estudos de laboratório não têm oferecido uma
palavra final sobre esta controversa vitamina.
Defensores do vegetarianismo têm mantido que a vitamina B12 pode ser
encontrada em todos os alimentos fermentados, particularmente em alimentos derivados
da soja como tempeh, missô, shoyu, nattô e também em fermentos biológicos, em
fungos como o cogumelo shitake, em algas marinhas e micro-algas como a
espirulina e a clorela.
Embora se saiba que a vitamina B12 não é produzida por nenhum alimento
vegetal diretamente, proponentes de fontes vegetarianas da vitamina B12,
afirmam que as bactérias que crescem nestes alimentos causam quantidades
apreciáveis de vitamina B12.
O tempeh indonésio contém 1.5
a 6.3 microgramas de B12 por 100 gr de porção, o
suficiente para satisfazer as necessidades da Academia Nacional de Ciências dos
EUA No entanto, preocupações com relação a um maior saneamento no meio da
produção, diluições no inoculador e outros procedimentos diferentes dos métodos
tradicionais de fabricação, interferiram na qualidade final do produto,
diminuindo consideravelmente o seu conteúdo de B12. Hoje em dia o tempeh é
fabricado nos EUA e no Canadá em ambientes livres de bactérias e em
equipamentos mais sofisticados e mais asseados, diferentemente do tempeh tradicional fabricado na
Indonésia envolvido em folhas de
bananeira e sem saneamento excessivo e contudo rico em vitamina B12.
Segundo o microbiologista de alimentos, Steinkraus “é o saneamento pobre
que produz um tempeh rico em vitamina B12. Os casos de deficiências de B12 no
3º mundo são raros. Esta é uma das vantagens de um ambiente menos asséptico”.
De acordo com o Prof Michio Kushi, o problema da vitamina B12 e o
vegetarianismo é muito simples: “Uma dieta equilibrada se consiste de uma ampla
variedade de cereais integrais, vegetais frescos e cozidos, feijões e derivados
da soja como tofu, tempeh, missô, shoyu,etc. algas marinhas, nozes e sementes,
frutas da estação e uma variedade moderada de alimentos do mar como peixe e frutos do mar .Uma dieta
equilibrada que inclua uma variedade de tais alimentos poderá suplementar
definitivamente todos os requerimentos nutricionais necessários. Infelizmente
existem alguns adeptos do vegetarianismo que tentam seguir uma dieta
excessivamente estrita. Se as pessoas limitarem severamente suas dietas, elas
poderão experimentar insuficiências nutricionais incluindo uma deficiência de
B12 . Isto não significa que toda dieta
vegetariana seja deficiente, mas que apenas os princípios e técnicas culinárias
não estão sendo propriamente aplicados. Alimentos tradicionais fermentados,
algas marinhas, peixe e frutos do mar são ricos em vitamina B12. No caso das
algas marinhas é importante notar que o demolho pode esgotar quase que
totalmente a B12. As algas devem apenas ser esponjadas ligeiramente de forma a
remover qualquer areia ou sujeira antes de cozinhá-las. Se forem deixadas de
molho, a água do demolho deverá ser utilizada no cozimento”. Para mulheres
grávidas ou que estejam amamentando e que precisam de uma fonte abundante de
vitamina B12, Michio Kushi recomenda que elas se alimentem de forma a
satisfazer os seus desejos. “Se elas desejam ovos ou galinha, estes devem ser
orgânicos. O consumo de proteína animal pode ser enfatizado e consumido 2 a 3x na semana em quantidades
moderadas, 5 a
10 % do volume total da refeição. Nestes casos os peixes de carne branca e
alguns frutos do mar são usualmente as melhores fontes de origem animal de B12.
As crianças com carência de B12 também podem incluir uma quantidade regular de
peixe na sua alimentação de base assim como moderadas quantidades de alimentos
que contenham gordura insaturada. A maioria das crianças adora alga nori e elas
podem consumir de 1/2 a 1 folha de nori a cada dia. Em casos severos de má
nutrição, a criança deve alimentar-se mais abertamente, incluindo outros alimentos
de origem animal (ovos, galinha e laticínios orgânicos) se for necessário.”
É muito importante que as pessoas que praticam o vegetarianismo evitem
uma mentalidade rígida e inflexível. Nós todos devemos desenvolver mentes
flexíveis e amplas propostas de vida. A variedade de alimentos que nós
consumimos e a maneira com que os preparamos, contribuem em grande extensão
para uma visão mais ampla da vida. As necessidades de micro nutrientes
individuais podem não ser tão importantes se nós não formos capazes de
compreender e agir de maneira dinâmica em ordem de equilibrar a nossa saúde.
A visão holística de nos alimentar nos dá os instrumentos necessários
para que possamos estabilizar a nossa saúde e estimular as nossas vidas. Como
pessoas livres não precisamos limitar as nossas perspectivas de vida e nem a
nossa proposta com relação a uma dieta. Usando a nossa intuição e nos
alimentando de uma maneira equilibrada estaremos nutrindo o nosso organismo
adequadamente.
As deficiências nutricionais aparecem quando nos tornamos deficientes
com relação à compreensão dos amplos princípios da vida.