terça-feira, 25 de agosto de 2009

Realizar é preciso

Não tenho a menor dúvida de que há uma aventureira frustrada em mim, uma vontade de desbravar o mundo, uma forte ligação com a natureza. Amo o mar, navegar, nadar, fazer trilhas, tomar banho em rios e cachoeiras... O contato excessivo que tenho com a vida urbana às vezes me sufoca e procuro sair dela olhando o mar, mergulhando nele e escutando o seu som quando estou na cidade e sempre que possível viajando. Quando não posso, me transporto através de leituras e navegando pela web.

Assumo que tenho uma forte atração por aventureiros, grandes companheiros de viagem, mesmo na solidão do meu quarto. Já estive no Himalaya com Jon Krakauer, respirando seu ar rarefeito... Agora ele me conduz pela natureza selvagem do Alasca e outras localidades nos Estados Unidos... Volta e meia embarco no Endurance com Shackleton e sua tripulação para a Antártida. Com Amyr Klink senti frio e calor, vi a neve, pingüins, baleias e cheguei à praia de minha infância: Itacimirim. Resolvi postar aqui hoje algumas passagens deste último com as quais me identifico muito, assim como os links de uns vídeos legais. Boa viagem!



Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver Amyr Klink, Mar Sem Fim


Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão... solidão foi a única coisa que não senti depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava, sim atacado por uma voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudade, mas nunca estará só. Amyr Klink, Cem Dias Entre Céu e Mar.

Falando em navegação, como não lembrar de Fernando Pessoa...?

Navegar é Preciso - Fernando Pessoa
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.