quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Comfortably Numb



Às vezes me questiono quantos de nós vivemos uma realidade de letargia confortável. Eu pessoalmente me sinto assim muitas vezes, esta sensação me incomoda.



O cotidiano nos obriga a passar batido por certas realidades e seguimos nosso caminho sem tempo de olhar para trás ou para os lados. Vivemos no automático quando estamos insatisfeitos com algo em nosso cotidiano e nada fazemos para mudar, apenas buscamos modos compensatórios para não pensar no que nos desagrada.


É fato que é impossível viver em estado de satisfação plena, mas o que questiono é qual a porcentagem do tempo que estamos vivendo e qual a parcela que estamos deixando a vida passar por nós.


A vida entrou em um processo automático que me questiono onde foram parar os princípios. A alimentação já deixou de ser algo sagrado há muito tempo. Come-se para matar a fome. Os efeitos de maus hábitos alimentares são gritantes através de sintomas e doenças que são rapidamente abafados por medicamentos. Não há tempo para comer, nem para adoecer.


Quando praticamos uma atividade física muitas vezes é por necessidade, mas não necessariamente pelo prazer que ela pode nos dar. Muitos não gostam de malhar em academias, mas é a opção mais prática para se encaixar no dia-a-dia. Os que conseguem encaixar esta atividade no cotidiano ainda contemplam uma minoria “de sorte”, mesmo que seja uma etapa enfadonha do seu dia. Quem aprecia um determinado esporte na maioria das vezes não têm tempo para dedicar-se a ele e o mesmo ocorre com idiomas e variados hobbies.


O hábito da leitura é delicioso, mas a rotina chega a ser tão cansativa que só sobra sono nas horas livres. Ainda existe aquela exigência exterior de estar antenado com a realidade o que nos obriga a nas horas vagas assistir ao jornal na TV, ler uma revista de atualidades e nos encher de informações que como costumo dizer: enchem ainda mais o nosso HD que já anda exausto com tanta informação e cotidiano.


Vivemos dopados quando passamos pela cidade e já estamos tão acostumados com a presença das favelas que a pobreza muitas vezes passa despercebida. O sentimento de estarmos de mãos atadas ante a realidade do nosso país é desesperador, principalmente quando aliado a tanto descontentamento e decepção na política.


Vivemos confortavelmente dopados, pois já nos acostumamos a tanta miséria, corrupção e injustiças e mesmo assim conseguimos nos fechar em nossos mundos ignorando tudo isso na busca pela felicidade.


Por outro lado, se mergulharmos de cabeça na miséria alheia acabaremos deprimidos e ainda assim de mãos atadas. Será a felicidade um reflexo de ignorância e egoísmo? Será o estado de letargia a melhor solução para sobreviver ao cotidiano caótico e acelerado?

Comfortably Numb - Pink Floyd: http://www.youtube.com/watch?v=tkJNyQfAprY

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