quinta-feira, 21 de julho de 2011

Vivalavanca!!!



Para quem não conhece, a Escola Musso é um sitio em Mairiporã, interior de São Paulo, que funciona como sede de encontros da comunidade macrobiótica brasileira. Eu estranhamente, apesar de macrobiótica desde o útero materno só vim a conhecer esse paraíso perdido após 27 primaveras. Este mês de Julho acabou de acontecer por lá o XXXIV Seminário Internacional de Inverno onde estava presente.

Nascida em família macrobiótica, ser assim sempre me foi tão natural que nunca parei para pensar no significado de ter tido essa criação, essa relação com o mundo. A macrobiótica em minha vida tem a força de uma verdade absoluta e como tal nunca foi questionada.

Engraçado que as pessoas sempre me perguntam como foi ser uma criança macrobiótica em meio a pessoas convencionais. Nunca tinha uma resposta para essa pergunta, porque nunca parei para pensar nela. Na infância nunca me senti diferente de ninguém, meus hábitos alimentares nunca me colocaram em distinção aos meus colegas.

Estudei em uma escola onde tinham pessoas muito mais abastadas do que eu e da mesma forma com hábitos alimentares completamente distintos. Acho que cresci sabendo que diferenças existem e isso é o natural da vida, via meus amigos com famílias diferentes, hábitos (financeiros e alimentares) e sabia que nosso laço de amizade independia de qualquer um desses fatores.

Com um perfil muito sociável, freqüento meios dos mais diversos, conheço gente de todas as raças, idades e classes sociais e se tem uma coisa que posso dizer que sei fazer bem é lidar com diferenças. Tão bem que nunca tinha me dado conta da falta que fazia estar próxima de pessoas mais parecidas que eu. Na verdade, acho que a diversidade sempre me encantou tanto que a via como uma forma de crescimento. Assim, fui somando experiências distintas e absorvendo pontos positivos de cada mundo (cabeça) que cruzava o meu caminho.

A primeira pessoa macrobiótica que conheci em Salvador foi aos 26 anos. Fiquei encantada, uma sensação muito louca descobrir depois de uma vida que existem outras pessoas vivendo a mesma realidade e filosofia que eu sempre compartilhei com a minha família.

Anos antes disso já tinha descoberto a força que a macrobiótica tem em minha vida. Ocorreu quando fui morar sozinha na Espanha e pela primeira vez ia ter que me virar para comer. Significava que a comida ia parar de brotar na geladeira e na mesa. Antes disso nunca tinha precisado cozinhar na vida e ao me deparar com a situação a minha primeira providencia foi aprender a fazer arroz integral e colocar uma panela de pressão na bagagem, para poder cozinhar meu arroz assim que tivesse um fogão.
Outra providencia foi futucar sobre a cidade que iria morar, Valencia, e saber se havia algum movimento macrobiótico por lá. Para minha surpresa descobri um centro e uma loja de produtos naturais e orgânicos de cair o queixo. Descobrir esse mundo, fora da minha realidade soteropolitana foi fascinante.

Foi um ano de descobertas, estava morando sozinha, em outro país, outro idioma, convivendo 100% com pessoas absolutamente novas e distintas. Aprendi a cozinhar sozinha e descobri um dom pela culinária apesar de ser algo totalmente novo. Foi um ano de grandes extravagâncias também, usei e abusei da liberdade de estar sozinha, paradoxalmente ao fato de estar preocupada com a minha alimentação, comprando comidas integrais e cozinhando, nas horas vagas me excedi no açúcar como nunca, assim como no álcool e nas farras. Como a comida natural era quatro vezes mais cara do que a convencional, muitas vezes economizava no item alimentação para juntar uma grana para viajar, que também era uma novidade (principalmente por um custo tão baixo pela Europa). Enfim, nada disso foi perdido, muita novidade junta e eu jovem, naturalmente querendo provar um pouco de tudo. A única conseqüência negativa foram os 10kgs que ganhei, mas como diz o professor Kikuchi, não existe saúde sem doença e eu precisava engordar tanto para dar valor ao corpo que sempre tive, sem nunca ter passado fome e com uma saúde de ferro graças à Macrobiótica.

Minha constituição era tão boa, entretanto, que apesar dos 10kgs passei um ano imune de gripes, febres e doenças – coisas que pegaram de jeito em algum momento todos aqueles (não macrobióticos) intercambistas vivendo a mesma realidade que eu.
Como me cegar para esse fato? Cheguei ao Brasil e em dois meses, somente de retornar aos meus bons e velhos hábitos saudáveis emagreci 8kgs. Nessa idade é fácil recuperar saúde e a lição foi maravilhosa!! Se antes já dava valor à minha boa saúde, depois disso comecei a vê-la como algo primordial em minha vida.

Com isso a idéia de algo que sempre pareceu absolutamente instintivo para mim (como andar e falar) se mostrou como sendo algo super especial. Percebi que fazia parte de uma minoria privilegiada com acesso a uma educação alimentar diferenciada e essa dádiva precisava ser compartilhada.

Anos antes já vivia às voltas com a idéia de fazer nutrição, pois sempre me fascinou estudar o tema. Cheguei até a fazer vestibular, passar, me matricular... Todavia, acabei optando em concluir a faculdade de arquitetura e encarando essa paixão como um hobby. Só que ela foi crescendo exponencialmente até o ponto de que a arquitetura como profissão começou a perder o sentido, queria trabalhar com alimentação, dedicar não somente as horas livres a essa paixão, mas também as horas de trabalho, de sono, de lazer – em suma, transformar o hobby em profissão.

Como toda mudança, isso levou um tempo, afinal, estava me estabelecendo em uma coisa e me mostrando bem sucedida nela. Estava juntando uma grana há um tempo e resolvi ir aos EUA fazer um curso profissionalizante intensivo de macrobiótica no maior centro do mundo. Se existia alguma sombra de dúvida acerca de revolucionar a minha vida e dedicá-la à Macrobiótica, depois dessa experiência me enchi de certezas.

Retornando ao Brasil resolvi futucar todo o meio da macrobiótica, mantive e expandi laços virtuais graças ao Facebook e por onde venho andado tenho desbravado cada vez mais pessoas. A realidade que pareceu solitária por 26 anos agora se mostrou um mundo. Esse final de semana havia 110 pessoas no encontro. Simplesmente mágico e indescritível a sensação de compartilhar uma refeição (na verdade várias) com tanta gente que come arroz integral como se fosse ouro comestível, que mastiga lentamente, que não desperdiça a comida e que celebra a cada momento a magia e a consciência de sermos aquilo que comemos.

É isso aí... Esse é apenas o início de uma longa jornada que me aguarda. Vivalavanca!!!

2 comentários:

  1. É amiga, é realmente indiscritível o significado da macrobiótica... Obrigada por me apresentá-la, estou amando essa experiência e pretendo seguir com ela em minha vida. Pode me considerar mais uma companhia macrô dos seus 27 e seguidos anos de vida. O seminário foi muito bom mesmo, presença garantida em todos os anos, eim? Vamos lá, força! VIVALAVANCA, ALAVANCA VIVA!

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  2. Pois é Camila! Pois é!....Na verade estou querendo dizer: Pois é Camila - Valeu!

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