Esse clima
de Carnaval traz muitas lembranças. Estou aqui assistindo um filme dos meus
antigos carnavais em minha cabeça e resolvi escrever sobre eles. Sou jovem, mas
quando me lembro de minha adolescência me sinto um pouco velha, pois vejo que
as coisas mudaram bastante.
Meu
primeiro carnaval foi aos 14 anos. Lembro que no ano anterior tinha mudado de
escola (saído de uma escola americana para uma escola Brasileira). Como o ano
letivo nas escolas americanas terminam em junho, tinha passado o semestre de
ouvinte e em paralelo fazendo um curso de adaptação em matemática. O curso era
pesado, fiz uma apanhado geral de oito anos e seis meses e lembro que o pacto
era que se eu acabasse antes do Carnaval que eu poderia ir pro Carnaval. Esforcei-me
e acabei na véspera.
Uma das
formas que meus pais tinham de não me incentivar para ir às festas era não me
dando dinheiro para pagar os ingressos. Não adiantava, sempre dava meus pulos e
conseguia as coisas de graça. No meu primeiro carnaval, uma grande amiga era sobrinha
de um dono de bloco e conseguiu os abadas. Ela morava no meio do circuito e
nesse tempo o carnaval começava na quarta-feira. “Mudei-me” para a casa dela na
quarta, reformamos nossos abadas e RUA!! Quatro dias de folia!! Nos outros três
dias, minha irmã tinha um amigo que estava lançando um bloco de carnaval na avenida e deu
50 abadas para ela distribuir para as amigas bonitas para “florir” o bloco. Foi
lindo, levei uma amiga e estavam lá todos os amigos de minha irmã. Tudo de
bom!!!
Naquele
tempo, quando acabava o bloco, todas as pessoas se encontravam na rua onde
morava a minha amiga, apelidada de “beco de Ondina”. Hoje em dia é um lugar
péssimo, violento e baixo astral... Antigamente era o “point” de encontro das
pessoas de todos os blocos e como estava hospedada justamente lá, chegava,
tomava um banho e descia limpinha para encontrar a galera. Ainda não existia a
febre dos camarotes, todo mundo ia para os blocos e depois se encontrava na
rua. Hoje as pessoas que querem muita farra vão para os blocos e depois para
camarotes, as outras vão diretamente para os camarotes (que para mim é uma maresia, mal se consegue ver o Carnaval e a única diversão é beber, já que a maioria é Open Bar). Quem decide ir para a rua,
dificilmente encontra amigos e curte mesmo. Com sorte encontra um lugar “tranquilo”
(para não dizer menos violento/perigoso) para ver os blocos passarem, mas se
você quer fazer uma social e curtir de verdade, hoje só pagando caro!!
No meu
segundo ano de Carnaval, tinha vendido 19 abadas como comissária de um bloco
(Cocobambu - Asa de Água) e ganhei o meu de graça (se tivesse vendido 20 ganharia 2 abadas).
Nesse ano estava bem dividido: metade da galera estaria nele e a outra metade
no Nana Banana (Chiclete com Banana). As minhas amigas (fieis companheiras do ano anterior) iam para o Nana, mas eu já estava conformada de ir com outra galera
para o Coco (o Nana era mais caro, se quisesse trocar teria que pagar uma boa
diferença). Para a minha surpresa, na véspera do carnaval, o namorado de minha
amiga terminou o namoro e ambos tinham comprado o Nana. Ela aceitou o
término com uma condição: que ele trocasse o abada comigo sem eu precisar pagar
nenhuma diferença, pois ela não queria estar no mesmo bloco dele. Foi lindo, para o desespero de meus pais,
consegui sair de graça no bloco mais caro, com todas as minhas amigas! Para
completar, nos outros dias, a minha amiga, que tinha ido comigo no ano anterior
para a avenida, conseguiu uns abadas do Bloco Eva e lá fomos nós!! Bom
demais!!!
Aí posso
enumerar 10 anos de carnavais. Sempre a mesma coisa, meus pais não me davam
nada, eu ficava até a última hora sem saber o meu destino e quando menos
esperava, ganhava algo muito legal. Em outros anos trabalhei na entrega de abadas
de blocos e ganhei também... Sempre dava um jeito de garantir a minha
festa, mesmo a contragosto de meus pais.
Esse é o
quinto ano que eu “pulo fora” do Carnaval. Confesso que depois que
comecei a trabalhar e ganhar o meu suado dinheirinho, nunca tive coragem de
pagar as fortunas que se cobram nos camarotes da moda. Prefiro viajar, sair da
confusão, etc. Claro que se ficar em Salvador, acabo ganhando algum bloco ou camarote, mas
já não é a mesma coisa... Acabou o beco, acabou a fase de todas as amigas
solteiras acampadas em Ondina ou até mesmo em minha
casa (nos dias de avenida o “point” era a casa dos meus pais). Hoje as pessoas
vão para camarotes que são festas dentro das festas, ninguém nem sabe o que
está passando na rua. São como ilhas, onde as pessoas se isolam completamente
do que está acontecendo lá fora... Não vejo a menor graça! Do carnaval ficaram
somente as MARAVILHOSAS lembranças, mas hoje prefiro ficar bem longe dele!
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