sexta-feira, 6 de julho de 2012

Probióticos e saúde intestinal



Como diz o provérbio: Prevenir é melhor do que remediar. É justamente nessa linha que atuam os alimentos funcionais: uma classe de alimentos que além de fornecer a nutrição básica, promove a saúde, atuando na prevenção de doenças.
Faz parte da classificação dos alimentos funcionais, as bactérias probióticas. Isso mesmo, bactérias! A sociedade moderna demoniza esses seres, criando todo tipo de produtos antissépticos como enxaguantes bucais e sabonetes que prometem eliminá-los de vez. O que muita gente não sabe é que o corpo necessita de bactérias e outros micro-organismos, como protozoários, fungos anaeróbios, leveduras e bacteriófagos na manutenção de uma microbiota endógena saudável. Micro-organismos como o Staphylococcus, o Streptococcus o Enterococcus e o Clostridium, vivem em harmonia com seres humanos hígidos, desempenhando inúmeras funções para manter a homeostase em diversas partes do corpo como a pele, a cavidade oral, o estômago e o intestino.
            Antes do nascimento, o intestino humano é estéril. Os primeiros micro-organismos endógenos são transferidos para os bebês através do canal do parto, sendo outros micro-organismos introduzidos juntamente com os primeiros alimentos.  A colonização definitiva é obtida aproximadamente aos dois anos de idade, acompanhando o ser humano pelo resto de sua vida. Por este motivo, a microbiota intestinal materna exerce função determinante na colonização efetiva do trato gastrintestinal do recém-nascido, que poderá sofrer severas alterações quando privado da lactação humana.  Estudos comprovam que lactentes alimentados com leite materno possuem flora fecal diferente dos que são alimentados com fórmulas industrializadas. O primeiro grupo tendo predominância de bifidobactérias e lactobacillus e o segundo apresenta mais coliformes e bacteroides.
A colonização destes micro-organismos no intestino é fundamental no fortalecimento do sistema imune e consequente proteção do hospedeiro. Além disso, não há como subestimar o fato de que mais de 75% do peso seco de produtos fecais serem compostos por células bacterianas. Mudanças fisiológicas, que aumentem ou diminuam o peristaltismo, a quantidade de ácido clorídrico secretado no estômago ou até o muco secretado ao longo do trato, poderão alterar as comunidades microbianas residentes. Dietas parcialmente ou completamente industrializadas, pobres em nutrientes podem atuar como cofatores para a ocorrência de tais alterações fisiológicas. Entretanto, dos fatores exógenos, os que parecem mais perniciosos são os agentes antimicrobianos, capazes de causar mudanças rápidas e drásticas na microbiota normal.
Alguns fatores que exercem grande influência no estabelecimento do equilíbrio microbiano são: idade; dieta; tratamentos farmacológicos; radioterapia; utilização de probióticos e prebióticos; estresse; microbiota materna; via do parto; lactação; interações microbianas; interações micro-organismo-hospedeiro; e a presença de certos genes e receptores.
            E o que são probióticos e prebióticos? Probióticos são justamente aqueles micro-organismos que quando administrados em doses adequadas têm o poder de conferir saúde e benefícios ao seu hospedeiro. Os prebióticos, por sua vez, são componentes alimentares não digeríveis que irão contribuir para o desenvolvimento de uma microbiota saudável, estimulando o crescimento de determinas espécies bacterianas. Alimentos que contém probióticos e prebioticos são denominados de simbióticos.
As bactéricas probióticas caracterizam-se, na maior parte das vezes, por inúmeras espécies anaeróbias estritas, presentes no intestino. A ação delas ocorre através de certos alimentos, com parcelas não digeríveis, que chegando ao intestino, irão selecionar determinadas bactérias da microbiota endógena. Antes de poderem colonizar o intestino, entretanto, terão de sobreviver à alta acidez estomacal. Uma microbiota saudável, ou seja, com quantidade equilibrada de bifidobactérias, poderá impedir que outros micro-organismos, potencialmente patogênicos, colonizem o meio. Por outro lado, quando em desequilíbrio, a microbiota poderá funcionar como agente facilitador à proliferação de patógenos, resultando em infecções bacterianas e/ou fúngicas.
Os alimentos fermentados, ricos em bifidobactérias, são relatados em escritos que datam antes de Cristo, como o exemplo do historiador Plínio que recomendava produtos lácteos fermentados como tratamento de gastroenterite e também no antigo testamento, onde a longevidade de Abraão foi atribuída à ingestão de leite azedo. Acredita-se que as técnicas de fermentação ácido-lática de alimentos já eram praticadas pelos hominídeos a cerca 1,5 milhões de anos, A.C. e incorporadas à prática humana cerca de 10 mil anos atrás, como forma segura de preservação de alimentos. Após a Revolução Industrial, entretanto, a prática foi reduzida drasticamente nos países mais desenvolvidos, podendo este fato estar associado ao aumento dos casos de doenças gastrointestinais e imunológicas a partir do século XX. Somente na década de 80 do século passado que se retomou a ideia de que determinadas cepas poderiam estar associadas a efeitos benéficos na saúde humana.  
Os primeiros estudos científicos sobre probióticos datam do início do século passado com o trabalho do russo Metchnikoff, no Instituto Pasteur. Esse pesquisador, pioneiro de estudos sobre o sistema imune, postulou que os leites fermentados produziam seus efeitos benéficos no hospedeiro porque antagonizavam bactérias perniciosas no intestino. Sabe-se hoje que a microbiota intestinal tem as seguintes funções: resistência à colonização por outros micro-organismos, a imuno-modulação e a contribuição nutricional devido às interações locais e metabólitos produzidos.
Alguns alimentos exercem papel fundamental no fornecimento de nutrientes para a microbióta endógena, como: fibras, oligossacarídeos, açúcares, alguns lipídeos e proteínas. Além disso, o próprio cólon fornece nutrientes essenciais como mucinas, tecidos epiteliais, enterócitos, ácidos biliares e colesterol. Juntos formam um meio saudável, capaz de sintetizar vitaminas do complexo B e vitamina K, que serão utilizadas pelo hospedeiro.
Quando presentes nos alimentos, de forma natural ou adicionada, os probióticos são capazes de exercer benefícios aos seus hospedeiros, melhorando o balanço microbiano endógeno. Estudos apontam alguns efeitos que podem ser atribuídos às culturas probióticas, como: controle das infecções intestinais; estímulo da motilidade intestinal, alívio da constipação intestinal; melhora na absorção de alguns nutrientes; melhora dos sintomas associados à intolerância à lactose; diminuição nos níveis de colesterol; efeitos anticarcinogênicos; e estímulo do sistema imunológico.
Existem várias espécies de micro-organismos endógenos, efetivos em casos diferentes, tais como: diarreia induzida por antibióticos, intolerância a lactose, síndrome do intestino irritável e outros. A Organização Mundial de Gastroenterologia publicou um guia que contém uma lista dessas bactérias, separadas por gênero, espécie e cepa, explicitando os efeitos comprovados de cada uma delas. O guia, disponível no site: www.worldgastroenterology.org, aponta algumas espécies mais comuns como: Lactobacillus, Bifidobacteriumare, o fungo Saccharomyces cerevisiae alguns tipo de E. coli e Bacillus. Assim sendo, o termo deve ser utilizado para denominar cepas específicas, levando em consideração que a fermentação fornece sabores característicos aos alimentos, além de reduzir o pH, prevenindo a contaminação por patógenos em potencial.
Uma tendência da sociedade moderna tem sido justamente o retorno aos costumes antigos. Como foi apontado no texto, o uso e a importância dos probióticos na manutenção da saúde humana não correspondem nenhuma novidade. Entretanto, com os adventos das tecnologias e processos industriais o homem afastou-se deveras do seu habitat natural, o que acabou acarretando na disseminação de inúmeras doenças. Agora, retorna a atenção às épocas passadas, tentando descobrir porque em civilizações antigas não havia índices tão altos de epidemias modernas, como as doenças crônicas não transmissíveis e descobre que as mudanças nos padrões alimentares estão intimamente relacionadas a este fenômeno. Ironicamente, os adventos farmacológicos não tem parecido eficazes no tratamento de tais quadros patológicos, uma vez que podem causar severos efeitos adversos, a exemplo do impacto dos antibióticos na microbiota endógena. Sendo assim, não resta outra solução a não ser o retorno às tradições, como preconizou o pai da medicina, Hipócrates: “Que o seu remédio seja o seu alimento, e o seu alimento o seu remédio”.

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