Curando
a Terra
Texto de Michio Kushi
O inglês dele é um pouquinho difícil de entender, mas vale a pena o esforço... Sábias palavras sempre!
"Se deixarmos de lado a dieta moderna, cuja base são as carnes, o açúcar branco e os alimentos processados, e adotarmos a alimentação tradicional, que tem seu fulcro nos cereais integrais vegetais, nós estaremos promovendo não apenas a nossa própria saúde, mas também a saúde do planeta do planeta como um todo. 'Os vegetais destinados à engorda de um boi', observou o poeta Shelley, 'poderiam fornecer dez vezes mais nutrientes do que a carne do animal, assegurando ainda saúde aos homens, caso fossem consumidos por eles diretamente.'
O
estilo moderno de se alimentar-fundado no hábito de comer carne e, portanto, na
pecuária - tem efeito direto sobre a saúde da população mundial, sobre a fome
planetária e sobre o meio ambiente. Tais efeitos só agora é que começam a ser mais
bem compreendidos.
Hoje
a causa subjacente da pobreza e da fome em grande parte do mundo não é senão a
agropecuária moderna, que reserva a maior parte da terra arável para a criação
de gado e para plantações que geram lucros quase que imediatos, tais como as de
tomate, cana-de-açúcar, café e bananas. Nos países do terceiro mundo, 10
milhões de famílias cultivadoras de grãos e vegetais têm sido desarraigadas de
suas terras ancestrais em virtude da proliferação de fazendas de gado,
plantações de cana de açúcar e outros empreendimentos agropecuários modernos. À
procura de alimento e trabalho, elas se aglomeram nas áreas metropolitanas,
criando gigantescas favelas, engrossando a fileira de desempregados, tornado-se
parte de uma espiral degenerativa de fome, doença, crime e destruição.
Cerca
de 80% das colheitas de grãos do mundo são destinadas à criação de gado e não
ao consumo humano. Há mais alimento do que o necessário para aplacar a fome no
planeta. O problema é que a maior parte deles serve de alimento para o gado,
com o objetivo de produzir carne e laticínios. Assim que a sociedade retornar a
uma dieta mais vegetariana, a miséria e a fome mundiais automaticamente
decrescerão.
Os
efeitos do agronegócio sobre o meio ambiente são também profundos.
Em
um relatório a respeito do impacto deste setor da economia sobre o meio
ambiente, publicado décadas atrás, a American Association for the Advancement
of Science concluiu que a adoção de uma dieta baseada em cereais integrais e
vegetais, e não em carnes, aves e outros alimentos de origem animal, poderia
“ter efeitos significativos sobre a terra e a água; sobre os recursos naturais
e combustíveis, refletindo no custo de vida; sobre a taxa de emprego e sobre o
balanço do comércio internacional”.
Fundamentado
em números da indústria e governo, o relatório resumiu seu veredicto desta
forma:
Efeitos sobre a Terra: Nos Estados Unidos, a
produção de alimentos de origem animal consome 85% de toda safra agrícola e utiliza
95% de toda terra arável, sendo largamente responsável pelo uso abusivo de
pastagens naturais e florestas e pela perda de produtividade do solo em virtude
da erosão e do esgotamento mineral.
Efeitos sobre a Água: Nos Estados Unidos, a
produção de alimentos de origem animal consome quase 80% de toda a água
canalizada e é amplamente responsável pela poluição de 2/3 das bacias do país e
pela geração de mais da metade da carga poluente que devasta rios e lagos.
Efeitos sobre a Vida Selvagem: A produção de alimentos
de origem animal é responsável pela vasta destruição de vida selvagem em
virtude da invasão de florestas e pastagens naturais, e também por causa do
envenenamento e captura descontrolada de predadores.
Efeitos sobre a Energia: A produção, industrialização
e preparo de alimentos de origem animal consome cerca de 14% do orçamento
norte-americano destinado à energia, o que corresponde aproximadamente ao total
do combustível necessário para o funcionamento de todos os automóveis, a quase
todo o petróleo importado e a mais que o dobro da energia fornecida pelas
usinas nucleares.
Efeito sobre as Matérias Primas: O beneficiamento e
empacotamento dos produtos de origem animal utilizam grandes quantidades de
matérias brutas, estrategicamente importantes e escassas, incluindo alumínio, cobre,
ferro, aço, estanho, zinco, potássio, borracha, madeira e petróleo.
Efeitos sobre as Fontes Nutricionais: 90% de nossos grãos e
legumes, e aproximadamente metade dos pescados, são destinados à criação de
gado, enquanto 800 milhões de indivíduos estão passando fome.
Efeitos sobre o custo de vida: Carnes geralmente custam
cinco ou seis vezes mais do que alimentos de origem vegetal que fornecem a
mesma quantidade de proteína, O consumo delas aumenta o orçamento doméstico e
os custos com cuidados médicos.
Efeitos sobre a Taxa de Desemprego: A produção e a
industrialização de alimentos de origem animal têm levado à centralização e
automatização deste setor da economia, condenando ao desemprego e à falência
milhares de trabalhadores e pequenos fazendeiros, respectivamente.
Efeitos sobre o Comércio
Internacional:
O valor das importações de carne e outros produtos de origem animal e o valor
da maquinaria, substancias químicas e petróleos destinados à produção desses
mesmos alimentos somam aproximadamente uma quantia equivalente ao déficit
comercial norte-americano.
Além
disso, durante as últimas décadas a relação entre a produção de alimentos de
origem animal e a crise ambiental tem-se tornado mais conhecida:
Destruição das Florestas tropicais: Cerca de 50% das
florestas tropicais do mundo têm sido destruídas nas ultimas décadas. O fato
que mais influencia na abertura de clareiras nas florestas é a utilização de
suas terras pela pecuária. Cientistas denunciam que os hambúrgueres feitos a
partir de carne importada das Américas do Sul e Central representam grave perda
de grandes extensões de floresta tropical. As florestas tropicais contem cerca
de 2/3 de toda a vida animal e vegetal do planeta. São milhares, potencialmente
milhões de espécies que correm o risco de extinção.
Desertificação: O agronegócio tem
provocado o esgotamento do solo, pois a criação de gado leva à degeneração da
superfície do campo e, consequentemente, grandes extensões de terra tornam-se
estéreis. Chuvas artificiais e outros métodos antinaturais de mudança
atmosférica têm interferido nos padrões e ciclos originais, resultando na
acelerada perda de terra arável e na expansão de regiões desérticas através da
África, Ásia Central, parte da América Latina e outras regiões.
Aquecimento Global: A quantidade de dióxido
de carbono e outros gases que produzem o efeito estufa têm aumentando ano a
ano. Cientistas prevêem que, se este aumento continuar, o aquecimento global ocasionará
o derretimento de geleiras, elevando o nível dos oceanos e inundando numerosas
ilhas e regiões litorâneas onde vivem centenas de milhões de pessoas. Mudanças
dos padrões atmosféricos e ciclos de colheitas já têm sido observados ao redor
do mundo. Geralmente pensamos que a indústria moderna é a principal causa do
aquecimento global. Entretanto, analisando mais detidamente, verificamos que o
agronegocio contribui amplamente para o aumento do efeito estufa. A
proliferação de clareiras nas florestas tropicais (que atuam como se fossem os
pulmões do planeta, abastecendo-nos de oxigênio e absorvendo o gás carbônico) e
a produção de gás metano e outros que geram o efeito estufa pelo gado, tudo
isso concorre para o aquecimento global.
Nos
seres humanos, o câncer é uma doença provocada pela intemperança. No planeta a
crise ambiental é o resultado do consumo cronicamente excessivo dos recursos
naturais. De fato, a magnitude da crise em curso tem levado vários estudiosos a
concluírem que a própria Terra contraiu uma doença terminal. Metáforas comparando
alguns dos problemas do planeta com o câncer, doenças circulatórias e AIDS
estão se tornando cada vez mais freqüentes. A formação de depósitos tóxicos no
solo é como se fosse o desenvolvimento de tumores nos órgãos vitais. A poluição
dos rios pode ser equiparada à leucemia e aos linfomas. A redução da camada de
ozônio compara-se a perda de imunidade natural do planeta. Nos seres humanos, o
câncer se desenvolve com a carência de oxigênio para metabolizar
apropriadamente os alimentos e produzir sangue de boa qualidade. Não podemos
obter energia calórica sem que tenhamos oxigênio suficiente. Ultimamente os
médicos vêm recomendando o consumo de grãos integrais e vegetais frescos ricos
em vitamina A, C e E - os antioxidantes - porque estes ajudam a regular a
disponibilidade de oxigênio no corpo. Numa escala planetária, a formação de
dióxido de carbono e outras toxinas indicam que a terra como um todo está
desenvolvendo uma condição cancerosa.
A
alimentação baseada em produtos de origem animal é perigosa para o meio
ambiente. Em 1991, pesquisas indicavam que cozinhar carne contribui para a
poluição do ar, em virtude da liberação de hidrocarbonetos, esteróis e resíduos
de pesticidas. Em Los Angeles, cidade bastante conhecida por causa da poluição
atmosférica, a maior fonte de ar poluído era o churrasco, que excedia em
poluição as lareiras, os veículos à gasolina ou diesel, os incêndios
florestais, a metalurgia, o avião a jato e os cigarros.
É mais do que claro que o planeta precisa
urgentemente curar-se. Por vários anos vimos alertando sobre o fato de que o
mundo exterior reflete o mundo interior. Em nosso trabalho nunca deixamos de
afirmar que a consciência ecológica começa na mesa. A saúde do indivíduo não
pode ser separada da saúde do planeta e a ponte entre ambas não é outra senão
alimentos saudáveis e naturais. Se estivermos sãos, a natureza não corre o
risco de ser maltratada. Mas se estamos doentes, ela torna-se vitima de toda a
sorte de vilipendiações. O contrario também é verdadeiro. A qualidade do mundo
exterior determina a qualidade de nossa vida. Se o meio ambiente encontra-se
livre de poluição, nós nos podemos manter saudáveis e felizes. Mas se ele se
encontra poluído, nós facilmente nos tornamos enfermiços e tristes.
Décadas
atrás, esta visão começou a repercutir no interior de um segmento do movimento
ambientalista, pois a conexão entre a produção de alimentos de origem animal e
a crise planetária tornou-se evidente. Importantes organizações ambientalistas
têm lançado campanhas locais e internacionais para reduzir o número de cabeças
de gado no planeta, diminuir o consumo de carne e estimular a adoção de uma
dieta mais centrada no consumo de alimentos integrais de origem vegetal.
Segundo estas organizações, este será o melhor caminho para assegurar tanto a
saúde individual quanto planetária."
Nenhum comentário:
Postar um comentário