quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Câncer Planetário (parte 3)

Curando a Terra 
Texto de Michio Kushi


O inglês dele é um pouquinho difícil de entender, mas vale a pena o esforço... Sábias palavras sempre!

"Se deixarmos de lado a dieta moderna, cuja base são as carnes, o açúcar branco e os alimentos processados, e adotarmos a alimentação tradicional, que tem seu fulcro nos cereais integrais vegetais, nós estaremos promovendo não apenas a nossa própria saúde, mas também a saúde do planeta do planeta como um todo. 'Os vegetais destinados à engorda de um boi', observou o poeta Shelley, 'poderiam fornecer dez vezes mais nutrientes do que a carne do animal, assegurando ainda saúde aos homens, caso fossem consumidos por eles diretamente.'

O estilo moderno de se alimentar-fundado no hábito de comer carne e, portanto, na pecuária - tem efeito direto sobre a saúde da população mundial, sobre a fome planetária e sobre o meio ambiente. Tais efeitos só agora é que começam a ser mais bem compreendidos.

Hoje a causa subjacente da pobreza e da fome em grande parte do mundo não é senão a agropecuária moderna, que reserva a maior parte da terra arável para a criação de gado e para plantações que geram lucros quase que imediatos, tais como as de tomate, cana-de-açúcar, café e bananas. Nos países do terceiro mundo, 10 milhões de famílias cultivadoras de grãos e vegetais têm sido desarraigadas de suas terras ancestrais em virtude da proliferação de fazendas de gado, plantações de cana de açúcar e outros empreendimentos agropecuários modernos. À procura de alimento e trabalho, elas se aglomeram nas áreas metropolitanas, criando gigantescas favelas, engrossando a fileira de desempregados, tornado-se parte de uma espiral degenerativa de fome, doença, crime e destruição.

Cerca de 80% das colheitas de grãos do mundo são destinadas à criação de gado e não ao consumo humano. Há mais alimento do que o necessário para aplacar a fome no planeta. O problema é que a maior parte deles serve de alimento para o gado, com o objetivo de produzir carne e laticínios. Assim que a sociedade retornar a uma dieta mais vegetariana, a miséria e a fome mundiais automaticamente decrescerão.
Os efeitos do agronegócio sobre o meio ambiente são também profundos.

Em um relatório a respeito do impacto deste setor da economia sobre o meio ambiente, publicado décadas atrás, a American Association for the Advancement of Science concluiu que a adoção de uma dieta baseada em cereais integrais e vegetais, e não em carnes, aves e outros alimentos de origem animal, poderia “ter efeitos significativos sobre a terra e a água; sobre os recursos naturais e combustíveis, refletindo no custo de vida; sobre a taxa de emprego e sobre o balanço do comércio internacional”.

Fundamentado em números da indústria e governo, o relatório resumiu seu veredicto desta forma:

Efeitos sobre a Terra: Nos Estados Unidos, a produção de alimentos de origem animal consome 85% de toda safra agrícola e utiliza 95% de toda terra arável, sendo largamente responsável pelo uso abusivo de pastagens naturais e florestas e pela perda de produtividade do solo em virtude da erosão e do esgotamento mineral.

Efeitos sobre a Água: Nos Estados Unidos, a produção de alimentos de origem animal consome quase 80% de toda a água canalizada e é amplamente responsável pela poluição de 2/3 das bacias do país e pela geração de mais da metade da carga poluente que devasta rios e lagos.

Efeitos sobre a Vida Selvagem: A produção de alimentos de origem animal é responsável pela vasta destruição de vida selvagem em virtude da invasão de florestas e pastagens naturais, e também por causa do envenenamento e captura descontrolada de predadores.

Efeitos sobre a Energia: A produção, industrialização e preparo de alimentos de origem animal consome cerca de 14% do orçamento norte-americano destinado à energia, o que corresponde aproximadamente ao total do combustível necessário para o funcionamento de todos os automóveis, a quase todo o petróleo importado e a mais que o dobro da energia fornecida pelas usinas nucleares.

Efeito sobre as Matérias Primas: O beneficiamento e empacotamento dos produtos de origem animal utilizam grandes quantidades de matérias brutas, estrategicamente importantes e escassas, incluindo alumínio, cobre, ferro, aço, estanho, zinco, potássio, borracha, madeira e petróleo.

Efeitos sobre as Fontes Nutricionais: 90% de nossos grãos e legumes, e aproximadamente metade dos pescados, são destinados à criação de gado, enquanto 800 milhões de indivíduos estão passando fome.

Efeitos sobre o custo de vida: Carnes geralmente custam cinco ou seis vezes mais do que alimentos de origem vegetal que fornecem a mesma quantidade de proteína, O consumo delas aumenta o orçamento doméstico e os custos com cuidados médicos.

Efeitos sobre a Taxa de Desemprego: A produção e a industrialização de alimentos de origem animal têm levado à centralização e automatização deste setor da economia, condenando ao desemprego e à falência milhares de trabalhadores e pequenos fazendeiros, respectivamente.

Efeitos sobre o Comércio Internacional: O valor das importações de carne e outros produtos de origem animal e o valor da maquinaria, substancias químicas e petróleos destinados à produção desses mesmos alimentos somam aproximadamente uma quantia equivalente ao déficit comercial norte-americano.

Além disso, durante as últimas décadas a relação entre a produção de alimentos de origem animal e a crise ambiental tem-se tornado mais conhecida:

Destruição das Florestas tropicais: Cerca de 50% das florestas tropicais do mundo têm sido destruídas nas ultimas décadas. O fato que mais influencia na abertura de clareiras nas florestas é a utilização de suas terras pela pecuária. Cientistas denunciam que os hambúrgueres feitos a partir de carne importada das Américas do Sul e Central representam grave perda de grandes extensões de floresta tropical. As florestas tropicais contem cerca de 2/3 de toda a vida animal e vegetal do planeta. São milhares, potencialmente milhões de espécies que correm o risco de extinção.

Desertificação: O agronegócio tem provocado o esgotamento do solo, pois a criação de gado leva à degeneração da superfície do campo e, consequentemente, grandes extensões de terra tornam-se estéreis. Chuvas artificiais e outros métodos antinaturais de mudança atmosférica têm interferido nos padrões e ciclos originais, resultando na acelerada perda de terra arável e na expansão de regiões desérticas através da África, Ásia Central, parte da América Latina e outras regiões.

Aquecimento Global: A quantidade de dióxido de carbono e outros gases que produzem o efeito estufa têm aumentando ano a ano. Cientistas prevêem que, se este aumento continuar, o aquecimento global ocasionará o derretimento de geleiras, elevando o nível dos oceanos e inundando numerosas ilhas e regiões litorâneas onde vivem centenas de milhões de pessoas. Mudanças dos padrões atmosféricos e ciclos de colheitas já têm sido observados ao redor do mundo. Geralmente pensamos que a indústria moderna é a principal causa do aquecimento global. Entretanto, analisando mais detidamente, verificamos que o agronegocio contribui amplamente para o aumento do efeito estufa. A proliferação de clareiras nas florestas tropicais (que atuam como se fossem os pulmões do planeta, abastecendo-nos de oxigênio e absorvendo o gás carbônico) e a produção de gás metano e outros que geram o efeito estufa pelo gado, tudo isso concorre para o aquecimento global.

Nos seres humanos, o câncer é uma doença provocada pela intemperança. No planeta a crise ambiental é o resultado do consumo cronicamente excessivo dos recursos naturais. De fato, a magnitude da crise em curso tem levado vários estudiosos a concluírem que a própria Terra contraiu uma doença terminal. Metáforas comparando alguns dos problemas do planeta com o câncer, doenças circulatórias e AIDS estão se tornando cada vez mais freqüentes. A formação de depósitos tóxicos no solo é como se fosse o desenvolvimento de tumores nos órgãos vitais. A poluição dos rios pode ser equiparada à leucemia e aos linfomas. A redução da camada de ozônio compara-se a perda de imunidade natural do planeta. Nos seres humanos, o câncer se desenvolve com a carência de oxigênio para metabolizar apropriadamente os alimentos e produzir sangue de boa qualidade. Não podemos obter energia calórica sem que tenhamos oxigênio suficiente. Ultimamente os médicos vêm recomendando o consumo de grãos integrais e vegetais frescos ricos em vitamina A, C e E - os antioxidantes - porque estes ajudam a regular a disponibilidade de oxigênio no corpo. Numa escala planetária, a formação de dióxido de carbono e outras toxinas indicam que a terra como um todo está desenvolvendo uma condição cancerosa.

A alimentação baseada em produtos de origem animal é perigosa para o meio ambiente. Em 1991, pesquisas indicavam que cozinhar carne contribui para a poluição do ar, em virtude da liberação de hidrocarbonetos, esteróis e resíduos de pesticidas. Em Los Angeles, cidade bastante conhecida por causa da poluição atmosférica, a maior fonte de ar poluído era o churrasco, que excedia em poluição as lareiras, os veículos à gasolina ou diesel, os incêndios florestais, a metalurgia, o avião a jato e os cigarros.

É mais do que claro que o planeta precisa urgentemente curar-se. Por vários anos vimos alertando sobre o fato de que o mundo exterior reflete o mundo interior. Em nosso trabalho nunca deixamos de afirmar que a consciência ecológica começa na mesa. A saúde do indivíduo não pode ser separada da saúde do planeta e a ponte entre ambas não é outra senão alimentos saudáveis e naturais. Se estivermos sãos, a natureza não corre o risco de ser maltratada. Mas se estamos doentes, ela torna-se vitima de toda a sorte de vilipendiações. O contrario também é verdadeiro. A qualidade do mundo exterior determina a qualidade de nossa vida. Se o meio ambiente encontra-se livre de poluição, nós nos podemos manter saudáveis e felizes. Mas se ele se encontra poluído, nós facilmente nos tornamos enfermiços e tristes.

Décadas atrás, esta visão começou a repercutir no interior de um segmento do movimento ambientalista, pois a conexão entre a produção de alimentos de origem animal e a crise planetária tornou-se evidente. Importantes organizações ambientalistas têm lançado campanhas locais e internacionais para reduzir o número de cabeças de gado no planeta, diminuir o consumo de carne e estimular a adoção de uma dieta mais centrada no consumo de alimentos integrais de origem vegetal. Segundo estas organizações, este será o melhor caminho para assegurar tanto a saúde individual quanto planetária."

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