Há tempos que penso em escrever sobre meu segundo parto, mas se escrever sobre o primeiro foi difícil, o segundo vem com uma carga maior de emoções. Acho que vou ter que começar escrevendo sobre a segunda gestação antes de falar sobre o segundo parto.
Diferente da primeira gestação, que foi super tranquila, sem enjoos, sem dores, sem nada... A segunda gestação foi PUNK!!
A gravidez foi uma surpresa. Fiquei sem menstruar por um ano (amamentando), me desliguei completamente de cuidados contraceptivos e assim, descobri que estava grávida quando meu primogênito tinha apenas um ano e dois meses. Nesta época morava numa cidade remota, no interior do Mato Grosso, chamada Nova Mutum. Longe da família, dos amigos e sem ninguém para me ajudar em casa. Minha rotina de mãe, esposa e dona de casa era INTENSA.
Nas primeiras 14 semanas, senti enjôo, muito enjôo. Foi a primeira mudança no meu estilo de maternar na época. Precisei deixar de ser aquela super mãe, que faz TUDO e precisei terceirizar a alimentação de meu filho. Não conseguia cozinhar... Dar a comida dele então, era certeza de vômito. Precisei arrumar alguém para me ajudar em casa, para garantir que eu comesse e meu filho não morresse de fome. Encontrei alguém para me ajudar a manter a casa em ordem, cozinhar para mim e alimentar meu filho, com muito amor e carinho: que sorte a minha! À noite, quando estava sozinha com meu filho, às vezes esperava meu marido, às vezes pedia ajuda à uma vizinha e às vezes dava a comida dele, intercalando vômitos.
Passada a fase dos enjôos, uma nova etapa: dores na coluna. Mais uma função terceirizada, não aguentava mais carregar meu filho no colo e a empregada teve que assumir mais esta função: colocar e tirar do berço, dar banho (na banheira alta) e carregar sempre que necessário.
Com 20 semanas de gestação, já livre dos enjoos, fiz uma viagem de férias com meu marido, filho (1 ano e 7 meses na época), sogro e sogra. Cheguei em Lisboa com uma noite mal dormida no avião e na sequência um colchão muito macio no hotel. No segundo dia de viagem minha coluna travou (fiz uns alongamentos achando que ia melhorar e no fim só piorei) e não conseguia dar um passo. Tinha duas opções: voltar pro Brasil ou prosseguir com a viagem em uma cadeira de rodas. Não pensei duas vezes, adquiri uma cadeira de rodas e tive férias inesquecíveis por 20 dias na Europa, um turismo completamente diferente, vivenciando na pele todas as dificuldades de ser uma cadeirante.
Se antes não podia carregar meu filho e dar comida, agora precisava de ajuda até para ir ao banheiro, sentar ou levantar de uma cadeira. Nem preciso dizer a quantidade de reflexões que isso me trouxe e o enorme aprendizado que vivenciei. Descobri na raça a delegar e deixar de querer ser tão controladora de tudo. Durante um mês eu fui conduzida, meu tempo passou a ser o tempo dos outros, exercitei minha paciência e especialmente a minha gratidão. Gratidão por ser uma condição temporária, por ter tantas pessoas queridas tomando conta de mim, de ter quem cuidasse de meu filho para poder me cuidar, de ter uma gestação saudável e conseguir driblar minhas limitações.
Passados vinte dias, retornei ao Brasil. Já estava um pouco melhor e ensaiava passos. Pedi penico e não voltei mais pro Mato Grosso. Decidi ficar em Salvador, na casa dos meus pais, minha cidade natal, onde tinha mais suporte. Foi difícil ter que ficar longe de meu marido e não pude nem voltar pra casa para buscar minhas coisas...
Mas, o mais importante é que neste retorno para Salvador uma sequência de anjos começaram a surgir em minha vida. O primeiro foi a mãe de uma amiga de infância, médica especialista em dor e acupunturista. Após algumas sessões fui aos poucos melhorando e me livrando da cadeira de rodas... Os próximos anjos foram os terapeutas que me ajudaram a voltar a andar: terapeuta de Rolfing, fisioterapeuta e professora de pilates. E talvez o mais importante foi o anjo que me apareceu para me ajudar a cuidar de meu filho, permitindo que eu tivesse tempo para cuidar de mim.
A segunda metade de minha gestação foi assim: fazendo algo que não tinha feito desde que tinha me tornado mãe: cuidando de mim. Criei espaço para mim mesma em minha agenda, tinha atividades diárias: Rolfing, Pilates, Fisioterapia, Acupuntura e incontáveis compressas de gelo e quentes... Descobri que meu filho podia ser muito bem cuidado em minha ausência e que era mãe, mas ainda era Camila e precisava me cuidar e estar bem para a chegada de minha filha.
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