terça-feira, 21 de julho de 2009

Pseudo Comédia


Há poucos dias, assisti ao filme Mulher Invisível, produção nacional em cartaz nos cinemas. Achei o filme de uma genialidade e de uma profundidade incrível e para mim isso era tão gritante que achei que todo mundo que assistisse ao filme teria a mesma percepção.

Conversando com algumas pessoas, percebi que a comédia aparente do filme mascara tanto a mensagem subliminar que algumas pessoas o rotulam até como sendo um besteirol. Quero acreditar que a densa mensagem que absorvi dele tenha sido proposital e não criação de minha cabeça, como alguns amigos sugeriram.

Feliz do homem que conseguir entrar em contato com a sua Amanda, na psicologia analítica, chamaria de anima (alma em latim), ou seja, seu lado feminino inconsciente. No filme, Selton Mello não apenas chegou a tamanho grau de individuação, como o vivenciou em todas as suas etapas... A desilusão amorosa vivida no início do filme fez com que ele entrasse num profundo grau depressivo, que o levou à introspecção e conseqüentemente ao contato com seu inconsciente.


Logo em seguida, o seu inconsciente tomou uma forma consciente tão palpável que tinha nome, corpo, beijava e fazia amor. Amanda, mulher perfeita, idealização do protagonista, foi essencial para que ele percebesse que a mulher perfeita era criação da imaginação dele, ou seja, que teria que abrir mão da perfeição caso quisesse viver algo real.

Sair da imersão no si mesmo para alcançar e aceitar o externo foi doloroso, afinal, estava de fato apaixonado por Amanda, que nada mais era do que ele mesmo e isto fica bem claro em um diálogo entre os dois em uma cena do filme em que estão na banheira. A consciência desta paixão levou à autoconfiança e só então ele foi capaz de ver a verdadeira mulher invisível, sua vizinha, que esteve ao seu lado por seis anos e ele, tão mergulhado em si mesmo, era incapaz de perceber.

Genial a abordagem aparentemente tola de um tema tão denso quanto à integração de ego e anima, ou seja, do inconsciente e consciente, da idealização com a realização... Não quero subestimar a inteligência de Cláudio Torres, filho de ninguém menos que Fernanda Montenegro e Fernando Torres, em dizer que seu enredo é meramente “engraçadinho” – nota 10!

Ah, isso sem comentar a atuação de Selton Mello, impagável e também a trilha sonora de abertura e encerramento do filme com o vozeirão de alguém que cantava com a alma: Janis Joplin. Lindo, cômico e emocionante.

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