terça-feira, 1 de setembro de 2009

Santa Verena

Hoje é dia de Santa Verena por isso resolvi dedicar este texto à minha avó paterna, falecida ha 10 anos, deixando recordações que se perpetuarão para sempre em minha memória.

Anna Verena é um exemplo de alguém que beijava o padeiro constantemente e sem dúvidas uma das grandes referências femininas que tive na vida. Sempre tive uma forte identificação com ela e carrego com orgulho alguns de seus traços, seja na mania por sapatos, por adorar adereços exagerados, por não resistir a uma “muvuca”, pela facilidade em trocar o dia pela noite, pela vida social agitada, por detestar manteiga e ter aprendido a gostar de mamão na raça, por não gostar de me amolar ou simplesmente por ser uma loira morena no verão.

Nos quinze anos em que convivi com ela, nunca vi alterar a voz ou se queixar de alguma coisa. Tudo para ela era formidável - acho que me lembrarei dela pelo resto dos meus dias quando falar esta palavra. Com seu jeito doce e carinhoso de ser, viveu sua vida sem amolações (rainha dos panos quentes), distribuindo simpatia por onde passava. Querida, era o que simplesmente era. Desconheço uma pessoa que não a adorasse, mulher ingenuamente amável com todo mundo que cruzava seu caminho.

Acho que o mundo de minha avó devia ser cor-de-rosa, pois, para ela ninguém tinha defeitos. Um exemplo de mulher forte, que passou por sérias dificuldades na vida, sempre fazendo o jogo do contente de Polyana (mais uma lição que aprendi com ela) e com uma fé inabalável.

Lembro-me de que sempre que ia visitá-la encontrava-a descalça, vestida com uma túnica que ia até os pés, totalmente suja de tinta advinda de seus artesanatos. Quando de repente entrava em seu quarto para se arrumar para algum evento e reaparecia exuberante, cheia de cores, jóias, colares, pulseiras, com um brilho que gordura nenhuma jamais foi capaz de ofuscar. Verena era isso, simplicidade e sofisticação com simpatia constante.

É esta lembrança que guardo dela, de uma mulher alegre, bem humorada, cheia de vida, disposta, delicada, de extremo bom gosto, agradável, deslumbrante e humana. A saudade que sinto dela vem me acompanhando ao longo destes anos. Minha avó se foi cedo demais, antes mesmo de conhecer algum namorado meu ou de eu ter idade suficiente para ser sua companheira em eventos sociais (e vice-versa). A cada noite virada na faculdade, imaginava o quanto ela curtiria me ajudar nas maquetes e como algo que sempre detestei fazer teria sido divertido ao seu lado.

Prefiro não questionar as razões da vida, pois, mesmo tendo partido prematuramente viveu tempo suficiente para deixar um legado de alegria e exemplos de fé, bondade, humildade e amor a serem lembrados eternamente. Por tudo isso, sua memória estará sempre viva por onde passou e entre aqueles que a amavam.

2 comentários:

  1. Parabéns Camila. Muito bonito. Um abraço

    André Carvalho

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  2. Grande Vó! Quisera ter tido o prazer de conhecê-la. Por sorte temos esse relato adorável que você produziu. Pra ficar melhor, só com uma foto da Dona Verena.
    Ouso dizer que ela não morreu, porque morrer é partir e ser esquecido. Ela está viva em você e em todos os que tiveram a sorte de conviver com ela.

    Beijos do primo

    :*

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