segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viver e Morrer

Abaixo transcrito um texto muito interessante da abordagem de Jung sobre viver e morrer.

A alma e a Morte
Vol. VIII – Carl Gustav Jung



"Tenho observado que aqueles que mais temem a vida quando jovens, são justamente os que mais têm medo da morte quando envelhecem.



A morte é uma meta. A vida é um processo energético, como qualquer outro, mas em princípio, todo processo energético é irreversível e , por isso, é orientado para um objetivo. E este objetivo é o estado de repouso... Todo processo energético se assemelha a um corredor que procura alcançar sua meta com o máximo de esforço e o maior dispêndio possível de forças... A vida desce agora montanha abaixo, com a mesma intensidade e a mesma irresistibilidade com que a subia antes da meia idade, porque a meta não está no cume, mas no vale, onde a subida começou. A curva da vida é como a parábola de um projétil que retorna ao estado de repouso, depois de ter sido perturbado no seu estado de repouso inicial.



A vida é o solo em que se nutre a alma. Quem não consegue acompanhar a vida, permanece enrijecido e parado em pleno ar. É por isso que muitas pessoas se petrificam na idade madura, olham para trás e se agarram ao passado, com um medo secreto da morte no coração... Do meio da vida em diante, só aquele que se dispõe a morrer conserva a vitalidade, porque na hora secreta do meio dia da vida inverte-se a parábola e nasce a morte... A recusa em aceitar a plenitude da vida equivale a não aceitar o seu fim. Tanto uma coisa como a outra significam não querer viver. E não querer viver é sinônimo de não querer morrer. A ascensão e o declínio formam uma só curva.



Sempre que possível, nossa consciência recusa-se a aceitar esta verdade inegável. Ordinariamente nos apegamos ao nosso passado e ficamos presos à ilusão de nossa juventude... A incapacidade de envelhecer é tão absurda quanto a incapacidade de abandonar os sapatos de criança que traz nos pés... Um jovem que não luta nem triunfa perdeu o melhor de sua juventude, e um velho que não sabe escutar os segredos dos riachos que descem os cumes das montanhas para os vales não tem sentido, é uma múmia espiritual e não passa de uma relíquia petrificada no passado.



Se o nascimento do homem é prenhe de significado, por que é que a sua morte também não o é? O que se alcança com a morte?



O significado da existência se consuma com o seu término.



O inconsciente se interessa em saber como se morre; se a atitude do ego está em conformidade ou não com o processo de morrer."

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