segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Gula (O vício do açúcar)

Sendo guloso ou não, recomendo este livro da coleção Plenos Pecados. Este título: Gula: O Clube dos Anjos de Luis Fernando Veríssimo é imperdível

Estou convivendo com a segunda pessoa que conheci em toda a minha vida que não sofre do mal da Gula. Isso para mim é uma virtude rara e curiosa, porque sempre fui muito gulosa.

Quando falo de uma pessoa não gulosa, falo de alguém que simplesmente não faz questão NENHUMA de comer e quando está com fome come qualquer coisa simplesmente para saciá-la. Alguém que não brilha os olhos quando se fala em comida e nem faz programações visando o prazer gastronômico, ele é meramente coadjuvante de um encontro, bate-papo, jamais personagem principal. Incrível!! Uma destas pessoas uma vez me falou que se pudesse tomaria um simples comprimido para saciar a fome, pois não sente o menor prazer em comer.

Nem preciso dizer que estas duas pessoas são magras e sofrem para engordar, algo também invejável para quem vive às turras com a balança como eu. Espelhando-me nesses exemplos, que pela convivência e proximidade sei que são absolutamente reais, tenho tentado conter minha gula e confesso que é muito difícil.

Fui uma criança muito magricela e acostumei-me a comer e não saber para onde ia a comida. Com a chegada da puberdade a tendência a engordar da minha família se manifestou em mim e a reeducação alimentar tem sido uma perseguição desde então. Após quase vinte anos sem nunca ter me preocupado com controle de peso passei a ter que me vigiar constantemente.

Minha sorte ou azar é que sempre tive uma alimentação muito saudável, macrobiótica, como já comentei aqui no blog outras vezes e o efeito dessa comilança foi menos fatal, pois apesar das enormes quantidades, eram de alimentos saudáveis. Falo azar porque os cortes para quem não tem hábitos alimentares saudáveis são muito mais óbvios do que no meu caso. Meu apetite era tão absurdo quando comecei a engordar passei a prestar atenção no tamanho das minhas refeições. Só então descobri que comia quatro pratos fundos no almoço para me sentir saciada. Nunca tinha me dado conta de que esta quantidade era infinitamente superior à de outras pessoas.

Engordei cerca de 20kgs desde que parei de crescer (fui de 40kgs para 60kgs) em cerca de dois anos e minha primeira desconfiança foi de estar com alguma disfunção na tireóide. (Depois disso tive uma fase em que cheguei aos 70kgs, em um período de desleixo total com a constante vigilância alimentar). Ao consultar uma endocrinologista, descobri que por sorte meu organismo estava mais do que saudável e fui diagnosticada com o mal da gula, ao descrever meus hábitos alimentares.

Tenho um tio muito guloso que adora cozinhar e fazer festivais gastronômicos em casa (o prazer de quem cozinha é ver alguém comer muito) que sempre comentou que eu era o “bípede feminino” que mais viu comer na vida, sendo o “bípede masculino” o filho dele. Além disso, já tive apelidos “carinhosos” como Magali e outros do gênero. Enquanto isso não afetava minha forma física dava risada e comia mais, quando tomei consciência de que precisava me reeducar nasceu uma nova Camila que ainda está em formação.

Comer sempre foi um dos maiores prazeres de minha vida, meus olhos brilham e a boca saliva só de pensar em comer. Minha sorte é que “fast food” nunca me encheu os olhos, nem frituras e nem essas porcarias que toda criança gosta. Meu mal sempre foi excesso de comida, sendo ela: arroz integral e feijão, verduras, saladas, frutas e biscoitos integrais. As pessoas que convivem comigo não entendem como consigo engordar comendo coisas tão saudáveis, porém não tem saudável que resolva quando a quantidade é exorbitante, e é isso que sempre explico.

Há anos venho tentado me reeducar, mudar meus hábitos e me saciar com menos comida, mas quando se tem uma mente gorda, uma cabeça gulosa é muito difícil de controlar, principalmente por ser uma mudança psicológica instalada por mais de vinte anos. Por isso, me encanta entender o funcionamento de uma psiquê que renega o pecado da gula.

Mesmo com toda a minha criação macrobiótica fui traída pela gula e com a liberdade da adolescência ,quando me permiti provar o veneno do açúcar, que me pregou uma peça principalmente na forma do chocolate, do qual fui alérgica até aproximadamente os 12 anos de idade. Apesar de toda a consciência alimentar que fui criada me vi consumindo um excesso de açúcar pela abundância de oferta e pude comprovar o quanto é algo realmente viciante.

Quando menos percebi, estava sucumbindo a um cappuccino aqui, um bombonzinho ali, um picolé ou sorvete para amenizar o calor, uma fatia de bolo (normalmente não resistia quando era de chocolate) ou um brigadeiro, um biscoito e assim por diante. Quando me dei conta, percebi que tinha me tornado uma pseudo macrobiótica, pois estava atolada no vício do açúcar até o pescoço. Não sabia como ele tinha entrado em minha vida, pois não aprendi em casa, mas como dizem: “de grão em grão a galinha enche o papo” e o que era um docinho aqui ou ali estava virando algo cada vez mais constante. Ainda bem que tomei consciência disso antes de qualquer dano físico. O mais impressionante para mim foi ter vivido na pele a força que tem esta “doce droga” que conseguiu me viciar apesar de tudo que sempre escutei sobre seu mal desde que nasci.

Quando falo do açúcar considerando-o como uma droga há quem pense que estou exagerando, mas para mim é algo tão nocivo quanto o álcool, o tabaco, a maconha e até mesmo a cocaína. Primeiro: em sua constituição: sendo 100% um produto químico, como as piores drogas. Segundo: pelo seu poder viciante e tóxico. E o pior de todos para mim é o fato de ser uma droga de uso indiscriminado, por crianças desde os primeiros meses de vida. É o que mais me dói em relação a esta droga, pois as pessoas quando resolvem fumar, beber ou usar qualquer outra droga ilícita têm total consciência de que estão ingerindo uma droga. Ocorre justamente o contrário com o açúcar, as pessoas acreditam que seus filhos ficarão mais saudáveis se tomarem Nescau, Iogurtes açucarados e premiam crianças com refrigerantes e bombons.

Falo do vício do açúcar com a mesma visão de uma pessoa que começa a fumar sabendo que faz mal e acaba se tornando um dependente químico. Sempre soube do mal que era o açúcar, mas pela naturalidade como ele é consumido na sociedade e pelo forte apelo de seu doce paladar, fui me permitindo aos poucos provar um docinho aqui e outro ali, até perceber que simplesmente não conseguia resistir quando alguém me oferecia (o tempo todo): estava viciada. A consciência disso me apavorou e levou alguns anos até conseguir me livrar do vício, hoje graças a Deus repudio doces conhecendo de perto suas delícias e temo colocar um na boca como um ex-fumante teme o primeiro trago.

Foi o primeiro passo na tentativa de regular a minha gula. Colocar a consciência psicológica da nutrição e saúde na frente do impulso gastronômico de querer comer pelo prazer do paladar é um exercício diário. Quando se é uma pessoa gulosa é muito difícil colocar freios em tantas guloseimas vastamente oferecidas e notadamente nocivas como: massas brancas, queijos, chocolates e bebidas alcólicas. Isso porque nem preciso me conter com outros vícios como frituras, fast foods e comidas industrializadas, que não me apetecem. Penso na dificuldade que é para alguém totalmente viciado em “comida lixo” em mudar hábitos alimentares...

Para mim o fundamental é a busca de uma vida saudável como um todo: através da prática regular de atividades físicas, controle do sono e da alimentação. Uma coisa puxa a outra: quando estamos atentos para este tripé, não faz o menor sentido cuidar de um e descuidar do outro. Para tal, preciso consumir alimentos psicológicos (yin) constantemente, ampliando meus conhecimentos sobre saúde, nutrição e bem estar, para assim reforçar conhecimentos e me tornar cada vez mais consciente. O resultado é imediato: boa aparência, bom funcionamento do organismo, disposição, bom humor e certamente uma percepção de mundo diferente. Se cuidar é beijar o padeiro!!


Comida com Marisa Monte e Arnaldo Antunes:

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