Há uns anos a ditadura da moda impunha um padrão de beleza que fomentava a
magreza extrema entre as mulheres. Aos poucos isso está deixando de existir
para dar lugar a um novo padrão de beleza: as obesas!
A epidemia
da obesidade americana, como todo o resto que importamos do país, chegou ao
Brasil. Antigamente, pobreza era sinônimo de magreza. Hoje, quando vamos às
ruas, vemos os pedintes redondinhos. A razão é fácil de explicar: guloseimas
repletas de açúcar competem deslealmente com os produtos saudáveis nas
prateleiras do mercado. Isso sem falar na cachaça que é estupidamente barata. Com
um real, compra-se um grande pacote de biscoitos, uma garrafa de refrigerante
ou outros produtos industrializados, que não dependem de fogão, prato, garfo e
faca para serem consumidos, sem falar no preço.
Na década
de 80 a política de saúde pública americana alertou a população para os riscos cardiovasculares
de uma dieta rica em gorduras, criando uma campanha em prol dos baixos índices
de gordura nos alimentos. A relação entre gorduras e sistema cardíaco é real,
entretanto, não é a única. Com a redução das gorduras nos alimentos, para que o
sabor fosse garantido nos mesmos, passou-se a caprichar nos açúcares e
condimentos. Falo dos EUA, pois, foi lá que começou esse processo, entretanto,
o mesmo, juntamente com as síndromes metabólicas, estão instalados em nosso
país há muito tempo.
Qual a
relação entre açúcar e coração? Simples, o excesso de açúcar consumido é
armazenado no corpo na forma de gordura. Há ainda outro risco, o metabolismo da
glicose é completamente diferente do metabolismo da frutose. A glicose é o
combustível da vida e pode ser absorvida por qualquer célula no nosso corpo. Além
disso, pode ser infinitamente armazenada na forma de glicogênio (que se
transforma de glicose quando há falta do mesmo no sangue). Já a frutose, só é metabolizada
pelo fígado, não é convertida em energia e seu excesso acaba sendo armazenando
sob a forma de gordura.
E de onde
vem a frutose? Das frutas? A fruta é uma formação integral da natureza, o
que significa que juntamente com a sua porção de frutose, vem também outras
vitaminas e minerais, bem como fibras, que ajudam no processo digestivo da
mesma. Quando fazemos sucos, entretanto, consumimos uma quantidade muito grande
e concentrada de frutose. Dificilmente alguém chupa mais de uma laranja,
entretanto, um copo do suco contém pelo menos cinco laranjas, onde predomina
uma quantidade excessiva de frutose, as fibras são perdidas, bem como a
vitamina C, que é extremamente volátil. Isso sem falar que muita gente ainda tem
o costume de adoçar artificialmente os sucos, aumentando ainda mais a dose de
frutose. O risco maior, entretanto, não está nos sucos e sim nos derivados das
frutas. A sacarose ou açúcar como se sabe, vem da cana ou beterraba, e contém 50%
de frutose e 50% de glicose. Já o xarope de milho rico em frutose, produto
comercializado com preço muito inferior ao açúcar, pode conter entre 55% e 90%
de frutose em sua composição, a depender do tipo utilizado. Ambos constituem
uma praga, presente na maioria dos produtos industrializados. Não acredita? Pode
começar a verificar os rótulos em sua dispensa e nos supermercados.
E o que
acontece com essa frutose? Nosso corpo necessita de energia, que vem da
glicose. Nosso cérebro, mais precisamente, só funciona à base de glicose. Acontece
que glicose e frutose são duas coisas distintas! Quando consumimos doses
excessivas de frutose, esta, em primeiro lugar, não é reconhecida por nenhuma
célula no corpo, só podendo ser metabolizada no fígado. Com isso, a produção de
grelina (hormônio responsável pela sensação de fome) não é suprimida. Isso
significa que aquela velha teoria de que se comermos doces, “matamos” a fome,
no caso da frutose é falsa, acumulamos gordura e continuamos com fome. Assim, a
frutose consumida acaba se tornando “caloria extra” na dieta, uma vez que
sequer mata a fome, muito menos nutre. Para completar, não há receptores para a
frutose nas células beta, o que faz com que a insulina não suba em sua
presença. Não é necessário saber muito de fisiologia para saber que problemas
que envolvem a liberação de insulina estão relacionados com a diabetes,
consequentemente com problemas renais, obesidade, problemas cardíacos e
hepáticos. Esse conjunto de doenças crônicas é denominado síndrome metabólica e
funciona como uma grande bola de neve.
O etanol,
ou álcool, não passa por um processo muito diferente do açúcar. Por isso, pode
ser considerado açúcar líquido. Seus efeitos são os mesmos (também pode gerar
síndrome metabólica), entretanto, como é reconhecido pelo cérebro (e não
somente pelo fígado como a frutose), gera outras sensações típicas da embriaguez,
como: tontura, diminuição do reflexo e diurese. O resultado de seu metabolismo
em termos de acúmulo de gordura é o mesmo, o que faz entender que os malefícios
de uma lata de refrigerante, equivalem ao de uma lata de cerveja. O mais triste
é que ao menos existem campanhas de conscientização acerca dos danos causados
pelo álcool, que inclusive é proibido para menores de 18 anos, já os doces, são
venenos da mesma forma e são comercializados largamente, especialmente para
crianças.
No passado,
gordura era sinônimo de saúde, entretanto, o que vemos em pinturas que retratam
os corpos de antigamente, são mulheres cheinhas, longe de serem obesas. Agora,
vemos a musa de uma escola de samba obesa. Acho que democraticamente é lindo,
mas, por outro lado, estimula que as pessoas sejam gordas e gordura excessiva é
sinônimo de falta de saúde. Qual o estímulo que uma obesa terá para emagrecer
quando as sex simbols passarem a ser
gordas? Será uma grande desculpa para o desleixo com a própria saúde e o corpo.
Hoje temos uma publicação da revista Vogue especializada em obesas e pelo visto
a moda está pegando. A razão é fácil de entender: é muito mais simples lançar a
moda da gordinha sensual e deixar a saúde pública caótica como está, do que
mexer nos padrões alimentares atuais, desafio que acarretará numa revolução
econômica global.
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