terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Nem 08, nem 80


Há uns anos a ditadura da moda impunha um padrão de beleza que fomentava a magreza extrema entre as mulheres. Aos poucos isso está deixando de existir para dar lugar a um novo padrão de beleza: as obesas!


A epidemia da obesidade americana, como todo o resto que importamos do país, chegou ao Brasil. Antigamente, pobreza era sinônimo de magreza. Hoje, quando vamos às ruas, vemos os pedintes redondinhos. A razão é fácil de explicar: guloseimas repletas de açúcar competem deslealmente com os produtos saudáveis nas prateleiras do mercado. Isso sem falar na cachaça que é estupidamente barata. Com um real, compra-se um grande pacote de biscoitos, uma garrafa de refrigerante ou outros produtos industrializados, que não dependem de fogão, prato, garfo e faca para serem consumidos, sem falar no preço.


Na década de 80 a política de saúde pública americana alertou a população para os riscos cardiovasculares de uma dieta rica em gorduras, criando uma campanha em prol dos baixos índices de gordura nos alimentos. A relação entre gorduras e sistema cardíaco é real, entretanto, não é a única. Com a redução das gorduras nos alimentos, para que o sabor fosse garantido nos mesmos, passou-se a caprichar nos açúcares e condimentos. Falo dos EUA, pois, foi lá que começou esse processo, entretanto, o mesmo, juntamente com as síndromes metabólicas, estão instalados em nosso país há muito tempo.


Qual a relação entre açúcar e coração? Simples, o excesso de açúcar consumido é armazenado no corpo na forma de gordura. Há ainda outro risco, o metabolismo da glicose é completamente diferente do metabolismo da frutose. A glicose é o combustível da vida e pode ser absorvida por qualquer célula no nosso corpo. Além disso, pode ser infinitamente armazenada na forma de glicogênio (que se transforma de glicose quando há falta do mesmo no sangue). Já a frutose, só é metabolizada pelo fígado, não é convertida em energia e seu excesso acaba sendo armazenando sob a forma de gordura.


E de onde vem a frutose? Das frutas? A fruta é uma formação integral da natureza, o que significa que juntamente com a sua porção de frutose, vem também outras vitaminas e minerais, bem como fibras, que ajudam no processo digestivo da mesma. Quando fazemos sucos, entretanto, consumimos uma quantidade muito grande e concentrada de frutose. Dificilmente alguém chupa mais de uma laranja, entretanto, um copo do suco contém pelo menos cinco laranjas, onde predomina uma quantidade excessiva de frutose, as fibras são perdidas, bem como a vitamina C, que é extremamente volátil. Isso sem falar que muita gente ainda tem o costume de adoçar artificialmente os sucos, aumentando ainda mais a dose de frutose. O risco maior, entretanto, não está nos sucos e sim nos derivados das frutas. A sacarose ou açúcar como se sabe, vem da cana ou beterraba, e contém 50% de frutose e 50% de glicose. Já o xarope de milho rico em frutose, produto comercializado com preço muito inferior ao açúcar, pode conter entre 55% e 90% de frutose em sua composição, a depender do tipo utilizado. Ambos constituem uma praga, presente na maioria dos produtos industrializados. Não acredita? Pode começar a verificar os rótulos em sua dispensa e nos supermercados.


E o que acontece com essa frutose? Nosso corpo necessita de energia, que vem da glicose. Nosso cérebro, mais precisamente, só funciona à base de glicose. Acontece que glicose e frutose são duas coisas distintas! Quando consumimos doses excessivas de frutose, esta, em primeiro lugar, não é reconhecida por nenhuma célula no corpo, só podendo ser metabolizada no fígado. Com isso, a produção de grelina (hormônio responsável pela sensação de fome) não é suprimida. Isso significa que aquela velha teoria de que se comermos doces, “matamos” a fome, no caso da frutose é falsa, acumulamos gordura e continuamos com fome. Assim, a frutose consumida acaba se tornando “caloria extra” na dieta, uma vez que sequer mata a fome, muito menos nutre. Para completar, não há receptores para a frutose nas células beta, o que faz com que a insulina não suba em sua presença. Não é necessário saber muito de fisiologia para saber que problemas que envolvem a liberação de insulina estão relacionados com a diabetes, consequentemente com problemas renais, obesidade, problemas cardíacos e hepáticos. Esse conjunto de doenças crônicas é denominado síndrome metabólica e funciona como uma grande bola de neve.


O etanol, ou álcool, não passa por um processo muito diferente do açúcar. Por isso, pode ser considerado açúcar líquido. Seus efeitos são os mesmos (também pode gerar síndrome metabólica), entretanto, como é reconhecido pelo cérebro (e não somente pelo fígado como a frutose), gera outras sensações típicas da embriaguez, como: tontura, diminuição do reflexo e diurese. O resultado de seu metabolismo em termos de acúmulo de gordura é o mesmo, o que faz entender que os malefícios de uma lata de refrigerante, equivalem ao de uma lata de cerveja. O mais triste é que ao menos existem campanhas de conscientização acerca dos danos causados pelo álcool, que inclusive é proibido para menores de 18 anos, já os doces, são venenos da mesma forma e são comercializados largamente, especialmente para crianças.


No passado, gordura era sinônimo de saúde, entretanto, o que vemos em pinturas que retratam os corpos de antigamente, são mulheres cheinhas, longe de serem obesas. Agora, vemos a musa de uma escola de samba obesa. Acho que democraticamente é lindo, mas, por outro lado, estimula que as pessoas sejam gordas e gordura excessiva é sinônimo de falta de saúde. Qual o estímulo que uma obesa terá para emagrecer quando as sex simbols passarem a ser gordas? Será uma grande desculpa para o desleixo com a própria saúde e o corpo. Hoje temos uma publicação da revista Vogue especializada em obesas e pelo visto a moda está pegando. A razão é fácil de entender: é muito mais simples lançar a moda da gordinha sensual e deixar a saúde pública caótica como está, do que mexer nos padrões alimentares atuais, desafio que acarretará numa revolução econômica global.



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