segunda-feira, 18 de junho de 2012

Saúde planetária x Saúde individual (parte 01)


Essa obra me impressionou no MoMa (Museu de Arte Moderna de NY). Nela, foram reunidas embalagens de alimentos consumidos pelo artista durante o período de um ano. É tão grande que não coube na foto... Saudável dieta, hein?

Semana passada postei um texto do blog Liga da Virtude abordando preocupações ambientais e medidas pessoais. Nele, o autor aponta diversas soluções paliativas como minimizadores de problemas ambientais, entretanto, fala que não haverá solução enquanto a população continuar crescendo na escala que vem crescendo. Concordo, entretanto não sou completamente descrente de ações pontuais. Aquela velha história do beija flor que tenta apagar um incêndio com gotas d´água, ou seja, fazendo aquilo que está ao seu alcance.

Para mim a saúde do planeta está intimamente ligada à saúde da população. Este é um tema longo, portanto, pretendo desenvolvê-lo em capítulos. Vou começar com uma breve história da criação dos padrões alimentares da sociedade.

Foram descobertos espécies de cogumelos na Inglaterra, que antes só tinham um ciclo reprodutivo ao ano e que agora reproduzem duas vezes ao ano. Você deve estar se perguntando aonde quero chegar com essa informação. Muito bem, cogumelos fazem parte das formas mais primitivas de vida no planeta, assim como fungos, bactérias e vírus. Se eles estão com ciclos de vida duplicados, seus “parentes” provavelmente também devem estar. Isso explica um acelerado crescimento de doenças infecciosas, provenientes de micro-organismos. Este é apenas um exemplo decorrente das inúmeras alterações ambientas quem vem ocorrendo no planeta.

Há doze ou treze mil anos atrás os últimos gelos derreteram na Europa. Houve um pequeno período de colheitas e caças, mas não havia muitos alimentos disponíveis. Assim, a agricultura moderna começou a se desenvolver. Há cerca de nove ou dez mil anos atrás, os primeiros grãos começaram a ser cultivados, juntamente com a produção de embarcações, dando início às civilizações modernas. Agora as populações podiam deixar de ser nômades, graças à agricultura e ao mesmo tempo tinham a possibilidade de viajar, interagir com outras populações, realizar trocas e conquistas...

Assim, a sociedade começou a se construir. Cerca de quatro a seis mil anos atrás a população começou a viajar em maior escala e produziram dois efeitos importantes. Primeiro espalharam o cultivo de grãos e fizeram grandes monumentos como o Stonhenge, na Inglaterra, dando início às civilizações modernas. As culturas tradicionais estão todas associadas a determinados grãos: nas Américas predominava o consumo do milho, na Ásia do arroz, na Europa o trigo... Nessa época tudo era orgânico e integral. Aí há cerca de três mil anos atrás, primeiro os gregos, mas principalmente os romanos, através de trocas e conquistas territoriais, começaram a “confundir” os padrões alimentares. Os alimentos ainda eram orgânicos, entretanto, esses povos começaram a trazer comidas tropicais como especiarias, pimentas e plantas para lugares de clima temperado.  

Quem conhece um pouco da filosofia macrobiótica, sabe que ela tem como premissa que se deve sempre buscar alimentar-se com produtos locais, provenientes das estações e climas de onde vivemos. Isso é o que ajuda o ser humano a ficar alinhado com meio ambiente em que vive, evitando diversos tipos de doenças.

A partir dos últimos dois mil e quinhentos anos então, a dieta humana já não estava mais tão natural, entretanto, o problema só começou a piorar nos séculos XV e XVI, por conta das grandes navegações. Foi nessa época que países como Holanda, Espanha, Inglaterra e Portugal tentaram conquistar grandes partes do planeta. Neste processo, eles confundiram bastante a dieta do planeta, trazendo especiarias, plantas e alimentos tropicais para regiões de clima temperado e vice-versa em suas colônias. Além disso, para construírem embarcações eles começaram a depredar florestas inteiras, como na Inglaterra e em Portugal. A partir daí já começa a haver uma mudança global, com o extermínio de completos ecossistemas. Percebe-se então, que os problemas ambientais, tão discutidos atualmente, de novos não tem nada.

Depois disso, uma grande mudança ocorre com a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX. Com o advento da tecnologia e das locomotivas, os meios urbanos começaram a se formar. Foi neste período que começou a haver o refinamento de alimentos. Pode-se dizer então, que o começo de uma nutrição desbalanceada foi a revolução industrial. Neste ponto, os padrões alimentares das famílias começaram a se alterar também. Mesmo assim, a dieta ainda não era das piores e as pessoas ainda tinham fortes constituições físicas.

Na primeira guerra mundial, começaram as dietas baseadas no consumo proteico. Isso teve início na Europa, principalmente na Alemanha, para o reforço das tropas e se estendeu para as Américas. Neste período dois fatores principais ocorreram. O primeiro foi o desenvolvimento das técnicas de preservação dos alimentos, com a tentativa de se criar produtos que durassem por muito tempo para poder suprir as tropas em territórios distantes. Findada a guerra, esses alimentos passaram a fazer parte da dieta da população. O segundo fator foi que a indústria química, desenvolvida durante a guerra, que passou a ser utilizada no processamento de alimentos. Fertilizantes modernos e a agricultura rica em produtos químicos são um resultado da segunda guerra mundial. Este foi um grande marco para mudanças alimentares radicais ocorrerem no planeta.

Depois disso, a escola de nutrição de Harvard estabeleceu os princípios básicos da alimentação. Foram criados quatro grupos alimentares: produtos animais, produtos lácteos, frutas e verduras e farináceos. Foi estabelecido então, que o ser humano precisava comer animais e produtos lácteos para garantir a ingestão dos aminoácidos essenciais, e consequentemente uma boa saúde. Frutas e verduras aos poucos começaram a desaparecer, sendo substituídos por geleias açucaradas e ketchups.

Recapitulando então, a civilização moderna começou com o cultivo de grãos, sendo este o alimento mais importante do planeta. Aí, a renomada escola de saúde de Harvard conceitua os grãos da dieta como farináceos. O que se pensa quando se escuta farináceos? Em produtos refinados, açúcar, pão, massas, calorias vazias... Com isso, o alimento de maior importância nutricional é reduzido a farináceos, cedendo espaço às proteínas animais e laticínios, invertendo então todos os padrões alimentares da nutrição tradicional.

Além disso, começam a se falar dos germes. Agora, estes seres passam a ser a causa das doenças, reforçando a mentalidade de que a responsabilidade das doenças é externa ao ser humano, sendo este uma mera vítima indefesa. Por conta disso, gerações inteiras não foram amamentadas. Passou-se a acreditar que uma fórmula industrializada ou leite da vaca eram mais limpos e adequados do que o leite materno (considerado impuro). Hoje a imunologia já comprovou que a amamentação é essencial para a formação do sistema imune dos indivíduos, mas nesse período, uma geração inteira (baby boomers) foi formada por lactentes humanos de leite de vaca.

A partir de 1955, começaram a surgir os fast foods e no início da década de 70 eles já estavam alastrados pelos EUA. Agora refeições em família foram substituídas por lanches baratos e rápidos fora de casa. As refeições são a essência dos padrões familiares. Estudos recentes comprovam que pais que querem que seus filhos estudem e se tornem trabalhadores irão influenciá-los fortemente se tiverem o hábito de fazerem refeições em casa. O mesmo ocorre em relação à educação contra o uso de drogas, que está relacionado a hábitos domésticos, união e diálogos familiares, sendo as refeições momentos cruciais que proporcionam a interação entre os membros de uma família.

 A esse ponto as comidas naturais já não fazem parte das dietas. Frutas e verduras são esquecidas, grãos viram farináceos e as proteínas tornam-se a base das dietas, acrescido do fim das refeições em família. Isso leva a um caminho totalmente distorcido das populações e do meio ambiente, visto claramente nos dias de hoje.

Depois de toda essa reflexão, a pergunta que faço é a seguinte: A saúde do planeta vem de fora ou vem de dentro? Uma coisa é certa, temos problemas evidentes: pessoais, sociais e ambientas. Para mudar isso, temos que saber onde vamos focar. Podemos legislar um meio ambiente doente? Eu pessoalmente acredito que pessoas saudáveis criam um meio ambiente saudável...

Como já escrevi bastante por hoje, deixo aqui minhas ideias e prossigo o tema em outro post, desejando a todos uma ótima semana! 

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