Para Além do
Dualismo
Texto de Michio Kushi
Foto retirada do Google Imagens
"Encontramo-nos
hoje num ponto crítico da história. Há um segmento da ciência e medicinas
modernas que está indo em direção a biotecnologia - a manipulação artificial do
meio ambiente, incluindo a criação de novas formas de vida em laboratório. Entre
1960 e 1990, o número de variedades de sementes que sofreram mutação induzida
por irradiação cresceu vertiginosamente de 15 para 13 mil. Sessenta por cento
do trigo duro da Itália, por exemplo, corresponde a uma variedade mutante cujas
alterações foram provocadas por emissões de raios gama. Recentemente, os Estados
Unidos aprovaram modificações genéticas em alimentos do consumo diário sem
qualquer teste sobre os possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente e sem
a obrigatoriedade de rotulagem. Os efeitos podem ser catastróficos. Esses
alimentos carecem de um Ki (energia eletromagnética natural) vigoroso. Com o
rompimento das fronteiras entre as espécies - que constituem o meio que a
natureza emprega para preservar a distinção e a diversidade - genes de boi, carneiro,
peixe e outros animais podem ser introduzidos em grãos, feijões, vegetais e
frutas, criando-se vibração e energia extremamente caóticas. O impacto sobre o
meio ambiente - o delicado ecossistema no qual tudo está interligado - não podem
ser aferidos em laboratório. A perda da diversidade - a soma total das variedades
genéticas da Terra - é inevitável, pois as características tradicionais são
substituídas. As calamidades - por causa de predadores, enfermidades, ciclos
climáticos e padrões atmosféricos alterados e mutações - também são inevitáveis.
Confirmando
esta tendência artificializante, 36 países aprovaram o uso de radiação nos
alimentos -tecnologia extremamente perigosa e destrutiva que expõe os alimentos
à radiação nuclear altamente ionizada - visando a aumentar o prazo de validade de
especiarias, grãos, frangos, carnes, frutas, vegetais e outros viveres postos à
venda. Dentre os riscos potenciais à saúde que essa tecnologia pode gerar estão
a redução do valor nutricional dos alimentos, a presença neles de elementos radio
líticos nunca antes encontrados, o surgimento de fungos carcinogênicos, o
aparecimento de tumores, problemas renais e anormalidades genéticas comprovadas
em testes laboratoriais, tais como produção de bactérias nocivas e a criação de
microorganismos resistentes a radiações.
Podemos
decidir ir mais adiante por este caminho da mecanização e artificialização da
espécie humana ou começar a retornar em direção a caminhos mais naturais de
viver e curar a nós mesmos. O momento em
que vivemos é o momento da decisão! A degeneração progressiva do solo, o
aumento do câncer e das doenças do coração, o enfraquecimento acelerado do
sistema imunológico e o estouro de uma guerra nuclear não são acontecimentos
inevitáveis. A fim de deter ou evitar tais catástrofes, devemos desenvolver uma
nova orientação para a vida. Precisamos especialmente, começar a nos preocupar
com as causas básicas de qualquer problema e programar soluções também básicas,
em vez de insistirmos na tendência atual de tratar cada questão separadamente e
apenas em termos de sintoma. Questões como guerra e paz, saúde e doença, nos
afeta a todos de alguma forma e em todos os domínios da vida moderna. A
responsabilidade de encontrar e aplicar soluções não deveria ser apenas
daqueles que fazem parte do governo, das forças armadas ou da comunidade médica
e científica. A saúde e a segurança autênticas só emergirão por meio de
esforços cooperativos envolvendo pessoas de todos os níveis da sociedade.
A
moderna civilização, por marchar contra ao
invés de com a natureza, tem se
privado da capacidade de evoluir harmonicamente com o meio ambiente. O câncer, as
imunodeficiências, a guerra nuclear, a destruição da natureza nada mais são do
que manifestações extremas dessa marcha ensandecida. Ao invés de considerarmos
as causas do colapso da vida moderna em termos abrangentes - ecológica, social e
biologicamente - nós até agora só temos percorrido a estrada oposta, focalizando
nossa atenção em fatores isolados, como, por exemplo, certas células dentro do
corpo, criminosos dentro da sociedade e organizações terroristas dentro dos
estados/nações. Os remédios que são empregados em nossos hospitais, casas
legislativas e fóruns globais envolvem invariavelmente a cessação dos
antagonismos e a repressão às forças transgressoras, revelando o quanto a
condição global que fizeram com que a doença se desenvolvesse é ignorada.
Este
modo moderno de pensar e viver que nos levou ao beco sem saída em que nos
encontramos, pode ser descrito como dualista. O pensamento dualista separa o
bom do mau, o amigo do inimigo, a saúde da doença, considerando um como
desejável e o outro como indesejável. Tal método parcial de pensamento sobeja
efetivamente a toda sociedade moderna, interferindo na educação e na religião, na
política e na economia, na ciência e na indústria, nas comunicações e nas artes.
Enquanto nosso ponto de vista básico continuar sendo unilateral, impossível
será curar profundamente qualquer doença ou pôr fim à degeneração da família, à
atividade criminosa, às rebeliões sociais e aos conflitos internacionais.
De
uma perspectiva abrangente - tal como aquela que considera o planeta como um todo
integrado - podemos constatar que os inimigos realmente não existem. Todos os
fatores, embora antagonistas para nossos objetivos limitados (sejam eles
nacionais ou individuais) são na verdade complementares. Todo fenômeno contém a
semente de seu oposto. Todos são mutuamente influenciados e transformam-se uns
nos outros. Com o objetivo de contrabalançar os extremos - reduzindo os
excessos e preenchendo os espaços vazios - a natureza produz a maior
diversidade e harmonia possível, como nos revela a espiral da vida.
A
doença não é senão uma adaptação natural, o resultado da sabedoria instintiva
do corpo querendo tentando manter-nos em equilíbrio. E a doença degenerativa, por
sua vez, é somente o estágio final numa seqüência de eventos pelos quais os
indivíduos das sociedades modernas tendem a passar por não saberem apreciar os
benefícios naturais dos sintomas mórbidos. Na realidade a doença está nos
defendendo e protegendo, desde que ela própria, a doença, nada mais é do que a
eliminação ou a concentração em determinadas regiões do corpo de fatores indesejáveis.
Ela é um admirável mecanismo de defesa e adaptação que nos permite viver um, dois,
cinco ou dez anos a mais, ainda que não mudemos nosso modo artificial de viver
e se alimentar.
Por
outro lado, se partimos para uma reflexão profunda, se tomarmos para nós a
responsabilidade de nossas próprias doenças, se, em suma, mudarmos nossa orientação,
a enfermidade cooperará conosco e desaparecerá, caso ainda não tenha chegado a
um estado irreversível.
Como
a moderna medicina está começando a descobrir, o câncer e outras doenças
degenerativas podem muito bem ser prevenidas e, em muitos casos, até mesmo
controladas, sem que se lance mão de tratamentos violentos. Para tanto basta
adotar uma dieta baseada em cereais e vegetais integrais, acompanhados de
outros alimentos tradicionais complementares, e administrar simples, mas
eficientes tratamentos caseiros. Milhares de pessoas com câncer e doenças
cardíacas, inclusive várias em estado considerado terminal pela medicina
moderna, recuperaram a saúde e a vitalidade ao adotarem métodos tradicionais e
holísticos de cura. E centena de milhares de outras têm prevenido o surgimento
de doenças degenerativas mudando o seu estilo de comer e viver. Simultaneamente
à mudança de hábitos alimentares, muitos indivíduos enfermos têm tomado a
iniciativa de administrar tradicionais remédios caseiros para reduzir sintomas
e descarregar materiais tóxicos por meio da pele e da urina. Essas aplicações, além
de seguras, simples e auto administráveis, estimulam a atividade circulatória e
potencializam o eletromagnetismo do corpo, fazendo com que a energia flua
facilmente para a região afetada.
A
abordagem tradicional do tratamento das doenças é dócil e pacífica. Não é
violenta. Todos os fatores são considerados complementares e a ênfase recai
sobre a restauração do equilíbrio. Por milhares de anos a humanidade julgou a
vida não como uma batalha em que inimigos teriam que ser violentamente
subjugados ou destruídos, mas sim um jogo que suscita aventuras e descobertas
ilimitadas e no qual os opostos são graciosamente harmonizados. Da adoção deste
ponto de vista, paz e saúde seguem como conseqüências naturais. "
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