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É comum ouvir pessoas
que advogam contra o uso dos derivados da soja e que alegam que podem ser
carcinogênicos, sendo especialmente contra-indicados para quem tem ou já teve
câncer de mama. Como pode ser visto no texto publicado sobre os derivados da soja, eles existem em uma diversidade de formas, texturas e sabores. Essa diversidade tem influência direta no possível papel anti ou pró carcinogênico destes produtos.
O primeiro ponto que deve-se cuidar ao optar por ingerir produtos derivados da soja é a origem da matéria prima, já que esta é alvo de mono-cultivos, repletos de agrotóxicos e também de modificações genéticas (sementes transgênicas). Neste caso, é essencial que haja muito critério na hora da compra, escolhendo sempre produtos com certificação orgânica (a exemplo da Ecobrás, empresa brasileira com uma larga variedade de produtos usando soja orgânica como matéria prima).
Outro aspecto que foi tocado no texto da Paula Savino foi a respeito da proteína texturizada de soja: subproduto amplamente utilizado hoje em dia, de menor valor nutricional, ao ser comparado a todos os outros listados e efeito pró-inflamatório. Somado a isto, sabe-se que hoje há uma vasta utilização da matéria prima do mercado, associada a sucos açucarados e outros produtos repletos de conservantes. Percebe-se assim, que o problema está justamente na qualidade de muitos produtos que usam sojas transgênicas e/ou de cultivos não orgânicos como matéria-prima, associados a outros ingredientes de baixo valor nutricional.
A polêmica dos derivados da soja, que podem ter efeitos contra-indicados para o câncer de mama, no entanto, não inclui os derivados fermentados
da soja, que possuem efeito comprovadamente anticâncer, a saber: missô,
tempeh, tamari, shoyu e nattô. Você deve estar se perguntando qual a diferença. Eu explico: A soja, assim como outras leguminosas, sementes e oleaginosas, contêm fitatos, que podem quelar absorção de minerais no organismo, apresentando efeitos antinutricionais. O processo de fermentação "quebra" a soja, ajudando no seu processo digestivo. Além disso, a fermentação acrescenta nutrientes extras e probióticos (bactérias benéficas - lactobacilos) à soja.
A soja contém fito-estrógenos, que são substâncias fitoquímicas que se assemelham ao estrogênio. A mama é repleta de receptores para estrogênio, hormônio que em excesso, pode alimentar o câncer de mama. Por este motivo, hormônios anticoncepcionais e medicamentos usados para reposição hormonal durante a menopausa são contra-indicados para quem tem histórico na família ou pessoal de câncer de mama. Quando fito-estrógenos são ingeridos, ligam-se a estes receptores, "roubando" o lugar do estrogênio. Sendo assim, a soja ajuda a impedir a ligação do estrogênio na mama, podendo ter efeito protetor.
Estudos científicos confirmam esta informação e apontam que produtos não fermentados da
soja, como o tofu e o leite de soja, podem prevenir o câncer de mama. É o que fala o Dr. Neal Barnard – presidente do Physicians Committee for Responsible Medicine, no trecho de um artigo que transcrevi abaixo, com
respectiva referência bibliográfica. Quem quiser ler o texto na íntegra, basta
clicar aqui!
“For all those who worry that soy is somehow linked to cancer, yet another
study confirms that soy products actually have an anticancer effect. The
Canadian Medical Association Journal reported that women consuming the most soy
products had a lower risk of breast cancer recurrence, compared with women who
neglect soy. Postmenopausal women who ate more than 42.3 milligrams of soy
isoflavones daily had a 33 percent decreased risk of recurrence, compared with
women who ate less than 15.2 milligrams per day. Eight ounces of soymilk
contains roughly 20 milligrams of soy isoflavones (Kang, 2010).” Dr. Neal Barnard
“Para aqueles que se
preocupam que a soja seja de alguma forma relacionada ao câncer, mais um estudo
confirma que os derivados da soja tem efeitos anticancer. O Jornal da
Associação Médica Canadense publicou que mulheres que consomem mais produtos da
soja tiveram menores riscos de recidivas de câncer de mama, ao serem comparadas
àquelas que negligenciam a soja. Mulheres pós-menopausadas que comiam mais de
42,3 miligramas de isoflavonas da soja diariamente tiveram 33% menos chances de
recorrência, comparadas com as que comiam menos do que 15,2 miligramas/dia. Duzentos
e trinta gramas de leite de soja contém aproximadamente 20 miligramas de
isoflavonas (Kang, 2010)” Dr. Neal Barnard
Além disso, o consumo da soja como fonte proteica é muito associada à dietas vegetarianas. Estas, também possuem comprovados efeitos anticâncer, ressaltadas também neste texto escrito pelo Dr. Neal Barnard.
"Last
year, researchers also found new evidence that plant foods can help fight
breast cancer. In a study published in the American Journal of Epidemiology,
researchers followed the diets of 51,928 participants in the Black Women’s
Health Study. Participants who ate two or more servings of vegetables per day
had a 43 percent decreased breast cancer risk, compared with those who ate less
than four servings per week. Cruciferous vegetables like broccoli, cauliflower,
and kale and carrots had the largest impact on breast cancer risk (Boggs, 2010)." Dr. Neal Barnard
"Ano passado, pesquisadores também rescobriram
novas evidencias que vegetais podem ajudar a combater o câncer de mama. Em um
estudo publicado no Jornal Americano de Epidemiologia, pesquisadores
acompanharam as dietas de 51.928 participantes no Estudo de Saúde de Mulheres
Negras. Participantes que comiam duas ou mais porções de verduras tinham risco de
câncer de mama diminuído em 43% ao serem comparadas com aquelas que ingeriam
menos que quatro porções de verduras por semana. Vegetais crucíferos como
brócolis e couve-flor, juntamente com couve e cenoura, demonstraram o maior
impacto na prevenção do câncer de mama (Boggs, 2010)." Dr. Neal Barnard
Referências Bibliográficas:
Boggs DA, Palmer JR, Wise LA, et al. Fruit and Vegetable Intake in Relation to Risk of Breast Cancer in the Black Women's Health Study. Am J Epidemiol. Published ahead of print October 11, 2010. doi: 10.1093/aje/kwq293.
Kang X, Zhang Q, Wang S, Huang X, Jin S. Effect of soy isoflavones
on breast cancer recurrence and death for patients receiving adjuvant endocrine
therapy. CMAJ. Published ahead of print October 18, 2010:
doi:10.1503/cmaj.091298.
Muito grata pelo complemento mais esclarecedor!
ResponderExcluirMas eu ainda não me sinto segura prescrever soja para pacientes com histórico de câncer, até porque a soja que é de mais fácil acesso e aceita na nossa cultura, se apresenta na forma de leites cheios de aditivos e a soja texturizada, que além do que você já citou é fonte de xenobióticos, que são utilizados na sua produção.
Com relação a forma fermentada o benefício vai além das bactérias, pois confere um comportamento diferenciado ao fitoestrógeno. Confere?rs
Vamos continuar estudando!rs... Muito grata, mais uma vez! Beijos
Oi Mônica,
ExcluirNão tem o que agradecer. Ser estimulada a estudar e escrever é mais que um prazer, quase uma terapia: AMO!!!
Isso mesmo. Temos que tomar muito cuidado ao prescrever soja e sermos bastante específicas sobre quais produtos devem ser consumidos, inclusive esclarecendo que ele pode ser vilão ou mocinho: depende da roupa que veste!
Sobre o fitoestrógeno diferenciado nos produtos fermentados, nunca li nada a respeito. Tem algum artigo para compartilhar??
Grata pela contribuição, seguimos com os estudos...!!
Beijos e bom feriado!
NOTA 10!
ResponderExcluirrs..Que ótimo!
ResponderExcluirNão tenho artigo em mãos, mas isto foi citado por 2 professores (Natália Marques e Henrique Soares) da VP, em alguns cursos de extensão que fiz.
Beijos e Bom feriado para você também!