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Não se faz
mais médicos como antigamente... Acabei de ver uma matéria sobre a cobrança de
taxa extra por obstetras para garantir que estejam presentes até que suas pacientes entrem em trabalho de parto. A alegação é que para o médico estar disponível no fim da
gestação é preciso pagar para compensar este trabalho “extra”. Como se não
bastasse os altíssimos índices de cesarianas no país, agora esta novidade!!
Vivemos em
um país onde a saúde pública é precária. Por conta disso, muita gente se
sacrifica para pagar um plano particular, justamente pela garantia de
atendimento com hora marcada e o mínimo de conforto. Aí vem uma surpresa
dessas! Além do plano de saúde, uma taxa extra, estipulada a critério do médico
no dia da primeira consulta pré-natal, a ser paga durante toda a gestação...
A escolha
pela carreira médica não é uma imposição da sociedade. Muito pelo contrário, as
pessoas que escolhem esta profissão costumam estudar bastante, por vontade
própria, até alcançarem seus títulos. Depois de formado, o médico não é
obrigado a trabalhar para a rede pública, pode optar em se filiar a um plano de saúde ou atender
apenas particular. Uma vez feita a escolha do modo de trabalho, cabe ao
profissional aceitar as regras do jogo. Se o plano de saúde está pagando mal, é papel do médico deixar de aceitar o convênio, mudar para outro ou até negociar
com a seguradora. O que não dá, é para repassar o problema para uma pessoa
fragilizada, que se encontra insegura com o parto. No meu vocabulário isso se
chama chantagem emocional...
A mesma chantagem
emocional é notada nos casos em que obstetras influenciam pacientes, em total
condição de fazerem partos normais, a se submeterem ao processo cirúrgico de
uma cesárea. Os motivos? Preguiça de acompanhar um parto longo e demorado, má
vontade de ficar à disposição das pacientes, comodidade de ter uma agenda com
horários certinhos ou até o fato de assim serem mais bem remunerados.
Outro
aspecto que deve ser levado em consideração é a quantidade de especializações
médicas existentes. Pressupõe-se que alguém que escolha seguir a carreira
obstétrica deva estar disposto a executar o trabalho plenamente: acompanhando
suas pacientes da gestação ao parto. Se este tipo de
serviço não agrada, o médico pode optar somente pela ginecologia. É o caso da
minha ginecologista, por exemplo, ela só atende em consultório e não é
obstetra. É um direito dela e de qualquer profissional, escolher o serviço que
deseja, ou não, prestar. O que não dá é que o profissional se comprometa com um
serviço e execute outro, ou então que imponha regras financeiras para prestar o
serviço completo, quando não existe uma opção do serviço ser feito pela metade.
Comparando
com uma situação comum, uma pessoa que vai ao restaurante pode escolher comer
somente a refeição ou acrescentar uma sobremesa. Ela não sairá prejudicada caso
opte pelo básico, que seria só o prato de comida. Já uma pessoa que está
grávida, não pode fazer só o pré-natal e deixar de fazer o parto. Logo, não há
como o serviço ser prestado pela metade ou necessitar de condições especiais
para ser completo. Trata-se de um serviço único: com começo, meio e fim. Claro
que existem eventualidades, onde o parto é muito rápido e não dá tempo do
médico chegar. Mas, nas “CNTPs”, normalmente dá tempo de sobra para chamar o
médico e dele chegar à tempo, ainda por cima com todas as facilidades de
comunicação atuais...!
É bom
divulgar que esta novidade da “taxa extra” não é uma prática regulamentada e a orientação
é que esses médicos sejam denunciados ao plano de saúde do qual são
afiliados... O problema é que as pacientes ficam nas mãos desses profissionais,
pelo fato de, em muitos casos, já serem pacientes há bastante tempo e sentirem-se
inseguras de ficarem nas mãos de um profissional desconhecido. Por isso, acabam
concordando com a tal taxa. Que tipo de parceria é essa? O médico conquista a
confiança do paciente e na hora que ele está mais frágil, ao invés de apoiar, “mete
a faca”? E a ética, onde fica nisso tudo?
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