segunda-feira, 11 de março de 2013

Paradoxos discriminatórios


Esse texto do Reinaldo Azevedo me fez lembrar um anúncio de rádio que escutei esta manhã. Algo mais ou menos assim:

"Atenção: se você é negro ou negra (nestas horas não precisa ser politicamente correto e chamar de afrodescendente) e busca uma oportunidade de trabalho na área de produção cultural estão abertas as inscrições no site www.cultura.gov.br, mais precisamente neste link."

Naquele momento pensei: Quer dizer que se estivesse precisando desta mesma oportunidade, estaria automaticamente excluída pelo fato de ser branca?

Isso mesmo! Como se não bastasse o fato de me sentir sempre em desvantagem no quesito segurança por ser mulher (sexo frágil) e branca (cara de gringa ingênua e indefesa) numa cidade onde mais de 80% da população é negra; ter a possibilidade de ingressar numa faculdade pública reduzida (o que vale não é mais o mérito e sim a cor da pele, depois das cotas); bolsa em faculdade particular também, nem pensar (apesar de pagar todos os impostos em dia e não serem poucos...). Agora, até as oportunidades de trabalho discriminam os brancos.

Afinal? Quem está sendo racista nessa história? Quem está promovendo uma atitude de segregação racial?

Sinceramente, morando em Salvador é praticamente impossível que não haja uma convivência harmoniosa entre brancos e negros, até porque ninguém aqui é totalmente branco ou totalmente negro. A miscigenação é geral, ou seja, o que delimita a raça de alguém por aqui? Qual a diferença que a cor da pele pode fazer  acadêmica/profissionalmente? Por que misturar alhos com bugalhos?? Eu por exemplo, apesar de ser "branca", quando me exponho ao sol, fico morena de um jeito que nenhum branco europeu, ou do sul do Brasil pensa em ficar. E aí? Sou branca mesmo? Tenho certeza que se chegar em um país nórdico serei facilmente percebida como "morena". O que dizer dos negros de olhos claros e cabelos lisos? E da loura de cabelos crespos e olhos castanhos? Nenhum destes exemplos é raridade por aqui...

Dizem que quem não tem problema cria. Estou começando a achar que é isso que está acontecendo nesta terra. 

Pobre de mim: defensora da arte culinária cotidiana, do papel da mulher como dona-de-casa e da sua importância na manutenção da harmonia familiar (nada feminista). Heterossexual. Nenhuma inclinação pelo comunismo/socialismo. Não ciclista. Pertencente à uma família de classe média, nada envolvida com política e defensora do trabalho honesto. Não pertencente à qualquer tipo de ONG. Sem nenhum gingado, numa terra movida pelo axé, pagode, samba e arrocha. Nenhum artista na família ou jogador de futebol. Acho o Camaro Amarelo um horror e ainda por cima sou "branca" numa terra onde a maioria da população é negra. Corto meus pulsos ou dou um jeito de morar em outro lugar?!? Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco não conseguirei mais sair de casa ilesa...

Um comentário:

  1. Concordo com tudo o que você disse. Estabelecer cotas é uma forma de discriminar. O problema social do país não será resolvido assim...

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