segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Qual a diferença entre comprar uma Ferrari e um alimento Orgânico?


Nos últimos tempos houve algumas polêmicas na mídia e eu andei um pouco sumida, acabei não comentando... Agora, como diria Raulzito:  “Eu também vou reclamar”. Começou com a história dos animais do Instituto Royal... Quero saber se as pessoas que defenderam a invasão e o roubo dos animais não tiveram suas vidas salvas (ou de algum parente/amigo) graças a algum medicamento que tenha sido desenvolvido à custa de experimentações realizadas em animais. Outra coisa: nunca tive um bicho de estimação e sempre achei uma VIOLAÇÃO ao direito do animal, confiná-lo a um apartamento (ou casa) e tirar o seu direito de viver com outros da mesma espécie, enquanto, pela lei natural das coisas, deveriam viver livres... Então, todos aqueles que defendem os animais, mas têm os seus ‘pets’ em casa, para mim estão no mesmo saco daqueles que usam os animais para fazer experimentos. A diferença é que o segundo grupo os utiliza para desenvolvimento da ciência (quantas vidas não já foram salvas?) e o outro, diz que os ama, mas acaba transformando seres vivos em bichos de pelúcia que se movem, pois castram e até fazem com que parem de latir os pobres animaizinhos... Isso é amor? Impedir de cruzar, procriar, latir, caçar, correr, habitar entre outros da mesma espécie... Obrigá-los a ficar cheirosos, com lacinhos, fitinhas e sapatinhos, confinados, comendo a mesma comida (sem opção de escolha) em todas as refeições? Neste tema, para mim, a polêmica não passa o ‘sujo’ criticando o ‘mal lavado’. Acho que o que estamos precisando é de mais bom-senso e menos hipocrisia, pois como diz o ditado: de boas intenções o inferno está cheio, e se interromper uma pesquisa que poderia salvar muitas vidas é uma boa ação, então proibir a domesticação de animais também é uma causa justa... Que tal olhar pro próprio umbigo antes de criticar o do vizinho?

Já que hoje estou com a macaca, vou saltar pro Rei do Camarote. Acabei de ler o texto do Reinaldo Azevedo sobre o tema e não resisti em abordar o assunto. Quando assisti ao vídeo, confesso que pensei: “Que babaca! O pior é que muitos dos que estão falando mal, no fundo morrem de inveja. Outros agem de maneira idêntica (de acordo com as suas possibilidades) e sequer se dão conta disso... e ainda falam mal...” Sim, achei o cara um babaca, pois os valores dele não tem nada a ver com os meus, entretanto, isso não quer dizer que eu esteja certa ou ele errado...

Uma coisa positiva que me ocorreu ao ver o vídeo foi que criou certa situação de ‘constrangimento’ em relação a agir futilmente e penso que é um bom estímulo para que muita gente não fique tão endividada por enaltecer valores supérfluos... Aqui em Salvador mesmo é triste ver gente que mal tem onde cair viva (morto se cai em qualquer lugar), deixando de alimentar suas famílias, para gastar dinheiro em botecos e festas de largo. A velha cultura do pão e circo, sinônimo de Brasil. Fico triste com esse tipo de inversão de valores e aplaudo qualquer movimento que traga à tona a noção de que ‘o essencial é invisível aos olhos’.


Sobre o Rei do Camarote, acho que não cabe questionar (e julgar) as cifras que ele gasta: cada um gasta o que tem naquilo que quer e pode. Não é a toa que tem muito marmanjo torrando dinheiro em barzinho, enquanto a sua família vive em um barraco com risco de desmoronamento... A vida é feita de escolhas, sempre digo! Só acho a segunda situação mais crítica, pois, no caso do Rei do Camarote, não lhe falta nada de essencial, ao passo de que quem prioriza a cerveja em detrimento de oferecer um prato de feijão com arroz aos seus filhos, está prejudicando quem não tem nada a ver com a esta opção de vida...  

Não poderia concordar mais com o raciocínio e crítica que o Reinaldo faz acerca do tão falado vídeo. Se existe uma coisa que sempre me incomodou é quem dá nota nos gastos de outras pessoas. Acho que cada um tem o direito de gastar o que tem - naquilo que tiver vontade. O que não dá é pra ficar julgando as escolhas e prioridades alheias. Principalmente, pois, quem julga parte do pressuposto de que a sua conduta é 'mais certa' e essa questão de ‘consumo’ é algo absolutamente pessoal...

Sobretudo, estamos falando de proporções e escolhas. Para a minha realidade, por exemplo, é um LUXO fazer uma feira de orgânicos ao invés de optar por alimentos populares. Seguindo a mesma linha de raciocínio das críticas ao Alexander, é como andar de Ferrari ao invés de carro popular: ambos são capazes de transportar a mesma quantidade de pessoas. Com comida é a mesma coisa, comprar orgânicos (caros e exclusivos), pode parecer um insulto a quem não quem o que comer: afinal, é tudo comida capaz de matar a fome...

Cada um compra o que quer e o que pode: neste ponto comprar uma Ferrari é igual a comprar um alimento orgânico (grifes do que há de melhor qualidade em produtos distintos). Escolhi usar este exemplo, pois está na última moda e o que mais vejo por aí são pessoas que julgam atitudes ‘consumistas’ alheias e que, ao mesmo tempo, enchem as suas despensas de orgânicos... Ou compram livros e DVDs do Chico Buarque, vão a concertos de música erudita, frequentam museus, viajam nas férias... Como é que funciona? Se a gastança é considerada ‘cult’ ela está liberada e se for considerada ‘fútil’ será julgada? Neste caso, quem está habilitado a julgar o que é o quê?




Não vou repetir os argumentos do Reinado Azevedo, mas recomendo que leiam o seu texto. Vou ficando por aqui, finalizando com a reflexão de que: espero poder viver minha vida, tendo a possibilidade de me remunerar de acordo com o meu talento e dedicação ao trabalho e que, no fim do mês, tenha o direito de gastar o meu dinheiro, adquirido de maneira honesta, da forma que considerar correta, sem ser julgada... E se existe um mercado que vive de futilidades é porque existe um público que paga por elas. As pessoas são diferentes e têm o direito de serem felizes da forma que acharem melhor: uns precisam de bichos de estimação, outros de livros, de baladas, de viagens, de orgânicos, de medicamentos, de esportes, de natureza, de trabalho, de sol, de futebol, de neve, de mar, de amigos, de um grande amor, de piriguetes, de rotina, de exibição, de privacidade........ O que lhe faz feliz? Certamente não é o mesmo que me faz feliz, afinal, por mais parecido que se possa ser, ninguém é igual a ninguém. Então, meu desejo é que sejamos mais livres, que exista menos julgamento e consequentemente mais felicidade... Menos hipocrisia e mais sensatez... VIVA!!!

3 comentários:

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  2. Concordo com tudo Camila! Muito legal a reflexão do que seria o "fútil". Sobre os orgânicos, não considera que eles sejam significativamente melhores para a saúde do que os produtos com agrotóxico?

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    1. Oi Aline,

      Considero os orgânicos INFINITAMENTE MELHORES (tanto que comparo-os com uma Ferrari) do que alimentos produzidos em larga escala, que precisam de conservantes e agrotóxicos, para aumentar a durabilidade e possibilitar comercialização em grande escala e preços baixos. Entretanto, como disse no texto publicado esta semana (http://www.beijonopadeiro.com/2014/03/impactos-culturais-nos-padroes.html) o ótimo é inimigo do bom e se entrarmos nessa paranoia, corremos o risco de limitar nossa dieta ao consumo de três tipos de vegetais, já que grande parte é muito difícil de ser encontrado na forma orgânica ou então é caro demais. O ortorexia está se tornando cada vez mais frequente e isso é preocupante, pois acaba fazendo com que as pessoas tenham dietas muito restritas, quando a variedade é um fator essencial numa alimentação saudável... Apesar dos agrotóxicos, as hortaliças contêm muitos nutrientes importantíssimos e quanto maior a variedade, melhor.

      O que aconselho sempre é buscarmos aliviarmos nossa função hepática para que seja possível metabolizar e excretar toxinas com mais facilidade, como agrotóxicos... Uma pessoa que se enche de açúcar, bebidas alcoólicas e toma remédio para tudo, acaba sobrecarregando o seu fígado e assim o efeito dos agrotóxicos torna-se ainda mais nocivo, entende?? Então, acreditar que comer orgânicos vai fazer milagre enquanto comete-se todo tipo de excesso é uma ilusão perigosa... Por outro lado, uma pessoa que, por ter uma alimentação mais saudável, acaba ficando menos doente, pode reinvestir o dinheiro que deixa de gastar com medicamentos e consultas médias em alimentos de melhor qualidade: integrais e orgânicos...

      O que não podemos negar é o fato de serem "artigos de luxo" por serem, às vezes, até 500% mais caros e não temos como fugir desta realidade, caso contrário não haveria comida suficiente para alimentar todo o planeta...

      Imagine se todos os carros do mundo tivessem que ter a qualidade (e consequentemente preço) de uma Ferrari?? Eu você e 100% das pessoas que eu conheço não poderiam ter um carro (não conheço ninguém que tenha uma Ferrari ou um carro do mesmo nível). Devemos ser gratas à existência de produtos de todas as espécies, capazes de atender grandes demandas. No caso dos alimentos, existem escalas que demonstram aqueles que têm menos ou mais agrotóxico (na comparação com carros seria como diferenciar um carro popular, de um Corolla e uma Ferrari). O fato de não ser perfeito, ou o melhor que tem, não significa que seja descartável ou completamente ruim, entende??

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