sexta-feira, 14 de março de 2014

A teoria do Merthiolate e o futuro das próximas gerações

Acabei de assistir esse vídeo IMPAGÁVEL, mas infelizmente não consegui postá-lo aqui no blog, apenas esse "resuminho" do que se trata. Não deixe de assistir, clicando aqui! Abaixo o texto que deu origem ao vídeo.



"A TEORIA DO MERTHIOLATE 
Por: Murilo Gun - stand-up comedy

As crianças hoje em dia são muito hiperativas.
Na minha infância, as crianças eram mais calmas. Sabe por quê? Porque o Merthiolate ardia muito.
As crianças de vez em quando deixavam de fazer merda pensando no Merthio
late. O Merthiolate tinha uma função pedagógica.
O Merthiolate também tinha uma função psicológica. Porque aquele ardor dava a impressão de que os micróbios estavam sendo mortos. Você acreditava que de fato estava curando. Mércurio Cromo não ardia, então dava a sensação que curava menos. Quando o Merthiolate encostava na ferida, você sentia que ali tinha virado um grande campo de batalha. Você sentia o ardor da guerra. E quando o ardor passava é porque a gente tinha conseguido vencer o mal.
Além do fator pedagógico e psicológico, o Merthiolate também tinha um apelo maternal. Porque a única coisa capaz de amenizar o sofrimento do Merthiolate eram as micropartículas de saliva materna. Quando a mãe soprava na ferida, o sofrimento magicamente reduzia.
Além do fator pedagógico, psicológico e maternal, o Merthiolate também tinha uma função de geolocalização. Porque o ardor servia como sinalização se o Merhtiolate tinha sido de fato colocado no local correto. Se não ardesse, é porque não colocou direito. O Merthiolate era o GPS da ferida.
Além do fator pedagógico, psicológico, maternal e de geolocalização, o Merthiolate também teve um impacto na personalidade das pessoas. O ardor incrível do Merthiolate moldou a personalidade da geração de crianças dos anos 80. As crianças desde cedo se acostumaram a ser homem, engolir choro, aguentar dor..
Hoje em dia.... o Merthiolate não arde mais!
Por isso essa geração emo, tudo cheio de frescura, chora por qualquer coisa…"

Imagem retirada do Google Imagens

Aposto que muita gente vai se identificar com esse vídeo. Pessoas da minha idade ou mais velhas que eu, claro! Eu, como fui uma criança bem traquina, lembro das duas dores que mais temi na infância: a do Merthiolate nas feridas e a do Albicon nas aftas. Sobrevivi a elas sem traumas.

As crianças, hoje em dia, vivem superprotegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e para completar, nem com um Merthiolate educativo podem contar mais!!! Crescem achando que a vida é cor-de-rosa e quando deparam com o mundo como ele é, surtam! Estava conversando com uma amiga ontem e ela comentou que leu, em um cartaz em um posto de saúde, que agora até serviços domésticos devem ser denunciados como exploração ao menor. 

Aí paro para lembrar de minha infância e como ela não me trouxe nenhum trauma, apesar de ter trabalhado desde muito nova. Eu e minha irmã sempre ajudamos minha mãe a fazer mercado (ela entregava uma lista para cada uma e tínhamos que verificar os preços, as quantidades, os rótulos de tudo). Em casa, tinha a obrigação de forrar a minha cama e meus pais me davam 10 centavos para forrar a cama deles. Era remunerada da mesma forma para lavar os carros, engraxar sapatos, lavar louça e ajudar em outros serviços domésticos. Eu e minha irmã disputávamos para realizar essas tarefas e nunca faltou tempo para brincar e estudar. Resultado, quando queria alguma coisa, sabia que tinha que juntar as minhas moedinhas para comprar. Com isso, sabia que o meu "querer" tinha limite: exatamente o que poderia pagar. 

Meus pais nunca me deram presentes fora de época. Eram três ao ano: Natal, Aniversário e Dia das Crianças e nunca presentavam com nada que fugisse do orçamento deles. Aliás, sempre deixaram muito claro que vivianos dentro de um orçamento e que algumas coisas eram fora de nossa realidade. Ponto final. Não tinha chororô, entendíamos completamente que querer não significava poder e ficávamos satisfeitos com o que era possível. Por outro lado, sempre frisavam o quanto investiam em nossa educação e que esse era o nosso bem mais precioso: pois ninguém poderia tirar da gente.

Me formei como datilógrafa aos 10 anos de idade e desde então passei a pegar trabalhos de encomenda para digitar. De minha tia (professora universitária), de suas colegas e de pessoas na escola. Cobrava os mesmos 10 centavos por página e ficava feliz da vida com trabalhos enormes para digitar. Talvez por isso nunca tenha brincado de joguinhos no computador, a maior parte do tempo utilizava-o para fins acadêmicos e para trabalhar e ainda tinha que dividir com a minha irmã, que formou em datilografia cinco anos antes de mim e chegou até a digitar livros de encomenda. Nesta mesma época, fazia bijuterias para vender, juntamente com uma vizinha que era a minha sócia. Fazíamos: colares, pulseiras, cintos... nossos quartos eram oficinas repletas de materiais como: miçangas, couros, balangandãs, feixes, fios de náilon, elástico. Fazíamos a contabilidade de tudo e sabíamos exatamente o que era gasto, o que era lucro. Desde cedo percebi que a matemática que aprendia na escola tinha grande utilidade na vida prática.

Nada disso me impediu de ser uma criança feliz, até porque me divertia fazendo essas coisas. Além disso, achava que a recompensa valia o esforço: ficava super orgulhosa cada vez que adquiria alguma coisa com o meu próprio dinheiro, mesmo que fosse uma presilha de cabelo. Administrava o meu tempo e conseguia fazer um pouco de tudo: brincava; estudava; ajudava em casa; fazia supermercado; datilografava trabalhos de encomenda; fazia bijuterias; saia pela rua, batendo na casa das pessoas para vender meu artesanato... Hoje, quando penso que tudo isso é proibido, fico imaginando que tipo de geração está se formando.  As histórias mais entusiasmantes de pessoas que cresceram na vida incluem algum tipo de trabalho que iniciou sempre bem cedo. Não me conformo com essa ideia de que a única obrigação de uma criança deva ser somente brincar. Se não aprendermos desde cedo que a vida é feita de diversão e também de obrigações, aprenderemos quando? Talvez nunca e isso resultará numa geração de pessoas mimadas, que acham que tudo podem, que o mundo gira em torno do umbigo delas, que não conhecem limites e desconhecem a lei mais básica da vida: da causa e consequência. O pior é que esse futuro não é uma hipótese e sim o presente.

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