Hoje estou aqui para homenageá-la mais uma vez. Ontem ela foi conhecer o seu maior ídolo: Deus e se encontrar com meu avô, seus pais, irmãos e outros tantos que partiram antes dela...
Ter uma avó é uma alegria na vida de uma pessoa. Eu tive duas oficiais e mais umas emprestadas... Quanta sorte!
O que falar de minha avó Licea neste momento? Que a saudade será grande? Que minhas idas a Salvador nunca mais serão as mesmas? Que a Av. Centenário perdeu um ícone? Que sinto que para Gui essa bisa não será mais que uma lembrança no porta-retratos...?
Tudo isso é verdade, mas na realidade é quase impossível lamentar a morte de uma pessoa de 95 anos. Tenho mesmo é motivos para celebrar e agradecer. Celebrar o privilégio de ter tido uma avó tão longeva, um exemplo de boa saúde! Agradecer por ela ter vivido até dois meses atrás 100% livre de qualquer tipo de doença e medicamentos. Um verdadeiro fenômeno! Desconhecia patologias simples como dores-de-cabeça. Cheia de vitalidade, sempre de pé ou sentada (em cadeira, nunca em poltronas) jamais deitada, jogada no sofá ou até mesmo escorada. Um exemplo perfeito de alguém que viveu o ciclo da vida em sua forma mais plena!
Para ela não tinha tempo ruim. Não era chegada a queixas ou lamentos, tampouco a fofocas... Vivia a vida dela e era feliz com pouco: uma ou duas doses de licor ou "Drink Dreher" diariamente e um docinho para tirar "a boca amarga" da tarde eram suficientes para deixá-la contente. Presentes? Segundo ela só serviam para encher gavetas! Gostava de ganhar somente coisas úteis como sabonetes e porque não, uma garrafa de licor? Sapato? Moleca! Se deixasse era isso é nada mais, usava a mesma até furar e se ganhasse outra dizia que não precisava... Tênis? Jamais! Apesar de ser o sapato ideal para quem tanto caminhava, chamava de pé de elefante! E o que falar de calças compridas? Nunca! Ela nasceu antes da guerra e com muito orgulho dizia que era do tempo em que mulheres usavam saias que cobrissem os joelhos. O tempo passou e ela manteve-se firme e forte à sua crença acerca da vestimenta feminina. Adorava ajudar o próximo e dedicava grande parte do seu tempo livre a isso: fosse ajudando a cuidar/educar os netos/bisnetos, datilografando, fazendo reparos de roupas ou crochê... O que ela não sabia mesmo era ficar parada! Esqueceram de colocar a palavra "preguiça" em seu vocabulário e acho que por isso mesmo viveu 95 anos tão bem vividos!
Com agenda cheia, para visitá-la era preciso consultar se estava disponível, pois estava sempre repleta de atividades: cursilho, visitas às amigas, bazares beneficentes, missas, caminhadas pelo bairro... Forte e independente, tornou-se viúva relativamente cedo e soube reinventar a sua vida de forma invejável.
Envelhecer e ser obrigada a permitir que as filhas assumissem funções como ir à bancos e fazer pagamentos ou mesmo a proibissem de subir em escadas para faxinar armarios da cozinha ou caminhar sem estar acompanhada (após alguns assaltos) não foi fácil. Não à toa, inúmeras vezes se rebelou e fugiu sozinha (ou acompanhada da bisneta primogênita - uma criança) para ir ao mercado. Sua vitalidade era tão grande que era difícil fazê-la compreender o risco de algo tão simples e cotidiano.
Poderia passar horas escrevendo sobre ela, porém vou ficando por aqui, com minhas melhores lembranças passando como um filme em minha cabeça e certa de que só terei motivos alegres para recordar desta pessoa tão única, especial, marcante e inesquecível que tive a honra de ter sido presenteada nesta passagem pela Terra na figura de avó!
É muito comum dizerem: "descanse em paz" quando alguém morre... Ela, tenho certeza que estava era cansada do descanso forçado que viveu nos últimos dois meses e certamente está cheia de novas atividades no céu, com muitas novidades, do jeitinho que sempre gostou! Vó, um "agite-se em paz" para você onde quer que esteja neste momento! Será sempre uma inspiração para nós por aqui...
Adorei o texto, prima!
ResponderExcluirA vó tinha mais energia do que muita gente novinha por aí... Nessas horas o conforto é saber que ela já não sofre, e que ninguém poderá tirar de nós as memórias do convívio
Beijos!
O que dizer de tão bela descrição de minha mãe, sempre a 1000 por hora, quando vinha para nossa casa em Curitiba eu dizia: Licea você veio aqui para ficar com seu filho sua nora e seus netos e DESCANSAR, mas esta palavra era estranha à ela.
ResponderExcluirNunca estava parada sempre querendo fazer algo.
Como Camila disse não tem como falar Descanse em Paz mas, Esteja em paz minha mãe e obrigado por tudo.
Que homenagem linda, prima!
ResponderExcluirEnquanto lia consegui lembrar de vários momentos como os mencionados. Apesar de ter convivido bem menos com a nossa vó por morar em outra cidade, ela sempre fez questão de vir passar pelo menos um mês por aqui (no calor, claro!) com seus netos de Curitiba :)
Vai deixar saudade e muitas lembranças.
Aposto que ela já arranjou muitas coisas pra fazer nessa nova dimensão que ela está hehe
:*
Que lindo!! Amém às suas preces e homenagens! Tentarei mostrar à minha avó, que está com 97 anos e não muito alegre, apesar de também ser um exemplo de saúde e longevidade. Acho que ela precisa se lembrar das vezes que se reinventou! Um abraço. Keiko Fueta.
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