segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Verão na Bahia


Aqui na Bahia existe uma frase famosa para colocar inveja nas pessoas de fora: “Eu moro onde você passa férias”. Tenho que assumir que como Baiana já curti muito as festas do verão e muitas outras ao longo do ano, mas hoje, um pouco mais madura, elas tem me tirado o meu bom humor.

Confesso que é irritante morar em um lugar movido a festas. O pior é que é uma cidade pobre e que com esse espírito continuará sendo, pois, o baiano trabalha para patrocinar suas festas. Tendo o dinheiro da cervejinha está tudo ótimo. Como evoluir se a ambição da maioria da população custa míseros dois reais (ou melhor: "três por cinco")?

Não existe a menor condição de uma cidade desenvolver se durante pelo menos um quarto do ano, só se pensa em farra. Começa em dezembro e só termina depois do Carnaval, isso sem falar no São João.

Se isso não atrapalhasse o funcionamento da cidade tudo bem, mas temos que conviver o verão inteiro com os engarrafamentos causados por tantas manifestações populares, que no fundo são todas iguais: musica alta e gente se embriagando pelas ruas, jogando latinhas para todos os lados, empesteando tudo com cheiro de urina, quebrando até o chão e no fim sempre terminam em violência, brigas e mais brigas.

Os preços estão cada vez mais irreais e com isso os valores distorcidos. Disso posso falar de boca cheia, pois, nunca alimentei essa fábrica de extorquir dinheiro que é o Carnaval da Bahia e seus ensaios, todos que fui durante minha vida foram de graça. O pior é que vejo como um ciclo vicioso. Os jovens que não vão para essas festinhas se sentem por fora e o mais triste são os adultos que frequentam desde a adolescência e ainda fazem questão de ir à todas como se fosse tudo novidade. É muita falta de criatividade você curtir aos 30 anos a mesma festa que curtia aos 15 e isso aqui é absolutamente comum.

Sorte de quem só vem à Bahia curtir as festas de férias e depois vai embora. Só vivem o lado bom e depois deixam o problema com os baianos. O pior é o soteropolitano acreditar que esse ritmo farrista é uma qualidade, pois ele próprio alimenta essa bola de neve que para o turista é realmente uma maravilha, quando retornam para suas cidades encontram lugares organizados que permitem uma rotina normal de trabalho e vida, deixando o caos que é essa terra para trás.

Aqui, se você é empresário, tem seus empregados trabalhando e pensando na festa de largo que está tendo e refletindo diretamente no rendimento (isso quando não faltam ao trabalho ou quando a empresa é obrigada a fechar por estar localizada próxima a algum lugar que fica intransitável por causa das festas de rua). Além disso, no mês de fevereiro, que já é mais curto, a produção corresponde a no máximo três semanas e os impostos e salários são pagos referentes a um mês. Para completar ainda há uma baixa de mercado, uma vez que o ano na Bahia só começa de fato após o Carnaval, já que até então a maioria da população está investindo seu dinheiro e tempo em festas e curtindo o verão. O Brasileiro trabalha cinco meses para pagar impostos e o baiano trabalha cinco meses para pagar impostos e não consegue trabalhar por três meses, ou seja, sobram apenas quatro meses de produtividade real no ano.

E quem mora próximo aos circuitos de Carnaval? Se não gostar da festa é obrigado a ter MUITO dinheiro (porque nessa época fica tudo absurdamente caro) para fugir da confusão, ou então ficará ilhado no meio de tudo. Estou falando dos moradores de pelo menos 10 bairros grandes da cidade. Nada contra a festa em si, mas acho um absurdo ela envolver a cidade inteira, comércio e residências, tirando o direito de ir e vir do cidadão por uma semana inteira. Tem gente que se estiver em casa no Carnaval e precisar de atendimento médico morre, por falta de acesso de ambulâncias ou possibilidade de sair de carro. É normal isso?

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