Um prato desses custa pelo menos uns R$60,00 num restaurante contemporâneo da moda. Usa cerca de 100g de arroz negro (R$20,00 o quilo) e o filé de peixe deve custar uns R$5,00. Qual o mistério?? Só a grife e o glamour de frequentar tais locais...
O nome
ortorexia pode soar familiar para muita gente, já outras pessoas talvez nunca
tenham ouvido falar. Trata-se de um novo problema psicológico, que abrange uma
gama de pessoas que se tornam neuróticas com saúde, a ponto de serem consideradas doentes. Convivendo com gente que preocupa com alimentação tenho
visto esse sintoma em inúmeras pessoas e é realmente preocupante.
Sem dúvidas devemos nos preocupar com o que comemos, mas como vivemos em sociedade, se
ficarmos neuróticos com o assunto simplesmente não poderemos mais sair de casa.
Nós comemos por saúde, mas também pelo prazer, pela diversão, para socializar,
para estar com a família, por rituais e motivos comemorativos, para expressar
uma identidade cultural... Reduzir a função alimentar à mera nutrição
fisiológica é ver a coisa de um ângulo muito estreito. Aí entra a diferença do
macro e do micro e por isso que gosto tanto ta macrobiótica, que é uma
filosofia que busca ter uma grande visão da vida.
Hoje em dia
os profissionais na área de saúde estão tão preocupados com o micro que acabam
esquecendo o macro. Esses ficam tentando extrair cada nutriente de cada
alimento para fazer suplementos, como o exemplo do pomegranate extraído da
romã, resveratrol extraído da uva, do colágeno hidrolisado, das vitaminas, do
betacaroneto presente na cenoura... Quem disse que devemos comer esses itens
isolados? Quem disse que essas parcelas separadas são mais efetivas do que o
alimento como o todo? Tanto a uva, quanto a romã ou a cenoura são repletas de
outros nutrientes que combinados em proporções únicas fazem deles alimentos
saudáveis.
Existe um
pouco de modismo nos conceitos nutricionais, onde um dia certos alimentos são
endeusados e no outro são completamente endiabrados. A proteína e o carboidrato
são exemplos de macro nutrientes que ao longo da história variaram entre vilãs
e bonzinhos. A gordura então nem se fala! Na década de 80, nos Estados Unidos,
começou a campanha do zero gordura. Com isso, as pessoas passaram a ingerir
cada vez mais carboidratos refinados e foi justamente quando se começou também
a epidemia obesa no país. Quem disse que gordura faz mal? A gordura está
presente em todo o corpo: 70% dos nossos neurônios são compostos por ela. Aí a
ciência vai avançando e os conceitos continuam mudando, um dia a gordura
saturada é vilã, depois a gordura trans, agora o ômega 3 é o que há para quem
busca uma dieta saudável.
O que vejo
é que o bom senso tem sido esquecido e as pessoas vêm seguindo modismos
alimentares e abandonando cada vez mais a intuição. Eu pessoalmente valorizo
muito a cultura e acho que nossos antepassados têm muito a nos ensinar. Que tal
valorizar o que era comum nos tempos em que não existiam tantas doenças
crônicas não transmissíveis? Uma boa idéia é procurar comer somente aquilo que nossas
bisavós reconheceriam como comida. Certamente a maioria dos produtos
encontrados nos supermercados sairá de sua dieta. Imaginem a sua bisavó em uma
cozinha cheia de pacotes, sem um fogão e apenas um microondas! Será que ela
passaria fome? Será que ela conseguiria descobrir que aquelas coisas eram para
ser ingeridas ou iria pensar que era algum produto de limpeza, decoração ou
qualquer coisa do gênero?
Outro
conceito abandonado é o de se comer em casa. Esses dias eu estava escutando uma
pessoa que está se mudando para uma cidade nova a trabalho e estava escolhendo
um local para morar. Encontrou um lugar excelente e tão perto de seu trabalho
que certamente poderia vir almoçar em casa todos os dias. Mas a sua esposa não
gostou, achou pouco glamorosa provavelmente e optou em morar num lugar mais
chique e super afastado, inviabilizando de todas as formas a presença de seu
marido para o almoço em casa. As futilidades estão roubando o lugar das
prioridades nas famílias. Hoje em dia ninguém mais se preocupa em comer em
casa, fazer refeições em família. As crianças não sabem sequer como se portar
à mesa, canso de ver em restaurantes crianças com as caras enfiadas em algum
ipad da vida, sem interagir e muito menos saber pegar num garfo direito. Hoje cerca
de 50% das refeições são feitas fora de casa e é comprovado que, em
restaurantes, a comida tende a conter muito mais açúcar, óleos de má qualidade
e sal. Isso sem falar no padrão familiar cada vez mais perdido, o que talvez explique
o número crescente de divórcios.
Cozinho
todos os dias e tenho percebido o quanto isso causa espanto para muitas
pessoas. Na minha cabeça, saber cozinhar sempre foi condição sine qua non para pensar em constituir
uma família. Como criar um filho sem saber preparar o alimento dele? Até mesmo
para ter uma cozinheira em casa, como orientá-la sem saber cozinhar? Hoje
grande parte de minhas amigas estão casadas e/ou morando sozinhas e posso dizer
com segurança que no máximo 5% delas sabem cozinhar mais do que comidas
pré-prontas de supermercados.
Por outro
lado cozinhar agora virou algo chique, gourmet. Vemos inúmeros programas de chefes
na televisão, um mais requintado do que outro. As pessoas pagam fortunas em
restaurantes chiques, que com essa moda de culinária contemporânea, são quase todos
iguais. O charme da culinária simples e regional vem se perdendo cada vez mais.
Hoje se come aspargos, alcaparras, camarões, lagostas e outros ingredientes
típicos de restaurantes gourmets em qualquer lugar do mundo, sem esquecer-se do
vinho que custa o triplo do que se fosse comprado em um supermercado. Tudo
lindo e requintado...! Depois dizem que não tem dinheiro para comprar arroz
integral ou produtos orgânicos em casa. Comer em restaurantes é caro, isso sim!
Cozinhar em casa, mesmo com os melhores ingredientes é baratíssimo comparado ao
valor que se paga nesses restaurantes gourmets que as pessoas tanto frequentam.
Na minha
cozinha, gosto de variar ingredientes, usar especiarias aqui e ali, mas ninguém
vive de comer comidas super elaboradas. As pessoas às vezes sabem preparar algo
incrementado ou sobremesas, mas não sabem fazer receitas simples usando
verduras, arroz e feijão. É tão elementar que às vezes soa engraçada a
admiração de pessoas ao me verem cozinhar comidas super caseiras ou descobrirem
o sabor de legumes preparados da forma mais simples possível, pois o máximo que
conheciam eram aquelas verduras servidas em restaurantes japoneses regadas de
manteiga e molho teriaki.
Vou parando
por aqui, pois esse assunto dá muito pano para manga... Continuo em outro post!
Cami,
ResponderExcluiressa questão do gourmet virar chique faz parte de uma tendência de consumo e comportamento humano observado no mundo todo. Todo querem estar saudáveis.
Com isso vemos produtos e serviços como os pharmafoods, as boutiques de gastronomia, os alimentos orgânicos em alta. Essa tendência mudou o status da comida, ela já não é só alimento, é catalizador de bem estar.
Não sei se te falei, fiz um curso de tendências de comportamento e consumo, é ferramenta de marketing. Enfim, isso dá muito papo! Termino com a seguinte citação: “um sintoma do hiperconsumismo é que queremos comprar nossa saúde” Lipovetsky (sociólogo francês). FOOD FOR THOUGHT. bjos!
Bote papo nisso!!!
ResponderExcluirIsso para mim está mais que claro, a moda gastronômica é um grande filão do mercado consumidor e tem um apelo de marketing muito forte, principalmente porque lida com um dos prazeres mais comuns entre as pessoas, o gustativo.
Por um lado, adoro essa moda, pois acho melhor que as pessoas dediquem seu tempo e dinheiro buscando uma melhor qualidade de vida do que com outras coisas... O problema é quando começa e envolver muito status e grifes. O valor agregado é altíssimo!! Para mim em alguns casos é a mesma diferença entre comprar uma calça numa confecção local ou na Diesel. Tem muita gente em Salvador que frequenta o SOHO só para ver e ser visto, que se quer gosta de comida japonesa... Adoro o lugar, acho a comida deliciosa, super agradável, mas faço questão de ir somente quando está bem vazio e mesmo assim não deixo de achar caro, apesar de me proporcionar esse luxo também. Acho que também pagamos pelo atendimento, local e faz parte. Nada de errado no lucro, o preço está lá, paga quem quer. O problema é quando isso vira necessidade. As pessoas que não querem frequentar lugares simples são as mesmas que vestem grifes dos pés a cabeça, entende??
Como sempre, gosto da linha do meio... Uso grifes, frequento bons lugares, mas tudo com limite e coerência, sem exageros.
Quanto à moda dos healthy food stores que está bem mais clara nos EUA do que no Brasil, eu adoro! Acho que só a pressão de mercado aumento de oferta, para fazer os preços baixarem. Minha preocupação é só com a picaretagem, gente que surfa na onda da moda, porque viu que dá dinheiro, mas não está de fato comprometido com a saúde. Não é a toa que todas as grandes marcas de produtos industrilizados tem uma linha saudável agora. Ou fazem isso ou ficam para trás. Resta saber o grau de comprometimento com a produção desses alimentos... Para mim é duvidosa. Tenho medo de confiar num produto dito saudável produzido pela Coca Cola, por exemplo... Por aí vai!!!
Beijos!!!
Sem falar na salada, que o McDonald's inventou de colocar agora. Põe a foto de um hamburguer, de uma coca e de uma salada do lado. Chega a ser ridículo! Já ouvi comentários, vindos de fontes duvidosas, que a salada de lá é uma delícia. Nem preciso dizer quem falou, né? Hahaha.
ResponderExcluirHahahahah!!!! Vamos sair para tomar uma Mc. Água e uma Mc. Salada??? Acho que é o lugar ideal para fazer um lanche saudável!!! As verduras nem devem ser transgênicas e cheias de agrotóxicos...!
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