quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Alimentação e Moda

Um prato desses custa pelo menos uns R$60,00 num restaurante contemporâneo da moda. Usa cerca de 100g de arroz negro (R$20,00 o quilo) e o filé de peixe deve custar uns R$5,00. Qual o mistério?? Só a grife e o glamour de frequentar tais locais...

O nome ortorexia pode soar familiar para muita gente, já outras pessoas talvez nunca tenham ouvido falar. Trata-se de um novo problema psicológico, que abrange uma gama de pessoas que se tornam neuróticas com saúde, a ponto de serem consideradas doentes. Convivendo com gente que preocupa com alimentação tenho visto esse sintoma em inúmeras pessoas e é realmente preocupante.

Sem dúvidas devemos nos preocupar com o que comemos, mas como vivemos em sociedade, se ficarmos neuróticos com o assunto simplesmente não poderemos mais sair de casa. Nós comemos por saúde, mas também pelo prazer, pela diversão, para socializar, para estar com a família, por rituais e motivos comemorativos, para expressar uma identidade cultural... Reduzir a função alimentar à mera nutrição fisiológica é ver a coisa de um ângulo muito estreito. Aí entra a diferença do macro e do micro e por isso que gosto tanto ta macrobiótica, que é uma filosofia que busca ter uma grande visão da vida.

Hoje em dia os profissionais na área de saúde estão tão preocupados com o micro que acabam esquecendo o macro. Esses ficam tentando extrair cada nutriente de cada alimento para fazer suplementos, como o exemplo do pomegranate extraído da romã, resveratrol extraído da uva, do colágeno hidrolisado, das vitaminas, do betacaroneto presente na cenoura... Quem disse que devemos comer esses itens isolados? Quem disse que essas parcelas separadas são mais efetivas do que o alimento como o todo? Tanto a uva, quanto a romã ou a cenoura são repletas de outros nutrientes que combinados em proporções únicas fazem deles alimentos saudáveis.

Existe um pouco de modismo nos conceitos nutricionais, onde um dia certos alimentos são endeusados e no outro são completamente endiabrados. A proteína e o carboidrato são exemplos de macro nutrientes que ao longo da história variaram entre vilãs e bonzinhos. A gordura então nem se fala! Na década de 80, nos Estados Unidos, começou a campanha do zero gordura. Com isso, as pessoas passaram a ingerir cada vez mais carboidratos refinados e foi justamente quando se começou também a epidemia obesa no país. Quem disse que gordura faz mal? A gordura está presente em todo o corpo: 70% dos nossos neurônios são compostos por ela. Aí a ciência vai avançando e os conceitos continuam mudando, um dia a gordura saturada é vilã, depois a gordura trans, agora o ômega 3 é o que há para quem busca uma dieta saudável.

O que vejo é que o bom senso tem sido esquecido e as pessoas vêm seguindo modismos alimentares e abandonando cada vez mais a intuição. Eu pessoalmente valorizo muito a cultura e acho que nossos antepassados têm muito a nos ensinar. Que tal valorizar o que era comum nos tempos em que não existiam tantas doenças crônicas não transmissíveis? Uma boa idéia é procurar comer somente aquilo que nossas bisavós reconheceriam como comida. Certamente a maioria dos produtos encontrados nos supermercados sairá de sua dieta. Imaginem a sua bisavó em uma cozinha cheia de pacotes, sem um fogão e apenas um microondas! Será que ela passaria fome? Será que ela conseguiria descobrir que aquelas coisas eram para ser ingeridas ou iria pensar que era algum produto de limpeza, decoração ou qualquer coisa do gênero?

Outro conceito abandonado é o de se comer em casa. Esses dias eu estava escutando uma pessoa que está se mudando para uma cidade nova a trabalho e estava escolhendo um local para morar. Encontrou um lugar excelente e tão perto de seu trabalho que certamente poderia vir almoçar em casa todos os dias. Mas a sua esposa não gostou, achou pouco glamorosa provavelmente e optou em morar num lugar mais chique e super afastado, inviabilizando de todas as formas a presença de seu marido para o almoço em casa. As futilidades estão roubando o lugar das prioridades nas famílias. Hoje em dia ninguém mais se preocupa em comer em casa, fazer refeições em família. As crianças não sabem sequer como se portar à mesa, canso de ver em restaurantes crianças com as caras enfiadas em algum ipad da vida, sem interagir e muito menos saber pegar num garfo direito. Hoje cerca de 50% das refeições são feitas fora de casa e é comprovado que, em restaurantes, a comida tende a conter muito mais açúcar, óleos de má qualidade e sal. Isso sem falar no padrão familiar cada vez mais perdido, o que talvez explique o número crescente de divórcios.

Cozinho todos os dias e tenho percebido o quanto isso causa espanto para muitas pessoas. Na minha cabeça, saber cozinhar sempre foi condição sine qua non para pensar em constituir uma família. Como criar um filho sem saber preparar o alimento dele? Até mesmo para ter uma cozinheira em casa, como orientá-la sem saber cozinhar? Hoje grande parte de minhas amigas estão casadas e/ou morando sozinhas e posso dizer com segurança que no máximo 5% delas sabem cozinhar mais do que comidas pré-prontas de supermercados.

Por outro lado cozinhar agora virou algo chique, gourmet. Vemos inúmeros programas de chefes na televisão, um mais requintado do que outro. As pessoas pagam fortunas em restaurantes chiques, que com essa moda de culinária contemporânea, são quase todos iguais. O charme da culinária simples e regional vem se perdendo cada vez mais. Hoje se come aspargos, alcaparras, camarões, lagostas e outros ingredientes típicos de restaurantes gourmets em qualquer lugar do mundo, sem esquecer-se do vinho que custa o triplo do que se fosse comprado em um supermercado. Tudo lindo e requintado...! Depois dizem que não tem dinheiro para comprar arroz integral ou produtos orgânicos em casa. Comer em restaurantes é caro, isso sim! Cozinhar em casa, mesmo com os melhores ingredientes é baratíssimo comparado ao valor que se paga nesses restaurantes gourmets que as pessoas tanto frequentam.

Na minha cozinha, gosto de variar ingredientes, usar especiarias aqui e ali, mas ninguém vive de comer comidas super elaboradas. As pessoas às vezes sabem preparar algo incrementado ou sobremesas, mas não sabem fazer receitas simples usando verduras, arroz e feijão. É tão elementar que às vezes soa engraçada a admiração de pessoas ao me verem cozinhar comidas super caseiras ou descobrirem o sabor de legumes preparados da forma mais simples possível, pois o máximo que conheciam eram aquelas verduras servidas em restaurantes japoneses regadas de manteiga e molho teriaki.

Vou parando por aqui, pois esse assunto dá muito pano para manga... Continuo em outro post! 

4 comentários:

  1. Cami,
    essa questão do gourmet virar chique faz parte de uma tendência de consumo e comportamento humano observado no mundo todo. Todo querem estar saudáveis.
    Com isso vemos produtos e serviços como os pharmafoods, as boutiques de gastronomia, os alimentos orgânicos em alta. Essa tendência mudou o status da comida, ela já não é só alimento, é catalizador de bem estar.
    Não sei se te falei, fiz um curso de tendências de comportamento e consumo, é ferramenta de marketing. Enfim, isso dá muito papo! Termino com a seguinte citação: “um sintoma do hiperconsumismo é que queremos comprar nossa saúde” Lipovetsky (sociólogo francês). FOOD FOR THOUGHT. bjos!

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  2. Bote papo nisso!!!

    Isso para mim está mais que claro, a moda gastronômica é um grande filão do mercado consumidor e tem um apelo de marketing muito forte, principalmente porque lida com um dos prazeres mais comuns entre as pessoas, o gustativo.

    Por um lado, adoro essa moda, pois acho melhor que as pessoas dediquem seu tempo e dinheiro buscando uma melhor qualidade de vida do que com outras coisas... O problema é quando começa e envolver muito status e grifes. O valor agregado é altíssimo!! Para mim em alguns casos é a mesma diferença entre comprar uma calça numa confecção local ou na Diesel. Tem muita gente em Salvador que frequenta o SOHO só para ver e ser visto, que se quer gosta de comida japonesa... Adoro o lugar, acho a comida deliciosa, super agradável, mas faço questão de ir somente quando está bem vazio e mesmo assim não deixo de achar caro, apesar de me proporcionar esse luxo também. Acho que também pagamos pelo atendimento, local e faz parte. Nada de errado no lucro, o preço está lá, paga quem quer. O problema é quando isso vira necessidade. As pessoas que não querem frequentar lugares simples são as mesmas que vestem grifes dos pés a cabeça, entende??

    Como sempre, gosto da linha do meio... Uso grifes, frequento bons lugares, mas tudo com limite e coerência, sem exageros.

    Quanto à moda dos healthy food stores que está bem mais clara nos EUA do que no Brasil, eu adoro! Acho que só a pressão de mercado aumento de oferta, para fazer os preços baixarem. Minha preocupação é só com a picaretagem, gente que surfa na onda da moda, porque viu que dá dinheiro, mas não está de fato comprometido com a saúde. Não é a toa que todas as grandes marcas de produtos industrilizados tem uma linha saudável agora. Ou fazem isso ou ficam para trás. Resta saber o grau de comprometimento com a produção desses alimentos... Para mim é duvidosa. Tenho medo de confiar num produto dito saudável produzido pela Coca Cola, por exemplo... Por aí vai!!!

    Beijos!!!

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  3. Sem falar na salada, que o McDonald's inventou de colocar agora. Põe a foto de um hamburguer, de uma coca e de uma salada do lado. Chega a ser ridículo! Já ouvi comentários, vindos de fontes duvidosas, que a salada de lá é uma delícia. Nem preciso dizer quem falou, né? Hahaha.

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  4. Hahahahah!!!! Vamos sair para tomar uma Mc. Água e uma Mc. Salada??? Acho que é o lugar ideal para fazer um lanche saudável!!! As verduras nem devem ser transgênicas e cheias de agrotóxicos...!

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