Meu
primeiro contato com a solidão foi quando fiz intercâmbio na Espanha. Saí de um
lugar onde era cheia de amigos e família para um lugar onde todas as pessoas
eram absolutamente novas. No inicio, tive grande empatia por uma pessoa que
hoje se tornou uma grande amiga, mas que retornou após cinco meses e eu
permaneci por lá. Ela era minha companheirona para mínimas coisas e
principalmente conversas.
Meu
primeiro baque foi na faculdade, eu louca treinar o espanhol, conhecer mais os
costumes das pessoas e não encontrava ninguém disposto a conversar. Puxava papo
com meus colegas, perguntava coisas, eles respondiam secamente e viravam as
costas para conversar com outra pessoa ou retornavam ao que estavam fazendo.
Não me lembro de ter feito nenhuma amizade no primeiro semestre de aulas.
Já no
segundo, peguei matérias com uma brasileira que estava bem enturmada e a vida
social na faculdade melhorou um pouco, entretanto, sempre em torno do álcool,
aquela coisa superficial de mesa de bar e festas, mesmo assim um avanço. Fiz
uma boa amiga chilena, outra cubana, outra romena, outra sérvia, um espanhol e
estreitei laços com uma brasileira que conhecia da infância. A galera brasileira
também era ótima, mas não “grudei” em ninguém e na maior parte do tempo estava
sozinha.
Andava
muito pela cidade sozinha: pelo parque, pelo shopping, pela praia... Observava
o comportamento das pessoas e falava muito pouco espanhol. Acho que neste ano o
idioma que mais pratiquei foi o silencio. Também nunca assisti tantos filmes, diversas
vezes preferia ver filmes sozinha em meu quarto a sair para beber e falar de
coisas superficiais. Nessas horas era frequentemente tachada de antissocial e
pela primeira vez na vida passei essa imagem, pois até então só me reconhecia
como o oposto disso.
A distância
reforça laços de amizades verdadeiras e faz diminuir outras não tão
consistentes. No retorno ao Brasil, passei seis meses saindo freneticamente,
tirando o atraso e reencontrando pessoas. Depois diminui o ritmo e passei a
conciliar a vida social com o novo gosto pela solidão. Não posso negar,
entretanto, que a solidão como opção é muito mais gostosa do que quando ocorre
por falta de opção. É bom demais saber que tem por perto todos os tipos de
companhias: para correr, para fofocar, para ir ao shopping, para pedalar, para
filosofar, para momentos nostálgicos e assim por diante.
Hoje, longe
de Salvador, porém no Brasil e com amigos espalhados por todas as partes do
mundo, vejo que a tendência é essa: as pessoas seguirem com suas vidas e se
encontrarem cada vez menos. O que fica são os laços verdadeiros que criamos e
com a internet e distância deixou de ser uma barreira, então, mesmo longe sinto
meus amigos bem perto. Não tenho idioma para aprender e nem intenção de mudar o
sotaque, logo, sigo feliz com as minhas músicas, filmes, livros, estudos e
passeios...
Beata Solitudo, Sola Beatitudo...
ResponderExcluirCom o tempo se acaba aprendendo a conviver com a solidão... Fiz intercâmbio em casa de família, por isso a única vez que me vi só de fato foi quando vim fazer o mestrado. Lá em casa era "A Grande Família" e sair desse oposto para aqui foi muito difícil. As vezes, tenho vontade de comentar algo, olhe ao meu redor e estou só. Tenho que fazer comida em pouca quantidade só pra mim. Agora não incomoda mais tanto como no início, mas confesso que ainda prefiro o auê que era minha casa (mesmo que enquanto estava lá reclamasse do barulho).
ResponderExcluirQuem diria, hein Lary?? Você que vivia as turras com Leo!! Está na mesma situação que eu, Cai está para você, assim como Teté esteve para mim lá na Espanha, mas ninguém fica 24 horas com a gente, então a solidão predomina, não tem jeito.
ExcluirO cozinhar só para você, nem me fale!! Nunca acertava a dose e acaba comendo demais, porque não era o suficiente para 2 refeições, mas era demais para uma. Para não guardar restos na geladeira e nem jogar fora, acabava comendo demais... O resultado foi um bonus de 10kgs.
É uma fase preciosa, acredite! A solidão lhe dá mais oportunidade de foco para o estudo, estou vivendo isso agora e é um privilégio!! A grande família, perto ou longe, está sempre ao nosso lado, então o que tenho a lhe dizer é: APROVEITE, pois quando acabar sentir ENORMES saudades!! E quando precisar de qualquer coisa, lembre-se que estou longe, mas estou perto!! Te adoro!!
Beijão
Depois de três anos, sua experiência serviu de consolo para mim. Obrigada por compartilhar !
ResponderExcluirQue bom Lidiane! Grata por comentar, fez com que relesse esse texto e voltasse no túnel do tempo, reafirmando cada palavra....
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