terça-feira, 7 de agosto de 2012

Macrobiótica: Entrevista com Paula Savino


Já respondi incontáveis vezes o que é a Filosofia Macrobótica, hoje resolvi pegar emprestadas as palavras de uma amiga, com uma rica trajetória para falar um pouco mais do assunto. Espero que gostem!



PAULA SAVINO-ENTREVISTA DADA A REVISTA SABORES DO INTERIOR

1-Nome e breve currículo:
Paula Savino
Sócia da empresa Ecobras que produz alimentos organicos derivados de soja sediada no Rio de Janeiro.
Estudou nos anos 80 no Kushi Institute em Boston e no Vega Institute na Califórnia- ambos centros de macrobiótica nos EUA.
Foi sócia fundadora junto com seu marido Paulo Savino do Restaurante macrobiótico carioca Metamorfose.
Trabalhou no lendário restaurante macrobiótico carioca o Caminho da Roça.
Realizou por 12 anos programas de reeducação alimentar junto com seu marido Paulo Savino no centro Samadhi localizado em Nova Friburgo-RJ
Participou e participa de inúmeros eventos relacionados a alimentos organicos como a Biobrazil,a Biofach e a Rio + 20.

2-O que é a culinária macrobiótica? O que faz dela especial?
É importante compreender que a macrobiótica não é somente uma dieta no sentido moderno do termo e sim um modo de vida em compasso com todas as dimensões da vida, uma filosofia que oferece um princípio unificador para que possamos entender a Ordem do Universo como um todo, tendo como guia o senso comum dietético das civilizações e dos princípios de tratamento naturais fundamentados nos princípios da Bíblia, do I Ching, do Tao Te Ching, do Bhagavad Gita, do Alcorão e de muitas outras escrituras e épicos.
Através dos séculos movimentos culturais vieram à tona na Ásia para ressaltar os benefícios dos meios tradicionais de alimentação e para alertar sobre os malefícios causados por um estilo de vida artificial cada vez mais crescente no mundo.
A dieta sugerida pela macrobiótica é baseada no consumo de alimentos integrais, não industrializados e não processados quimicamente, portanto orgânicos, plantados localmente e consumidos dentro da sua própria estação de crescimento e colheita.
A Macrobiótica leva em consideração as diferenças individuais constitucionais e condicionais dos indivíduos, o local geográfico onde vivemos e a atividade física e mental de cada um como elementos que determinam as nossas necessidades nutricionais. Estes fatores são considerados melhores guias a serem seguidos do que tabelas gerais de nutrição e calorias.
A Macrobiótica aponta os efeitos prejudiciais dos métodos modernos de processamento e refino dos alimentos que comprometem a qualidade dos alimentos desvitalizando-os e que ao longo do tempo possam causar danos a nossa saúde física, mental e espiritual.
As proporções gerais são baseadas em padrões tradicionais que protegeram os nossos antepassados de diversas doenças degenerativas a que estamos sujeitos hoje em dia.
O consumo de cereais integrais, leguminosas e seus derivados, algas marinhas, vegetais, sementes, nozes e frutas da estação usados como alimento principal e o uso ocasional, quando necessário, de alimentos de origem animal, complementam a estrutura e a função do sistema digestivo humano.
A culinária macrobiótica é baseada no alcance e manutenção de um equilíbrio com o nosso ambiente natural. De acordo com o princípio macrobiótico devemos nos alimentar de acordo com a tradição humana.

3- Quando e onde surgiu a culinária macrobiótica?
A palavra Macrobiótica foi encontrada primordialmente nos escritos de Hipócrates, o pai da medicina ocidental. Hipócrates introduziu a palavra Macrobiótica para descrever as pessoas que eram saudáveis e longevas. Traduzida do grego MACRO que significa GRANDE e BIO que significa VIDA, e ÓTICA que significa VISÃO: MACROBIÓTICA, portanto significa GRANDE VISÃO DA VIDA.
Este termo também foi encontrado em outros escritos de outros filósofos clássicos para descrever um estilo de vida que incluía uma dieta simples e frugal que promovia saúde e longevidade.
No século XVIII o médico e filósofo alemão Christophe W. Hufeland ressurgiu com o termo Macrobiótico no seu livro sobre dieta intitulado Macrobiótica ou A Arte de Prolongar a Vida.
A Macrobiótica é um estilo de vida que tem sido praticado por milhares de anos nas sociedades tradicionais e por muitas pessoas em todo o mundo. Ela deriva de uma compreensão dinâmica e intuitiva da Ordem da Natureza e se concentra em oferecer um estilo de vida que desfaça a grande lacuna existente entre os seres humanos e o mundo natural. A teoria Macrobiótica sugere que as doenças e a infelicidade são meios naturais para nos estimular a adotar um meio de vida em harmonia com o nosso ambiente do qual dependemos e do qual somos apenas uma parte.
No final do século XIX e no princípio do século XX as experiências macrobióticas tiveram uma revitalização vinda do Japão. Dois educadores japoneses Sagen Ishitsuka (MD) e Yukikazu Sakurazawa curaram a si próprios de diversas doenças degenerativas como a tuberculose adotando uma dieta simples baseada no consumo de grãos integrais, sopa de misso, algas marinhas e outros alimentos tradicionais. Estes educadores passaram vários anos estudando e integrando a tradicional medicina e filosofia oriental como o Vedanta e os princípios judaico-cristãos para criar perspectivas holísticas na ciência e medicina modernas.
Em 1920 Sakurazawa foi para Paris e mais tarde adotou o nome de George Oshawa e aplicou o termo Macrobiótica aos seus ensinamentos.
Do tempo de sua doença até a sua morte, Oshawa devotou sua vida para definir e transmitir a Macrobiótica à vida moderna. Visitou mais de trinta países e deu mais de 7000 palestras e publicou mais de 300 livros.
Oshawa teve muitos discípulos que se espalharam pelo mundo para disseminar a Macrobiótica entre eles os professores Michio e Aveline Kushi, Herman e Cornelia Aihara, Naboru Muramoto radicados nos EUA e ainda Tomio e Bernadette Kikuchi lideres macrobióticos do Brasil que comandam a Escola Musso e o Restaurante Satori em  São Paulo.

4-Quais as vantagens da comida macrobiótica para quem a escolhe como estilo de vida?
Quando optamos por alimentos e produtos que dão apoio a nossa saúde, também estamos dando apoio à saúde dos outros, pois os produtos naturais e organicos não produzem materiais tóxicos que são prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Assim nosso corpo se torna mais saudável, nossas emoções e padrões mentais se tornam mais positivos afetando também os outros à nossa volta. Com criatividade e espírito de aventura podemos criar uma variedade de pratos adicionando valores nutricionais de alta qualidade e sabor rico e dinâmico a nossa alimentação.

5- A cozinha macrobiótica pode estar ligada à alta gastronomia?
Com certeza. Alimentos simples, naturais e de preferência integrais quando devidamente preparados e esteticamente servidos são muito atraentes aos olhos e ao paladar. E através dos princípios do yin e yang nos capacitamos ao refinamento da nossa intuição que pode transformar uma culinária simples numa culinária requintada uma vez que possamos refinar nossas técnicas culinárias sem perder a aplicação destes princípios. A comida gourmet saudável deve ser mais do que meramente um combustível que colocamos em nossos corpos para fazê-los funcionar de forma eficiente, o alimento que nós comemos alimenta a mente e o espírito também. Para alcançar um estado de boa saúde o alimento deve ser sempre delicioso e agradável aos sentidos e também tranquilizar alma.

6- Dê um exemplo de prato que seja carro-chefe deste estilo de gastronomia.
O carro chef da alimentação macrobiótica são os cereais em especial o arroz integral, seguido da sopa de missô e de complementos vegetais e ocasionalmente de algum tipo de produto de origem animal.
Em linhas gerais a dieta Macrobiótica consiste em:
Alimentos principais:
50 a 60% de cereais integrais (Obs. de Camila: Essa proporção é em relação ao peso, como o arroz pesa mais que os vegetais, não significa que precisa ocupar metade do prato... Essa é uma interpretação que costuma gerar muitas dúvidas em quem resolve seguir esse padrão alimentar...)
5 a 10% de sopas
5 a 10 % de leguminosas e seus derivados
5 a 10 % de algas marinhas
20 a 30 % de vegetais variados e/ou crus
Alimentos suplementares: 5 a 10% do total incluindo nozes, sementes, frutas, adoçantes naturais, água, chás e sucos e bebidas naturais e o uso ocasional (quando necessário) de proteína animal.
Estes percentuais variam sempre de acordo com o local geográfico, o clima, as estações do ano e a constituição e condição física de cada indivíduo.

7- A comida macrobiótica já foi mais popular? Por quê? O que aconteceu para perder a popularidade?
Não acho que a macrobiótica perdeu a popularidade. O que perdeu a popularidade foi a “dieta macrobiótica” como ela foi inicialmente disseminada.
Na minha opinião muitos dos primeiros praticantes da macrobiótica se basearam numa compreensão meramente intelectual da macrobiótica que redundou numa pratica dietética rígida contrária aos princípios da macrobiótica. Penso que mais importante do que seguir padrões de comportamento ou dietas específicas devemos nos abrir a  vida e  assumirmos a responsabilidade da direção de nossas próprias vidas.

8- Em Portugal a alimentação macrobiótica é muito forte. Existe uma explicação pra isso?
Particularmente não conheço o movimento macrobiótico em Portugal apesar de conhecer algumas pessoas que lideram alguns centros em Portugal, penso que depende da ação destes indivíduos que estão a frente deste movimento e também o fato de que na Europa quase todos os recursos naturais estão bem mais escassos do que no Brasil o que faz com que as pessoas se tornem conscientes mais rapidamente da urgência de uma mudança.

9-Existem pessoas famosas que utilizam alimentação macrobiótica, como a Madonna. Isso ajuda na divulgação?
Com certeza muitas pessoas ainda se espelham em seus ídolos como referencias de transformação, mas a força natural de mudança da natureza está nos forçando a rever totalmente a base de nossas existências. Toda a nova versão da realidade, ricamente detalhada ainda que simples, está começando a se manifestar e a tomar forma trazendo novos questionamentos e novas buscas existenciais.
Mas de qualquer forma quando uma pessoa famosa divide com o seu público estes questionamentos e mudanças ela pode funcionar como um catalisador de ideias que pode eventualmente contribuir para esta divulgação e para uma abertura de consciência.

3 comentários:

  1. André Moreira - Portugal7 de agosto de 2012 às 10:42

    Muitos parabéns pela entrevista. Bem conseguida em todos os aspectos! Concisa e esclarecedora. Obrigado pelo vosso conjunto trabalho

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    1. Oi André!!!

      Grata pela visita... Sinta-se a vontade para contribuir também!! Este espaço é nosso!!

      Bjs!

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  2. Camila, acbei de ler a entrevista da Revista Sabores do Interior com Paula Savino que você cita. Gostei muito!!

    Continue compartilhando informações.

    Sds...bjs =))

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