sábado, 8 de março de 2014

Por que é irracional pregar que TODOS devem ter acesso à alimentos orgânicos?

Imagem retirada do Google Imagens

Uma leitora acabou de fazer uma pergunta no comentário do post: Qual a diferença entre uma comprar uma Ferrari e um alimento orgânico. Minha resposta foi tão grande que resolvi compartilhar na forma de post e ainda acrescentei muito mais à resposta por aqui...  

Pergunta: "Concordo com tudo Camila! Muito legal a reflexão do que seria o 'fútil'. Sobre os orgânicos, não considera que eles sejam significativamente melhores para a saúde do que os produtos com agrotóxico?" A.F. 

Resposta: Considero os orgânicos INFINITAMENTE MELHORES (tanto que comparo-os com uma Ferrari) do que alimentos produzidos em larga escala, que precisam de conservantes e agrotóxicos, para aumentar a durabilidade e possibilitar comercialização em grande quantidade e preços baixos. Esse mecanismo foi criado para atender ao crescimento demográfico mundial, garantindo que a população não morresse de fome (revolução verde). Certamente, ingerir alimentos com agrotóxicos é uma opção melhor do que morrer de fome e seria isso que aconteceria caso não tivesse sido descoberta uma maneira de fazer com que os alimentos não estragassem antes de chegarem à casa dos seus consumidores finais. Apesar disso, ainda há GRANDE desperdício (já viu a quantidade de comida que é descartada diariamente por um supermercado?). 

Como disse no texto publicado esta semana, o ótimo é inimigo do bom e se entrarmos na paranoia de que só devemos comer orgânicos corremos o risco de limitar nossa dieta ao consumo de três tipos de vegetais, já que grande parte é muito difícil de ser encontrado na forma orgânica ou então é caro demais. A ortorexia está se tornando cada vez mais frequente e isso é preocupante, pois acaba fazendo com que as pessoas tenham dietas muito restritas, quando a variedade é um fator essencial numa alimentação saudável. Apesar dos agrotóxicos, as hortaliças contêm diversos nutrientes importantíssimos e quanto maior a variedade, melhor. 

O que aconselho é sempre buscarmos aliviarmos nossa função hepática para que seja possível metabolizar e excretar toxinas com mais facilidade. Uma pessoa que se enche de açúcar, bebidas alcoólicas e toma remédio para tudo, acaba sobrecarregando o seu fígado e assim o efeito dos agrotóxicos torna-se ainda mais nocivo. Então, acreditar que comer orgânicos vai fazer milagre enquanto comete-se todo tipo de excesso é uma ilusão perigosa... Por outro lado, uma pessoa que, por ter uma alimentação mais saudável, acaba ficando doente com menor frequência, pode reinvestir o dinheiro que deixa de gastar com medicamentos, consultas médias e bebidas alcoólicas (muitas são super caras) em alimentos de melhor qualidade: integrais e orgânicos... 

Outro ponto que deve ser levado em consideração é a prioridades das pessoas. Conheço muita gente que não paga cinco reais em um pacote de cenouras orgânicas (que rendem diversos preparos em muitas refeições), mas que paga o mesmo valor em uma lata de cerveja numa festa e para completar, raramente toma apenas uma cerveja. Conheço outra quantidade enorme de pessoas que vestem roupas de grife e cozinham em panelas de alumínio. Já falei tanto da importância de investir em boas panelas para essas pessoas e quando vejo que simplesmente não trocam suas panelas para mim fica claro que nossas prioridades de vida são completamente distintas. O que faço? Me calo. Essas pessoas são capazes de gastar 300 reais em uma calça jeans (que dificilmente durará mais de dois anos), mas não gastam o mesmo em um conjunto de panelas de qualidade, que podem durar mais de vinte anos. Pior, têm uma cozinha com bancadas e armários impecáveis, que custaram pelo menos 15 mil reais e não são capazes de gastar 2% deste valor, num bom conjunto de panelas. Como diz o ditado: "Por fora bela viola, por dentro mofo bolorento...", mas esta é apenas uma opinião pessoal. Certamente algumas dessas pessoas podem achar que sou meio "hiponga" e nem por isso deixamos de compartilhar outras afinidades, pois as pessoas não conseguem ser iguais em tudo. Moral da história: devemos respeitar as prioridades de outras pessoas e entender que aquilo que consideramos importante para nós, nem sempre é importante para o próximo. Por isso defendo tanto a democracia e abomino a ideia do Estado definindo o que é ou não prioritário numa sociedade. A escolha por roupas de grife, orgânicos, carros de luxo, ou qualquer produto é algo absolutamente individual. Se uma estilista fosse presidente de um país socialista talvez ela escolhesse como prioridade distribuir um óculos Ray Ban para todo cidadão (acreditando que estava dando algo essencial para todos), mas para conseguir fazer isso poderia fazer um corte brusco na verba para alimentos, oferecendo transgênicos e enlatados para todos, por acreditar que possuem maior durabilidade. Seu ponto de vista pode fazer sentido para ela, mas nem por isso constitui uma verdade universal. É isso que fazem as ditaduras, determinam as SUAS prioridades e assumem como se essas fossem iguais para toda a população, quando NUNCA são. 

Voltando aos orgânicos, o que não podemos negar é o fato de serem "artigos de luxo" por serem, às vezes, até 500% mais caros e não temos como fugir desta realidade, caso contrário não haveria comida suficiente para alimentar todo o planeta. Os alimentos orgânicos são mais caros justamente por terem que ser produzidos em menor escala, necessitarem de logística de comercialização mais caras e complexas (transportes refrigerados, por exemplo), terem menor durabilidade e consequentemente maior desperdício e tudo isso precisa ser incluído no valor do produto, caso contrário o produtor fica no prejuízo. É irracional defender que toda a agricultura do mundo passe a ser 100% orgânica - um desafio à aritmética. Entretanto, é isso que tenho visto, muita gente condenando o capitalismo, como culpado do fato dos orgânicos não serem acessíveis à toda a população e julgando os seus produtores como avarentos. Há uma completa inversão de valores e falta de sensibilidade em avaliar os fatos em quem prega coisas do gênero. O sistema capitalista possibilita justamente que se possa escolher o que se consome, de acordo com diferentes possibilidades aquisitivas e prioridades. Em ditaduras não existe poder de escolha pro cidadão, o alimento e tudo mais é definido pelo Estado, desprezando as prioridades e gostos de cada um. Além disso, a escolha costuma ser por baixo: ou você acha que em Cuba o governo distribui papel higiênico extra macio para toda a população? Claro que não... Nessas situações predomina a lei de "um peso e duas medidas", onde aqueles que fazem parte do "clero", têm acesso à tudo do bom e do melhor e ainda têm a cara de pau em pregar a "igualdade".  

A forma mais lógica e racional de possibilitar o aumento do acesso aos orgânicos é através do sistema de livre mercado. Quanto maior a procura por um produto, maior será sua oferta. Com o aumento da oferta, consequentemente maior a concorrência e menores são os preços. Trocando em miúdos: se mais pessoas resolvem consumir orgânicos, mais produtores terão interesse em cultivá-los. Aqueles mercados na Bahia que no começo precisavam comprar produtos do sul do país (por não existirem aqueles produtos na região) poderão passar a comprar produtos diretamente da Bahia. Esses, por sua vez, serão mais baratos do que aqueles que vêm do sul, pois demandam uma logística bem menos complexa para chegar às prateleiras do supermercado. Se outros produtores percebem que é um negócio rentável, começam a focar nessa fatia do mercado, criando concorrência. Com concorrência há disputa de mercado e consequentemente redução dos preços. Simples assim.

Retornando à comparação com carros, imagine se todos os carros do mundo tivessem que ter a qualidade (e consequentemente preço) de uma Ferrari?? Eu você e 100% das pessoas que eu conheço não poderiam ter um carro (não conheço ninguém que tenha uma Ferrari ou um carro do mesmo nível). Devemos ser gratos à existência de produtos de todas as espécies, capazes de atender grandes demandas. Mais gratos ainda se temos o privilégio de poder escolher aquilo que adquirimos não somente pelo preço, mas também pela qualidade (normalmente não é só uma questão somente de gratidão, mas também de mérito). No caso dos alimentos, existem escalas que demonstram aqueles que têm menos ou mais agrotóxicos (na comparação com carros seria como diferenciar um carro popular, de um Corolla e uma Ferrari). O que precisamos ter em mente é que o fato de não ser perfeito, ou o melhor da categoria, não significa que seja descartável ou completamente ruim...

4 comentários:

  1. Oi , Camila, acho que estava um pouco na orterexia para fugir dos agrotóxicos, comendo batata e tomando suplementos vitamínicos, rs, aproveitei para ler também seus textos sobre estes suplementos . Muito bom lembrar que o alimento integral tem propriedades fundamentais. Legal também essa questão de como ajudar o metabolismo hepático. Será que todos os agrotóxicos são “detoxicáveis”? Tem algum controle das substâncias que podem ser usadas como agrotóxico? Compreendo que um mundo sem agrotóxicos é completamente inviável, mas acho que estas informações podem ajudar na escolha de cada um. Obrigada!

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    1. Oi Aline,

      Que bom que percebeu a ortorexia à tempo - ela é um perigo!

      Sobre os agrotóxicos, já li artigos que afirmam além do Brasil ser o campeão mundial no uso deles, já foram encontrados por aqui cinco tipos que são proibidos!!! Uma vergonha, né?? Pior que a gente não tem como saber exatamente... O país tem dimensões continentais, são inúmeras as pesquisas, incontáveis produtores... Impossível saber a situação dos vegetais que compramos com tantas variáveis. Volta e meia divulgam uns rankings com os campeões em agrotóxicos e sempre procuro fugir desses, como: pimentão, tomate, morangos... Buscando as opções orgânicas o máximo possível!

      Em paralelo procuro ingerir alimentos integrais; não consumo açúcar; praticamente não bebo; pego beeeeeem leve com café; evito alimentos industrializados ao máximo; só utilizo sal marinho; não tenho micro-ondas em casa; não uso panelas de alumínio; não guardo alimentos quentes em recipientes plásticos; procuro comprar recipientes plásticos livres de BPA; não uso desodorante nem cremes na pele; uso maquiagem no máximo 10x ao ano e nunca durmo com ela no rosto; procuro me exercitar; procuro não ficar com o "sono atrasado"; me exponho ao sol regularmente; não tomo remédios e fico atenta aos sinais do meu corpo constantemente...

      Enfim, acredito que a soma de tudo isso traz um saldo positivo e por esse motivo penso que não vale a pena ficar "neurótica" com a questão dos agrotóxicos. Ela é apenas um dos diversos fatores que influenciam nos riscos para doenças. O bom é ter em mente que fazemos o que é possível, sem radicalismos, sem excessos... Os males vão se neutralizando e equilibrando com os outros cuidados que tomamos. O mais importante de tudo isso é ter sempre em mente que a vida é para ser vivida, curtida e aproveitada - devemos comer para viver e não viver para comer, entende??

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  2. Claro que entendo, mas procuro tomar decisões conscientes :-) e é por isso que leio e reflito em cima do que aparece. Obrigada pelos comentários, bjs!

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    1. Você está certíssima!! Devemos sempre buscar "nossas" verdades e questionar o que vem "pronto" para a gente... Cada um deve conhecer de si o suficiente para avaliar as próprias necessidades/prioridades e para isso é preciso de estudo constante, associado à intuição. Bjs!!

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