Ontem li um capítulo do livro Anticâncer, e não resisti em compartilha-lo aqui no blog. Nele, o autor, repete em outras palavras, as mesmas ideias que andei escrevendo essa semana por aqui. Além disso, cita as resoluções do relatório das Nações Unidas de 2006. Li isso no mesmo dia do encerramento do Rio+20. Nem tive acesso ainda ao relatório elaborado no evento, mas imagino que deva abordar temas semelhantes, dentre outros... Sincronicidade? Dei uma pausa nesse livro e retomei essa semana, justamente quando essas ideias começaram a permear minha cabeça com mais força, resultando nos posts: http://www.beijonopadeiro.com/2012/06/saude-planetaria-x-saude-individual.htmlhttp://www.beijonopadeiro.com/2012/06/saude-planetaria-x-saude-individual_19.html
“ ‘Tudo que chega à terra chega aos
filhos da terra’
Se todos
adotarmos essa maneira orgânica e equilibrada de se alimentar, ajudaremos não
só nosso corpo a se desintoxicar, mas também o planeta a recuperar seu
equilíbrio. O relatório de 2006 das Nações Unidas sobre alimentação e
agricultura concluiu que a criação de animais para consumo humano é um dos
principais responsáveis pelo aquecimento global. A contribuição da pecuária
para o efeito estufa é mais elevada do que a do setor de transportes. A
pecuária é responsável por 65% das emissões de hemióxido de nitrogênio, um gás
que contribui para o aquecimento global 296 vezes mais do que o CO2.
O metano emitido pela digestão das vacas (que toleram mal o milho e a soja que
recebem para comer) age 23 vezes mais do que o CO2 sobre o
aquecimento, e 37% do metano mundial vem dos ruminantes. Um terço das terras
aráveis são destinadas ao milho e à soja para a alimentação do gado. Essas
extensões são insuficientes para atender à demanda, o que provoca o
desmatamento das florestas – e uma nova perda em capacidade de absorção do
dióxido de carbono. O relatório da ONU concluiu também que a pecuária está ‘entre
as atividades mais prejudiciais para os recursos hídricos’, por causa do despejo
maciço de fertilizantes, pesticidas e excrementos dos animais dentro dos cursos
de água.
Um indiano
consome em média 5 quilos de carne por ano e, com idade igual, vive com melhor
saúde do que um ocidental. São necessários 123 quilos por ano para satisfazer
um americano – 25 vezes mais. 1,2 Nossos modos de produção e de
consumo de produtos animais destroem o planeta. Tudo parece indicar que eles
contribuem também para nos destruir ao mesmo tempo.
No final de
cada dia, eu escrevo algumas palavras em um diário íntimo para resumir o que me
deu mais prazer. Em geral, trata-se de coisas muito simples. E frequentemente
me surpreendo ao notar o prazer que senti por só ter comido legumes, ervilhas e
frutas (e um pouco de pão multigrãos). Noto como me senti mais alerta e mais
leve o dia inteiro, e sorrio à ideia de que fui menos pesado para o planeta que
me carrega e me alimenta.
Depois de
vinte anos dedicados a cuidar de doentes que sofrem de câncer, Michael Lerner
se cansou de receber pessoas com idade entre 30 e 40 anos que nunca deveriam
fazer parte de seu programa. O programa existe ainda hoje, mas Michael passou a
voltar a maior parte de suas atividades para a proteção do meio ambiente, a fim
de prevenir as doenças na raiz. Ele resume a situação com uma simplicidade
luminosa: ‘Não se pode viver com boa
saúde em um planeta doente.’
Em 1854, o
chefe Seattle da tribo Puget Sound Suquamish entregou solenemente seu
território e seu povo à soberania dos Estados Unidos. O discurso que ele
pronunciou nessa ocasião serviu um século mais tarde de inspiração ao movimento
ecológico, que reinterpretou suas palavras particularmente incisivas. O chefe
se dirigia, de um modo mais urgente que nunca, aos descendentes dos colonos
brancos que nós somos:
‘Ensinem aos seus filhos o que nós ensinamos
aos nossos, que a terra é nossa mãe. Tudo que acontece com a terra acontece com
os filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo sobre si
mesmos. A terra não pertence ao homem; o homem pertence
à terá. Nós sabemos disso. Todas as coisas se ligam como o sangue que une a
mesma família. Todas as coisas estão interligadas.’”
1. Dupont, G., L´élevage Contribue Beaucoup au Réchauffement Climatique, Le monde, 5 de dezembro, 2006, seção 9.
2.
Bittman,
M., Rethinking the Meat-Guzzler, New York Times, January 27, 2008.
Fonte: SHREIBER, David S. Anticancer: prevenir e vencer usando nossas defesas naturais. 2 ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p. 118-119.
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