quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Outros ângulos da educação nutricional

Imagem retirada do Google Imagens

Estava aqui revendo o documentário Muito Além do Peso, feito pela ONG Alana, que já comentei por aqui antes, com um olhar bastante crítico.

Assim como um anúncio publicitário na TV, um documentário pode direcionar seu conteúdo retratando um tema do ângulo que ele deseja que seu expectador acredite. A maior diferença é que o público a que se destina um documentário tende a ser um público mais "cult". Mesmo assim, considero um risco, a menos que essa pessoa esteja disposta a questionar o outro lado da moeda e não simplesmente aceitar tudo que é transmitido. Afinal de contas, um documentário pode ser também uma forma de lavagem cerebral e alienação - se o tema for marketing e publicidade então, é o caso do torto falando do aleijado.

Não posso dizer que as informações ali não são válidas... Mas alguns conteúdos são bem questionáveis, pois podem ser vistos de outro ângulo e é essa visão que quero propor agora.

1) Os pais como vítimas. Coitados: eles precisam trabalhar, para colocar dinheiro em casa e não tem como controlar aquilo que os filhos assistem na TV. Que mentira feia papais e mamães, sabia que o nariz cresce?Primeiro, muitos desses pais assinam canais de TV por assinatura para os seus filhos, incentivando que fiquem mais tempo em frente à TV. Observe o nível socioeconômico das crianças do documentário que são viciadas em TV. Os problemas nutricionais dos que fazem parte de um grupo de baixa renda têm outra origem. A TV aberta que mais tem programas infantis ao longo do dia é a TVE, e estes são bastante educativos, com poucos intervalos comerciais (normalmente divulgando a programação da própria TV). O curioso é que as mesmas crianças de classe média e alta que tem acesso ao Mc. Donalds são as que menos assistem a TVE e sim os canais infantis por assinatura, infestados das "malditas publicidades".

Outra coisa. O fato do pai não poder estar presente não significa que o filho não possa descer para brincar de atividades não sedentárias com outras crianças ou até que ele crie o hábito pela leitura, jogos de tabuleiro e outras que não requerem espaço físico. A criança que passa muito tempo em frente à TV tem sim a culpa do pai, que coloca um aparelho de TV em cada cômodo da casa, deixa o controle remoto de bobeira... Se os pais quisessem diminuir o tempo que os filhos estão expostos à TV bastava esconder o controle, impor regras em casa, estipular metas de leitura, estimular a atividade física... A soluções são inúmeras. O que falta é criatividade e menos comodismo. Educar dá trabalho e muitos pais estão esperando que um aparelho de TV desempenhe este papel na família. Não dá!

2) Outro dado curioso observado na vida prática e também no documentário é que as crianças com sobrepeso, na maioria das vezes tem pais acima do peso. A culpa é da TV ou dos pais? Porque o filho de um pai com corpo atlético, que assiste a mesma TV que as outras crianças, tende a seguir o padrão corporal do pai? Exemplo é tudo!! Uma criança pode assistir o que for na TV, mas o exemplo doméstico será sempre mais forte. Não adianta um pai que toma litros de refrigerante querer convencer o filho (verbalmente) que aquilo faz mal. Ele primeiro precisa ser o exemplo, recheando a dispensa e a geladeira somente com itens saudáveis e mostrando na prática como é uma alimentação saudável.

3) O tal do bullying novamente... Dizem que as crianças sentem-se excluídas se levarem uma fruta para a escola enquanto os colegas levam  lanches industrializados... Claro que não!! Se um pai ensina em casa o porquê de uma fruta ser saudável, faz seu filho prestar atenção no tipo físico das pessoas que frequentam restaurantes de fast food em relação àquelas que estão nos restaurantes naturais, essa criança entenderá na prática qual a vantagem de uma maçã em relação a um pacote de batatas fritas. O supermercado é outra escola. Basta chegar na fila, olhar as pessoas acima do peso e depois observar o carrinho - estas são as que frequentemente compram o maior número de guloseimas nada saudáveis. Tudo isso é educação e pode ser mostrado de forma simples e didática a uma criança.

Já andei rasgando a seda de meus pais por aqui, porque realmente tive um exemplo dentro de casa que me fez ver as coisas de um ângulo diferente. Nunca sofri bullying por comer diferente dos meus colegas e olhe que estudava em tempo integral e era umas das únicas da turma que levava marmita e não comia na cantina do colégio. Como lanche, sempre levei frutas para a escola, enquanto meus colegas comiam na cantina. Sabe o que minha mãe me ensinava? Que meu lanche era especial, porque os pais dos meus colegas tinham preguiça de acordar cedo e preparar o lanche dos seus filhos (por isso eles tinham que comer na cantina) e que o fato dela fazer isso por mim era uma demonstração de amor. E era mesmo!! Alimentar é definitivamente uma forma de amar, principalmente se isso requer trabalho, educação... Ao invés de me sentir diferente, me sentia especial, a ponto que naquela época já me indignava o fato de uma colega levar pizza todos os dias para o colégio. Ainda criança observava aquilo e via que a mãe queria economizar tempo e dinheiro (a pizza era prática e bem mais barata do que a cantina da escola)... Olhava aquilo e via um ato de desleixo, desamor - aos 10 anos tinha essa visão crítica graças à educação doméstica que recebi. Jamais desejei aquelas pizzas, muito pelo contrário, frequentemente compartilhava a minha comida com esta colega e outras que adoravam as novidades saudáveis que eu levava...

Já comentei bastante por hoje, esse tema tem muito o que render ainda. Outro dia continuarei... Espero que tenham gostado e que reflitam sobre tudo isso!!! =)

3 comentários:

  1. Fiquei bastante emocionada ao assistir este documentário. Acredito que os maus hábitos alimentares já não são só responsabilidade dos pais (cuidadores). Existe uma propaganda criminosa estimulando a todos a consumir alimentos prejudiciais a saúde. Assim como no passado aconteceu com o estimulo ao hábito de fumar veiculando o consumo de nicotina ao sucesso,inteligência , liberdade e até mesmo a pratica de esportes. estimular os pequenos a consumir alimentos inadequados com brinquedos, colocar estes ao alcance das suas mãos, veicula-los com sentimentos de amor. Tem algo errado e o doc vai exatamente neste ponto, no crime que esta sendo cometido por estas industrias de alimentos,o poder que elas tem em todas as classes sociais e de como estes alimentos são oferecidos em todos os lugares.Só para recordar a algumas décadas ( 3 ou 4) a NESTLÉ desestimulou o aleitamento materno... amamentar era coisa de pobre. O Estado teve que investir em propaganda na TV nos hospitais, colocar artistas amamentando. Nossas crianças estavam ficando pouco imunes, então aconteceu e acontece até hoje campanhas para a amamentação.As mulheres acreditavam que o leite Ninho era melhor e que seu leite era FRACO (aquelas que não tinham condições de comprar o leite NINHO se sentiam culpadas por não poder dar um leite "melhor").
    O doc aborda principalmente esta questão a manipulação feita por estas industrias.
    E faz isso muito bem. Penso que cabe aos médicos e principalmente aos Nutricionistas mudarem isso.Assim como hoje você compra uma carteira de cigarro e sabe o que está fumando e o que significa tudo isso, e preciso que o mesmo aconteça com as garrafas de refrigerantes, os biscoitos etc. assim vai se educando pais e filhos. As pessoas precisam saber o quanto é importante um nutricionista, profissão que para maioria se resume a uma pessoa que ajuda aos outros a emagrecer.Acho que os nutricionistas sérios deveriam fazer uma pressão junto aos políticos para que fosse obrigatório um bom rotulo mostrando ( em destaque) as quantidades de açucar, gordura e os males que isso acarreta.
    Quando os pais não dão conta, até mesmo por que eles não sabem o que é boa alimentação e chegada a hora, do estado assumir a sua responsabilidade. Afinal hoje as pessoas fumam menos, estão misturando menos bebida e direção Porque campanhas e atitudes enérgicas foram tomadas. O doc é excelente porque mostra o quanto somos manipulados por toda uma propaganda e quando toca no comportamento da merenda escolar mostra a realidade da maioria, felizmente vc Camila foi educada por pais conscientes da importância de uma boa alimentação.Você faz parte de uma minoria.Agora vejamos a fala do publicitário que responsabiliza os pais e ate mesmo chega a dizer que a criança tem que ter liberdade de escolha.Que liberdade é essa que não mostra o que vc realmente está comendo que te envolve com fantasias , brinquedos, sentimentos de amor? ( quando uma mãe prepara um bolo com coca-cola). Vamos sim educar os pais os filhos. Mas o foco deste documentário e frear o absurdo que esta sendo cometido por aqueles fabricam tais alimentos e manipulam as cabeça das crianças para consumi-los, até mesmo os filhos de pais vegetarianos, veganos e macrobióticos caem nesta. ( conheço vários).Sonho com o dia que esteja escrito n a garrafa de coca-cola: Este produto causa diabetes, etc, etc. Quem sabe... quem diria que aquele fumo que prometia liberdade, saúde, inteligência... hoje causa câncer, impotência.O médicos mudaram isso! agora chegou a fez dos nutricionistas fazerem uma pressão forte junto ao Ministério da saúde... bom eu não sei qual o caminho mas está na hora de fazer alguma coisa o pessoal do documentário já começou...Vamos dar um basta a oferta de maneira dissimulada de alimentos tão nocivos. ensinar , conscientizar da importância de uma alimentação saudável é obrigação de todos é obrigação do Estado.

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  2. Muito bem colocado Valéria.

    Acredito que o principal papel do nutricionista hoje é exatamente este: EDUCAR!!

    Para mim o modelo de prescrever dietas está mais do que ultrapassado... O melhor caminho é a consciência alimentar e a educação. Ela servirá como boicote natural a todo este desmando que está retratado no filme.

    O processo já começou, hoje vejo avanços em termos de conscientização que jamais pensei que ouviria em minha infância.

    Ontem atendi um senhor com Cancer em meu estágio em um hospital público em salvador. Me surpreendi ao ver aquela pessoa simples, que veio do interior num transporte, para receber uma consulta na capital, dizer que não toma refrigerante, que só come arroz e macarrão integral, que come uma infinidade de verduras e frutas e só come ovo e galinha caipiras. Uma consciência alimentar incrível e o tratamento dele está sendo um sucesso!!!

    As informações estão se propagando, hoje as pessoas cada vez mais sabem o que é maléfico e o que é benéfico para saúde em termos de alimentação.

    Passo a passo estamos conseguindo grandes avanços: VIVA!!!

    P.S.: O rótulo da coca cola (e afins), do estilo dos que existem hoje nas carteiras de cigarro, não vai demorar de aparecer, tenho fé!!!!

    Beijos e grata pela enriquecedora participação! =)

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