quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Retornando para Quito

Como puderam perceber, o fim da nossa road trip não teve um clima dos mais animados... Chegamos a Quito e fomos direto para o aeroporto devolver o carro. Conseguimos a muito custo descontar o valor do GPS que não funcionou, mas não o prejuízo que a falta dele nos causou (rodamos cerca de 100km a mais por causa de voltas desnecessárias).

A primeira ideia ao chegarmos no aeroporto foi tentar antecipar a nossa saída do Equador e passar os últimos dias no Panamá com amigos, já que o nosso voo faria uma escala lá de qualquer maneira. Entretanto, a taxa para antecipar a ida ao Panamá era tão alta, que decidimos ficar por Quito mesmo.

As opções de transporte do aeroporto ao centro de Quito são: ônibus, que custa oito dólares por pessoa + custo do taxi da parada do ônibus ao hotel ou um taxi de vinte e seis dólares. Considerando que um tanque cheio de gasolina no país custa menos de quinze dólares e a passagem de ônibus urbano 25 centavos, é um roubo. Mas, convertendo para a nossa realidade brasileira, nem é tão caro assim. Enfim, optamos pelo taxi, principalmente porque estávamos exaustos de dirigir o dia todo e queríamos logo esticar as pernas, tomar um banho, etc.

Fomos direto para o bairro da Mariscal em direção à rua do hotel que tinhamos ficado antes do road trip (Calle Juan Rodriguez). Super recomendo esse lugar para hospedagem em Quito. É uma rua tranquila e incrivelmente silenciosa, considerando a proximidade do zumzumzum dos bares, restaurantes e boites do bairro. Além disso, tem opções para todos os gostos e bolsos, com diárias para casal variando entre vinte e sessenta dólares. Visitamos todos e optamos por um muito arrumado, com donos super atenciosos, chamado Imperial. Recomendo!

Rua dos hoteis e albergues na Mariscal em Quito: Calle Juan Rodriguez

Logo na esquina da rua tem um restaurante delicioso, lindo e de excelente atendimento, de culinária Equatoriana, chamado Achiote. Na noite que fomos lá estávamos tão cansados que optamos apenas por uma sopinha para forrar o estômago e dormir. Além disso, temos o costume de tomar sopa todas as noites em casa, então esta é sempre a opção de jantar mais reconfortante que tem. AMO!


Sopas vegetarianas no restaurante de comida típica Equatoriana Achiote (Mariscal, Quito)

No dia seguinte, acordamos descansados e sem pressa para irmos até a Metade do Mundo, ponto turístico de Quito que não tínhamos visitado e fica super afastado do centro. No caminho para o metrobus avistei um restaurante natural super simpático, chamado Quinua que foi a mais grata surpresa do final de minha viagem. Depois falarei sobre isso...

Ao chegar no monumento da Metade do Mundo a coisa que mais me impressionou foi a mudança de temperatura. Saímos do centro de Quito e estava um friozinho considerável, uma hora depois chegamos em um lugar, na mesma cidade, suuuuuper quente. Calculo que enquanto o centro devia estar com a temperatura em torno de 15 graus, o local onde fica o monumento devia estar com uns 35 graus. A mudança foi tão brusca que deu uma moleza instantânea no corpo. Tomamos um suco para refrescar (o Equador, assim como o Nordeste brasileiro, tem inúmeras opções de sucos de frutas frescos em qualquer estabelecimento. Pedi um tal de suco de guayaba (não li, apenas escutei a garçonete falando as opções de frutas disponíveis), achando que ia ser goiaba e descobri que era graviola, risos! Outra fruta bem gostosa que conheci por lá se chama naranjilla, cujo gosto lembra mangaba e o aspecto é uma mistura de caqui com laranja. Neste lugar, além do monumento tem alguns museus para ver e é um parque bastante agradável, não fosse a mistura do calor com ar rarefeito. Soube que a uns 300 metros a pé, existe outro monumento que é considerado outro marco da metade do mundo (diferenças em medições), mas a esta altura estávamos cansados e eu estava desejando chegar logo no restaurante natural do Mariscal para almoçar, então nos demos por satisfeitos em visitar apenas o parque principal da Metade do Mundo.

somente esta imagem (neste post) retirada do Google Imagens

Agora deixe eu contar um pouco do tal restaurante... No caminho para o metrobus, como comentei, avistei uma placa: Aikido. Em seguida percebi que abaixo havia outra placa indicando um restaurante natural e mais outra com o símbolo da Educação para a Vida. Tudo no mesmo lugar? Para quem não sabe, Aikidô + comida natural --> provavelmente = proprietário macrobiótico. Para completar, o símbolo da educação para a vida (ou Autoeducação Vitalícia) é uma referência imediata aos ensinamentos do professor Kikuchi...


Entrei e ao ver o estilo do restaurante, não ficaram dúvidas. Uma lousa com o menu do dia escrito, sendo este vegetariano, incluindo muitos vegetais, sopa, arroz integral e quinua. Vários cartazes com  textos sobre conscientização alimentar, importância dos alimentos orgânicos, vantagens do leite materno em relação ao leite de vaca, etc... Me senti em casa! Conversei com o dono e ele disse que o restaurante fechava 16:00, logo daria tempo de ir até a metade do mundo e retornar para o almoço. Foi o que fiz!!


Que presente aquela comida para me recepcionar em meu retorno à Quito. No caixa encontrei um livro interessante sobre alimentação saudável e perguntei quem era o autor. Fui informada de que era uma pessoa que atendia no fundo da casa do restaurante. Não perdi tempo, peguei seu telefone, liguei e marquei de encontrá-lo no dia seguinte às 9:00. Ao retornar pro hotel fiz uma breve pesquisa no Google e achei o currículo dele super interessante. O que mais me chamou atenção foi o fato de sua primeira formação ser em Engenharia Mecânica na Universidade Federal da Bahia.

Que saudade de uma refeição completa: Neste dia: enroladinho de arroz integral e alga nori com vegetais e seitan, bolinho de quinua, salada prensada, arroz integral, sopa de vegetais e cereais, suco de graviola com amora, creme de maçã para sobremesa e chá

No dia seguinte, cheguei cedo no restaurante para um desjejum macrô maravilhoso incluindo um creme de arroz integral e vegetais suco quentinho de aveia com amoras para aquecer naquela fria manhã. O encontro com Santiago foi melhor do que poderia imaginar! Metade em português, metade em espanhol e a outra parte em portanhol, passamos a manhã trocando ideias. Descobri que ele morou no Brasil por mais de quinze anos, pois conseguiu uma bolsa para estudar na UFBA e em Salvador conheceu a macrobiótica, no início da década de 80. Nesta época conheceu um monte de gente que conheço e frequentou o restaurante e livraria macrô que meus pais tiveram no bairro dos Barris. Aliás, o primeiro livro macrô que leu na vida, Sois todos Sampaku, foi lido na livraria dos meus pais! Imaginem só que coincidência...!

Cereais Integrais e vegetais no desjejum

Contou-me como a vida dele mudou completamente de rumo depois que conheceu a macrobiótica e que acabou nunca exercendo engenharia, o motivo que o levou ao Brasil. Depois que saiu de Salvador, mudou-se para São Paulo, onde morou na Escola Musso e estudou com Tomio Kikuchi por mais de dez anos. Retornando ao Equador, graduou-se como antropólogo e hoje trabalha com educação para a vida a partir de fundamentos tradicionais como a yoga, a macrobiotica, o aikido, o taichi, etc. Desenvolve um trabalho super interessante! O restaurante era dele, mas vendeu há sete anos para um amigo, para poder se dedicar ao Aikidô, à Meditação Dinâmica e ao atendimento de educação para a vida. Descobrimos inúmeros amigos em comum e naquele momento o Brasil e o Equador ficaram pequenos. Ele foi super gentil, me presenteando com livros, DVDs e ótimos materiais de estudo e trabalho. 

Livros e DVD de Santiago Portilla Rosales

As coincidências não terminaram por aí. Neste mesmo dia de noite haveria uma palestra, que ocorre mensalmente no restaurante, sobre temas relacionados à saúde e alimentação. Cheguei um pouco mais cedo para preparar umas Rice Balls para levar comigo no dia seguinte no longo voo de retorno ao Brasil... Pouco depois vejo adentrar no restaurante uma Equatoriana que conheci no ano anterior, no seminário de inverno do Professor Kikuchi em Mariporã. No seminário os quartos são quádruplos e em 2012 compartilhei com duas amigas baianas e essa Equatoriana, que nunca mais tive contato e naquele dia descobri que trabalha hoje em dia com Santiago.

Rice balls para viagem

Fechei a viagem da forma mais inesperada possível, conhecendo pessoas maravilhosas e reencontrando uma outra muito querida, que convivi por uma semana a exato um ano! Para mim o ponto alto de viagens são as pessoas e tudo isso me fez entender claramente porque minha road trip desandou tanto, a ponto de desistir dela. Precisava retornar a Quito e estar com estas pessoas! 

Aquela velha história de ligar os pontos, tema que dediquei um texto no passado. Quando certas coisas acontecem em nossas vidas, muitas vezes não entendemos a razão... Pouco depois o desfecho faz com que tudo faça sentido!

Maravilhosa viagem. Passei frio, calor, vi chuva, sol, neve e neblina. Andei a pé, a cavalo, ônibus, carro alugado, taxi, trem, mergulhei, fiz trilha, naveguei... Conheci ingleses, suíços, americanos, brasileiros, equatorianos, árabes e animais silvestres das mais diversas espécies... Visitei centro histórico, restaurantes, ilhas paradisíacas, museus, centros de artesanatos... Vi mar, montanhas, ilhas, estradas, cidades pequenas e cidades grandes... Dormi em barco, hospedaria, hotel fazenda, hotel, albergue... Falei inglês, espanhol, inglês, li livros, vi filmes, assisti palestras, jogo de futebol e até luta de MMA (derrota de Anderson Silva). Foram 16 dias intensos que certamente ficarão na memória para sempre! :)

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