Imagem criada por mim, inspirada nos ensinamentos de Michio Kushi
Já devo ter respondido a esta pergunta algumas dezenas de
vezes na vida, hoje resolvi escrever sobre ela.
O primeiro motivo que me faz não comer nenhum destes três
alimentos é provavelmente a mesma razão que faz com que a maioria das pessoas
coma.
Nasci em uma família de macrobióticos, onde estes alimentos
simplesmente não integram a rotina alimentar. Para agravar a situação, fui
alérgica ao leite e os seus derivados até os 12 anos de idade. Logo, estes
alimentos simplesmente não fazem parte do meu hábito alimentar.
Em um post do ano passado, comentei sobre a importância da infância na formação do paladar e de futuros hábitos alimentares das pessoas.
Trabalhando com educação nutricional e tendo a minha própria experiência de
vida como exemplo, vejo como a infância exerce um papel crucial na formação de
um indivíduo, não só tem termos alimentares, como em diversos aspectos que
constituem o caráter de uma pessoa.
Agora vem outra pergunta: por que depois de adulta eu
continuo fazendo questão de manter e até de propagar meus hábitos da infância?
Como todo adolescente, eu tive a minha fase rebelde, onde me
esbaldei de chocolates, sorvetes e doces, especialmente quando fiz intercâmbio
e me vi com total autonomia para comer o que quisesse. Não cheguei a abandonar
completamente a alimentação macrobiótica, apenas acrescentei essas guloseimas açucaradas
aos meus grãos e vegetais...
O resultado não foi dos melhores: engordei dez quilos e ao
fim do intercâmbio adquiri uma tosse de cachorro que me perseguiu por pelo
menos um mês. Retornando à casa, retomando velhos hábitos alimentares, tive
aquela sensação de limpeza profunda do meu organismo, como se aquelas toxinas
acumuladas ao longo de um ano estivessem desesperadas para sair. Rapidamente
livrei-me da tosse e dos quilos extras adquiridos.
Dizem que a gente só aprende na dor. A minha, graças a Deus
não foi profunda, como muitas pessoas que são obrigadas a mudar seus
hábitos alimentares por patologias bem mais preocupantes do que ganho de peso e
tosse. Mas esta experiência me fez olhar para o passado e perceber o quão
felizarda fui a vida toda em não ter que me preocupar com balança, acne, caspa,
mau hálito, gastrite, dor-de-cabeça, cólica, cãibras, unhas e cabelos frágeis e tantas
outras coisas, associadas à alimentação e que perturbam a vida das pessoas
desde muito cedo, em maior ou menor grau.
Dizem também que a gente só dá valor às coisas depois que as
perdemos. Esse é outro motivo que me faz continuar firme e forte com a minha
conduta alimentar. Não cheguei a perder muito, mas me ver vestindo uma calça
44, me fez perceber o quando eu era feliz vestindo 38/40 e não sabia. Não sabia
mesmo, afinal, nunca me preocupei em fazer dieta, contar calorias ou comer
pouco. Aliás, como igual ou mais que a maioria dos homens que conheço, mas
apesar do grande volume, são alimentos saudáveis que naturalmente engordam
menos. Agora imagine comer essa mesma quantidade, incluindo um monte de doces
na dieta? O resultado não poderia ter sido menos que 10 quilos a mais em menos de um ano!
Em post falando sobre a minha relação com o açúcar descrevo
exatamente isso: a luta que foi deixar de comer algo que jamais tinha feito
parte de minha rotina alimentar e que de um dia para o outro me tornei viciada
e desejava comer à todo instante. Minha relação com o açúcar é de profundo
respeito: como um alcoólatra que deixa de beber ou um fumante que deixa de
fumar. Aquilo é uma droga, altamente viciante e se livrar do vício não é nada
fácil.
Sobre o leite e a carne, vamos lá!
O leite nunca fez parte de minha vida e mesmo depois que
deixei de ser alérgica, nunca me apeteceu. Aprendi até a gostar de algumas
coisas derivadas do leite como certos tipos de queijo, sorvetes, iogurtes... Mas de modo geral não me apetecem e sabendo do meu passado alérgico, com muitas
crises de asma, bronquite e rinite, sei que o melhor que posso fazer para não
voltar a ter essas patologias, vinculadas ao sistema respiratório é evitar o
principal alimento formador de muco. Então, leite: você lá e eu cá, combinado?! Nossa
distância me faz muito bem, obrigada!
Por fim, carne. Sempre digo que se tivesse nascido carnívora
seria dessas pessoas que diz que não conseguiria viver sem carne. Primeiro porque sou extremamente gulosa e segundo porque adoro comidas
com texturas de carne, como o seitan, carne de soja, peixe, um bom frango caipira e
até um carneiro de vez em quando. Como nunca comi carne bovina é simplesmente estranho para mim, sempre tive nojo naqueles bifes sangrentos vendidos no mercado (açougue então, não consigo nem passar pela porta), como o brasileiro sente nojo ao ver um chinês comer um escorpião, um morcego, um cachorro ou uma minhoca. Na verdade, apesar de comer um frango caipira esporadicamente quando estou numa fazenda de alguém, nunca tratei um frango na vida e apesar de cozinhar peixes e frutos do mar, estão longe de ser minha especialidade na cozinha. Gosto mesmo é de lidar com vegetais: limpinhos e cheirosos! O problema da carne de boi em si, vem da
associação de saber que é a carne vermelha é comprovadamente a menos adequada
ao consumo humano, associada à inúmeras patologias, juntamente com o fato de
ter sido criada sem comê-la. Você escuta falar que é melhor evitar determinado alimento
que já não faz parte do seu hábito alimentar, você faz o que? Dá graças a Deus
e investe em outros alimentos mais saudáveis!
E por que, para início de conversa macrobióticos não comem
açúcar, laticínios e carne? Vou tentar fazer uma longa resposta ser curta. Açúcar: um alimento químico e processado, sem nenhum valor nutricional e que
ainda rouba minerais essenciais do organismo. Laticínios: simplesmente porque
na cadeia alimentar nenhum ser foi criado para consumir o leite de outra
espécie. O leite da vaca é feito para alimentar um bezerro, que por sua vez,
tem uma estrutura física completamente diferente a do ser humano. Como a
intenção é evoluir na espécie e não regredir para uma espécie menos evoluída,
melhor se alimentar de coisas adequadas a seres humanos. Carne: pelo mesmo
motivo da cadeia alimentar. Desde que o mundo é mundo, o maior come o menor. O
boi é um animal muito maior do que o humano e consequentemente, assim como
acontece com o leite da vaca, a sua carne é de difícil assimilação e digestão
para humanos. Existem inúmeras outras fontes proteicas que podem garantir uma
dieta saudável, sem gerar tanto desgaste pro sistema digestivo, até mesmo
carnes de animais menores, como peixes e frangos, desde que de boa
procedência...
Respondida a pergunta?
P.S.: Não quis entrar muito no mérito do yin e do yang neste post, mas outra justificativa pela qual macrobióticos não ingerem nem carne e nem açúcar, é porque buscam uma dieta equilibrada e estes alimentos são considerados extremo yang e extremo yin, respectivamente. O equilíbrio perfeito é impossível, mas chegar próximo a ele evitando extremos é bem mais fácil. É como comparar o deslocamento de uma pessoa em linha reta (ou levemente sinuosa), à beira do mar, com o deslocamento subindo e descendo ladeiras e vencendo grandes altitudes nas montanhas... O segundo vai gerar muito mais desgaste e cansaço até conseguir fazer o mesmo deslocamento que o primeiro faz com o mínimo de esforço. Essa é a ideia da alavanca viva: mínimo esforço para o máximo de resultado!
Por favor, publique um post bem completo sobre leite e seus derivados e muco. Estou tentando convencer o meu marido, que tem sinusite, a renunciar a esses alimentos. Por exemplo-a manteiga está incluída aí?Obrigada
ResponderExcluirOi Anônimo, grata pela visita!! Você chegou a entrar no Tag "Leite" do Blog?? Tem alguns artigos bem detalhados sobre o leite...
ExcluirSim, a manteiga está incluída! O leite e todos os seus derivados são formadores de muco... Vou escrever um texto sobre isso sim, boa pedida!!
Oi Mila!
ResponderExcluirGostei muito do texto. Eu normalmente não como carne, fui criada com frutos do mar e peixes. Mas quando fico grávida, DESEJO carne! Como eu gosto muito de ouvir meu próprio organismo, acabo comendo de vez em quando principalmente nos primeiros meses de gestação. O problema é que aqui não encontro carnes "orgânicas", de bois criados livremente, sem hormônios, etc. Além de verdes, melaço de cana, feijão e beterraba, você recomenda alguma outra fonte saudável de ferro? Pois penso que essa vontade possa ser uma maior necessidade de ferro em minha dieta. Beijos, Mirella
Oi Mima!!
ExcluirNosso corpo é sábio sim e devemos escutá-lo. Bela Gil falou que teve a mesma coisa na gravidez, era vegetariana há um tempão e quando estava grávida desejou carne. Como nunca engravidei, não posso dar meu depoimento... Mas quando adoeço fico desejando um peixe ou um frango caipira, ou até um carneiro...
As necessidades de ferro durante a gestação chegam a quintuplicar em algumas fases e é por isso que existe uma medida de saúde pública que recomenda a suplementação. É preciso estar com uma dieta MUITOOOO equilibrada e criteriosa para conseguir atingir as necessidades, especialmente numa dieta vegetariana. Minha mãe acompanhou o ferro dela nas duas gestações e nunca teve anemia, por isso sei que é possível, apesar de dizerem que é impossível sem suplementação.
Enfim, Deus não criou o ser humano para depender de suplementação, né?? Mas também não criou a humanidade para se alimentar tão mal, então, tudo tem um preço. Criamos os problemas, depois temos que criar as soluções... Além do mais, mesmo com consciência, com o dia-a-dia corrido e outras atividades, infestação de transgênicos e pesticidas, é quase impossível ter uma dieta 100% e nessas horas o suplemento pode salvar. Nunca precisei usar nenhum, mas quem sabe o dia de amanhã??
Em relação à micronutrientes, o que sempre digo é o seguinte: mais importante do que aquilo que ingerimos é aquilo que deixamos de perder. Como é praticamente impossível avaliar as perdas de minerais, todos os estudos científicos estão baseados na ingestão. Acontece que a dieta da maior parte da população proporciona grande depleção de minerais, pois é altamente acidificante, rica em refinados, excessiva em gordura, etc...
Devemos buscar uma dieta alcalinizante, pois é a melhor forma de "poupar" a perda de minerais. Havendo pouca perda, há consequentemente menor necessidade de ingestão... O resto é acompanhar os exames laboratoriais e fazer auto avaliações físicas para saber se está no caminho certo, sempre dando ouvido aos nossos instintos... Se o corpo está desejando carne, dá carne para ele, com certeza não é sem razão... E por aí vai!!
Boa sorte e grata por seu depoimento aqui...!!
Bjs