quarta-feira, 21 de maio de 2014

Por que eu não como nem carne, nem leite e nem açúcar?

Imagem criada por mim, inspirada nos ensinamentos de Michio Kushi


Já devo ter respondido a esta pergunta algumas dezenas de vezes na vida, hoje resolvi escrever sobre ela.

O primeiro motivo que me faz não comer nenhum destes três alimentos é provavelmente a mesma razão que faz com que a maioria das pessoas coma.

Nasci em uma família de macrobióticos, onde estes alimentos simplesmente não integram a rotina alimentar. Para agravar a situação, fui alérgica ao leite e os seus derivados até os 12 anos de idade. Logo, estes alimentos simplesmente não fazem parte do meu hábito alimentar.

Em um post do ano passado, comentei sobre a importância da infância na formação do paladar e de futuros hábitos alimentares das pessoas. Trabalhando com educação nutricional e tendo a minha própria experiência de vida como exemplo, vejo como a infância exerce um papel crucial na formação de um indivíduo, não só tem termos alimentares, como em diversos aspectos que constituem o caráter de uma pessoa.

Agora vem outra pergunta: por que depois de adulta eu continuo fazendo questão de manter e até de propagar meus hábitos da infância?

Como todo adolescente, eu tive a minha fase rebelde, onde me esbaldei de chocolates, sorvetes e doces, especialmente quando fiz intercâmbio e me vi com total autonomia para comer o que quisesse. Não cheguei a abandonar completamente a alimentação macrobiótica, apenas acrescentei essas guloseimas açucaradas aos meus grãos e vegetais...

O resultado não foi dos melhores: engordei dez quilos e ao fim do intercâmbio adquiri uma tosse de cachorro que me perseguiu por pelo menos um mês. Retornando à casa, retomando velhos hábitos alimentares, tive aquela sensação de limpeza profunda do meu organismo, como se aquelas toxinas acumuladas ao longo de um ano estivessem desesperadas para sair. Rapidamente livrei-me da tosse e dos quilos extras adquiridos.

Dizem que a gente só aprende na dor. A minha, graças a Deus não foi profunda, como muitas pessoas que são obrigadas a mudar seus hábitos alimentares por patologias bem mais preocupantes do que ganho de peso e tosse. Mas esta experiência me fez olhar para o passado e perceber o quão felizarda fui a vida toda em não ter que me preocupar com balança, acne, caspa, mau hálito, gastrite, dor-de-cabeça, cólica, cãibras, unhas e cabelos frágeis e tantas outras coisas, associadas à alimentação e que perturbam a vida das pessoas desde muito cedo, em maior ou menor grau.

Dizem também que a gente só dá valor às coisas depois que as perdemos. Esse é outro motivo que me faz continuar firme e forte com a minha conduta alimentar. Não cheguei a perder muito, mas me ver vestindo uma calça 44, me fez perceber o quando eu era feliz vestindo 38/40 e não sabia. Não sabia mesmo, afinal, nunca me preocupei em fazer dieta, contar calorias ou comer pouco. Aliás, como igual ou mais que a maioria dos homens que conheço, mas apesar do grande volume, são alimentos saudáveis que naturalmente engordam menos. Agora imagine comer essa mesma quantidade, incluindo um monte de doces na dieta? O resultado não poderia ter sido menos que 10 quilos a mais em menos de um ano!

Em post falando sobre a minha relação com o açúcar descrevo exatamente isso:  a luta que foi deixar de comer algo que jamais tinha feito parte de minha rotina alimentar e que de um dia para o outro me tornei viciada e desejava comer à todo instante. Minha relação com o açúcar é de profundo respeito: como um alcoólatra que deixa de beber ou um fumante que deixa de fumar. Aquilo é uma droga, altamente viciante e se livrar do vício não é nada fácil.

Sobre o leite e a carne, vamos lá!

O leite nunca fez parte de minha vida e mesmo depois que deixei de ser alérgica, nunca me apeteceu. Aprendi até a gostar de algumas coisas derivadas do leite como certos tipos de queijo, sorvetes, iogurtes... Mas de modo geral não me apetecem e sabendo do meu passado alérgico, com muitas crises de asma, bronquite e rinite, sei que o melhor que posso fazer para não voltar a ter essas patologias, vinculadas ao sistema respiratório é evitar o principal alimento formador de muco. Então, leite: você lá e eu cá, combinado?! Nossa distância me faz muito bem, obrigada!

Por fim, carne. Sempre digo que se tivesse nascido carnívora seria dessas pessoas que diz que não conseguiria viver sem carne. Primeiro porque sou extremamente gulosa e segundo porque adoro comidas com texturas de carne, como o seitan, carne de soja, peixe, um bom frango caipira e até um carneiro de vez em quando. Como nunca comi carne bovina é simplesmente estranho para mim, sempre tive nojo naqueles bifes sangrentos vendidos no mercado (açougue então, não consigo nem passar pela porta), como o brasileiro sente nojo ao ver um chinês comer um escorpião, um morcego, um cachorro ou uma minhoca. Na verdade, apesar de comer um frango caipira esporadicamente quando estou numa fazenda de alguém, nunca tratei um frango na vida e apesar de cozinhar peixes e frutos do mar, estão longe de ser minha especialidade na cozinha. Gosto mesmo é de lidar com vegetais: limpinhos e cheirosos! O problema da carne de boi em si, vem da associação de saber que é a carne vermelha é comprovadamente a menos adequada ao consumo humano, associada à inúmeras patologias, juntamente com o fato de ter sido criada sem comê-la. Você escuta falar que é melhor evitar determinado alimento que já não faz parte do seu hábito alimentar, você faz o que? Dá graças a Deus e investe em outros alimentos mais saudáveis!

E por que, para início de conversa macrobióticos não comem açúcar, laticínios e carne? Vou tentar fazer uma longa resposta ser curta. Açúcar: um alimento químico e processado, sem nenhum valor nutricional e que ainda rouba minerais essenciais do organismo. Laticínios: simplesmente porque na cadeia alimentar nenhum ser foi criado para consumir o leite de outra espécie. O leite da vaca é feito para alimentar um bezerro, que por sua vez, tem uma estrutura física completamente diferente a do ser humano. Como a intenção é evoluir na espécie e não regredir para uma espécie menos evoluída, melhor se alimentar de coisas adequadas a seres humanos. Carne: pelo mesmo motivo da cadeia alimentar. Desde que o mundo é mundo, o maior come o menor. O boi é um animal muito maior do que o humano e consequentemente, assim como acontece com o leite da vaca, a sua carne é de difícil assimilação e digestão para humanos. Existem inúmeras outras fontes proteicas que podem garantir uma dieta saudável, sem gerar tanto desgaste pro sistema digestivo, até mesmo carnes de animais menores, como peixes e frangos, desde que de boa procedência...

Respondida a pergunta?

Não sigo nenhuma moda. Não sou uma defensora fervorosa dos animais – pelo contrário, defendo a cadeia alimentar, desde que ocorra de forma justa e lógica (maiores comendo menores) e não esta covardia que se tornou a pecuária e outros cultivos animais que gera total desequilíbrio no ecossistema para manter um padrão alimentar louco, onde a carne é o prato principal... Enfim, minhas escolhas alimentares vêm de um misto de experiências pessoas, estudos e escolhas inteligentes na hora de decidir o que entra em minha boca. Afinal, como diz o velho ditado, somos o que comemos e como tenho muito amor próprio, penso muito bem naquilo que quero me transformar antes de colocar um alimento na boca, meramente guiada pelo paladar. 

P.S.: Não quis entrar muito no mérito do yin e do yang neste post, mas outra justificativa pela qual macrobióticos não ingerem nem carne e nem açúcar, é porque buscam uma dieta equilibrada e estes alimentos são considerados extremo yang e extremo yin, respectivamente. O equilíbrio perfeito é impossível, mas chegar próximo a ele evitando extremos é bem mais fácil. É como comparar o deslocamento de uma pessoa em linha reta (ou levemente sinuosa), à beira do mar, com o deslocamento subindo e descendo ladeiras e vencendo grandes altitudes nas montanhas... O segundo vai gerar muito mais desgaste e cansaço até conseguir fazer o mesmo deslocamento que o primeiro faz com o mínimo de esforço. Essa é a ideia da alavanca viva: mínimo esforço para o máximo de resultado!

4 comentários:

  1. Por favor, publique um post bem completo sobre leite e seus derivados e muco. Estou tentando convencer o meu marido, que tem sinusite, a renunciar a esses alimentos. Por exemplo-a manteiga está incluída aí?Obrigada

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    1. Oi Anônimo, grata pela visita!! Você chegou a entrar no Tag "Leite" do Blog?? Tem alguns artigos bem detalhados sobre o leite...

      Sim, a manteiga está incluída! O leite e todos os seus derivados são formadores de muco... Vou escrever um texto sobre isso sim, boa pedida!!

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  2. Oi Mila!
    Gostei muito do texto. Eu normalmente não como carne, fui criada com frutos do mar e peixes. Mas quando fico grávida, DESEJO carne! Como eu gosto muito de ouvir meu próprio organismo, acabo comendo de vez em quando principalmente nos primeiros meses de gestação. O problema é que aqui não encontro carnes "orgânicas", de bois criados livremente, sem hormônios, etc. Além de verdes, melaço de cana, feijão e beterraba, você recomenda alguma outra fonte saudável de ferro? Pois penso que essa vontade possa ser uma maior necessidade de ferro em minha dieta. Beijos, Mirella

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    1. Oi Mima!!

      Nosso corpo é sábio sim e devemos escutá-lo. Bela Gil falou que teve a mesma coisa na gravidez, era vegetariana há um tempão e quando estava grávida desejou carne. Como nunca engravidei, não posso dar meu depoimento... Mas quando adoeço fico desejando um peixe ou um frango caipira, ou até um carneiro...

      As necessidades de ferro durante a gestação chegam a quintuplicar em algumas fases e é por isso que existe uma medida de saúde pública que recomenda a suplementação. É preciso estar com uma dieta MUITOOOO equilibrada e criteriosa para conseguir atingir as necessidades, especialmente numa dieta vegetariana. Minha mãe acompanhou o ferro dela nas duas gestações e nunca teve anemia, por isso sei que é possível, apesar de dizerem que é impossível sem suplementação.

      Enfim, Deus não criou o ser humano para depender de suplementação, né?? Mas também não criou a humanidade para se alimentar tão mal, então, tudo tem um preço. Criamos os problemas, depois temos que criar as soluções... Além do mais, mesmo com consciência, com o dia-a-dia corrido e outras atividades, infestação de transgênicos e pesticidas, é quase impossível ter uma dieta 100% e nessas horas o suplemento pode salvar. Nunca precisei usar nenhum, mas quem sabe o dia de amanhã??

      Em relação à micronutrientes, o que sempre digo é o seguinte: mais importante do que aquilo que ingerimos é aquilo que deixamos de perder. Como é praticamente impossível avaliar as perdas de minerais, todos os estudos científicos estão baseados na ingestão. Acontece que a dieta da maior parte da população proporciona grande depleção de minerais, pois é altamente acidificante, rica em refinados, excessiva em gordura, etc...

      Devemos buscar uma dieta alcalinizante, pois é a melhor forma de "poupar" a perda de minerais. Havendo pouca perda, há consequentemente menor necessidade de ingestão... O resto é acompanhar os exames laboratoriais e fazer auto avaliações físicas para saber se está no caminho certo, sempre dando ouvido aos nossos instintos... Se o corpo está desejando carne, dá carne para ele, com certeza não é sem razão... E por aí vai!!

      Boa sorte e grata por seu depoimento aqui...!!

      Bjs

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