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Acabei de ler este texto no Blog de Rodrigo Constantino e na falta de ter com quem comentar (acabei de escrever sobre isso) e achar muito efêmeros os tão populares compartilhamentos no Facebook, resolvi escrever um post (conversar comigo mesma)...
Claro que fico indignada com este tipo de situação. No fim do ano passado escrevi sobre a alta cobrança de IOF (agora também nos cartões de débito) para compras realizadas no exterior. O artigo publicado demonstra o cúmulo da invasão de privacidade e tentativa de roubo do livre arbítrio financeiro do brasileiro.
Viver neste país é uma aventura para corajosos e loucos. Vivo repetindo isso aqui no blog: o brasileiro paga impostos que seriam capazes de oferecer serviços de primeiro mundo a ele e no entanto a recebe serviços de quinta categoria. Por conta disso, é obrigado a pagar tudo duplamente: escola, saúde, aposentadoria e inúmeros seguros, para ter a garantia de uma educação e assistência minimamente decente. Quando necessita recorrer à justiça (cujos salários dos servidores são pagos por ele), a menos que a causa justifique o altíssimo investimento da contratação de escritórios de advocacia de ponta (o que mesmo assim não garante velocidade ou resolução dos problemas) corre o risco de nadar e morrer na praia, cansado e desgastado de brigar apenas para receber o que lhe é devido. E quando resolve ser empresário, começa sabendo que vai gerar empregos para os seus piores inimigos: a classe trabalhadora que enxerga o emprego como uma oportunidade de obter uma renda extra futura com causas trabalhistas e ainda recebe total respaldo da justiça para continuar agindo desta maneira. Não é de admirar tanta gente inteligente e competente que opta por concursos públicos: empresariar no Brasil é uma aventura pior que escalar o Everest.
Como se fosse pouco, tudo neste país é absurdamente caro: carro, imóvel, livro, roupa, transporte, combustível, acomodação, alimentação e lazer em geral... Os valores que vemos por aí são (sempre foram) completamente incompatíveis com a renda média brasileira, principalmente tomando por base o salário mínimo. Não é a toa que muita gente tenha vontade de "investir" o seu suado (para uns, infelizmente não para todos) dinheiro bem longe daqui: seja com educação, programas culturais ou adquirindo objetos de uso pessoal, já que mesmo convertendo para moedas muito mais caras que o real, como o dólar, o euro e até a libra, diversas coisas ainda saem mais baratas do que aqui no Brasil e mesmo que sejam mais caras, acredito que a escolha daquilo com o que se deseja consumir é algo absolutamente pessoal. Acho um absurdo a tentativa de vedar o livre arbítrio do consumo de uma pessoa, principalmente quando o seu salário foi adquirido de forma honest e o produto comprado é legal, por isso achei as considerações da matéria excelentes!
Neste artigo vejo a prova de uma frase do Tom Jobim: "No Brasil, o sucesso é um insulto pessoal". Provavelmente, a pessoa que vasculhou a mala da empresária sentiu extremo incômodo ao ver uma pessoa bem vestida e portando itens de grife, completamente fora de seu alcance. Aliás, estes servidores públicos de alfândegas devem se corroer de inveja ao verem diariamente centenas de pessoas na mesma situação... O que fazem? Abusam da autoridade para dar vazão à inveja inoculada. Agora pergunto: essas pessoas têm o direito de sentir inveja se elas escolheram os seus trabalhos e inclusive alcançaram o posto mais sonhado pela maioria dos brasileiros: a estabilidade através de um concurso público? Não têm! O problema é que entre o discurso das pessoas, o sentimento e a prática existe um abismo e quando uma pessoa se vê em um cargo tão estável que chega a ser tedioso e estagnante, acaba morrendo de inveja de quem tem a possibilidade de crescimento pessoal e financeiro através do trabalho, mas como as suas ideologias não permitem assumir isso, afinal "o capitalismo é o satanás da sociedade moderna" elas acabam expressando este sentimento de inveja das maneiras mais mesquinhas.
Por ter crescido em um ambiente educacional de modelo norte-americano, fui educada para acreditar que o ser humano através de sua criatividade e educação é capaz de empreender, inovar e criar sozinho o seu trabalho e seu sustento, sem necessariamente depender de um emprego para isso. E mesmo que tenha um emprego, que este seja "instável" dando possibilidades tanto ao crescimento, quanto à demissão, o que encoraja o desenvolvimento contínuo. Ao mudar para uma escola brasileira, o meu primeiro choque foi perceber que toda o sistema de ensino era voltado apenas para preparar o aluno para a prova do vestibular (hoje o ENEM). Já na faculdade, constantemente os conteúdos são voltados à forma como são cobrados nos concursos públicos. Recentemente questionei uma professora sobre isso, perdendo tempo precioso de sala de aula ensinando macetes e ela respondeu que era porque todo mundo (eu também? não estava sabendo...) quando saísse da faculdade iria fazer um concurso (simples assim: uma afirmação). Pensava que era uma realidade apenas de pessoas que graduavam na área jurídica, mas neste dia me dei conta de que é um desejo generalizado, independente da área: o objetivo mor das pessoas é prestar um concurso público, pouco interessa a função, apenas a estabilidade a ser alcançada. Triste realidade!
Não duvido da possibilidade de alguém fazer um concurso por achar que tem vocação para determinado cargo e isso se comprova com o fato de existirem funcionários públicos competentes e dedicados... O problema é que esse segmento corresponde à uma minoria e mesmo essas pessoas correm o risco de cair na acomodação depois de muitos anos no mesmo cargo. Toda vez que converso com indivíduos concursados fico impressionada como seus trabalhos são sinônimo de vida mansa, com cargas horárias reduzidas, inúmeros benefícios e ninguém comenta sobre o que verdadeiramente é feito em seus trabalhos, somente sobre a grande qualidade de vida que passaram a ter depois que viraram funcionários públicos. A primeira coisa que não consigo entender é como um trabalho pode se basear em um relógio de ponto: na minha experiência e concepção, um trabalho verdadeiramente inspirado não tem hora marcada nem para começar e nem para terminar e alguém que consegue interromper suas atividades rigorosamente em um horário fixo, para mim, está muito mais comprometido com o relógio do que com a função desempenhada. Enfim, este é o futuro de um país que substituiu a noção da realização de uma vocação pelo sonho raso de estabilidade...
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Ah como me arrependo de não ter me tornado uma funcionária pública desde a juventude, sombra e agua fresca forever.
ResponderExcluirMeus parabéns pelo teu texto. O povo brasileiro tende muito ao conformismo, uma lástima isso.
ResponderExcluirOlá Élida,
ExcluirBem vinda ao blog!! Grata pelo apoio... Uma pena que apenas uma minoria neste país pense da mesma maneira, não é mesmo??? Apareça sempre!!